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Fim das sanções abrirá
porta para negociação
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Para obter o fim das sanções
econômicas contra o Iraque, os
EUA deverão argumentar que
elas foram estabelecidas contra
um regime que não existe mais e,
logo, não têm mais relevância.
Com esse argumento -mais
político do que legal-, os EUA
tentarão substituir as diversas resoluções adotadas pelo Conselho
de Segurança (CS) da ONU desde
1990 (invasão do Kuait) por uma
nova resolução, que reflita a nova
realidade pós-Saddam Hussein.
Do ponto de vista legal, as sanções só poderiam ser levantadas
depois que o CS, com base em relatórios elaborados por seus inspetores de armas, determinasse
que o Iraque não possui mais armas de destruição em massa.
Mas, para tanto, os inspetores
teriam de retornar a Bagdá e supervisionar a busca por essas armas. E os EUA não estão interessados em abrir mão do controle
sobre as investigações em curso.
Resta saber se os demais membros permanentes (com direito a
veto) do CS da ONU -em especial a França e a Rússia, ferrenhos
opositores da ação militar no Iraque- aceitarão abrir mão das
exigências legais previstas nas resoluções em vigor, entre elas a
comprovação de que o país foi desarmado, em prol do fim das sanções, como querem os EUA.
É até provável que façam isso,
mas cobrarão um preço: aproveitarão a deixa para negociar com
os EUA e o Reino Unido um papel
mais amplo para a ONU no Iraque pós-guerra.
"A Rússia e a França poderão
usar o fato de que os EUA precisam do fim das sanções para fazer
com que o país se comprometa
com um papel político mais
abrangente para a ONU no Iraque
pós-Saddam", disse à Folha a
americana Susan Rice, 38, do Instituto Brookings (Washington),
especialista em relações internacionais no âmbito da ONU.
Assim, a discussão no CS sobre
o fim das sanções deverá resultar
num diálogo mais amplo sobre o
Iraque pós-guerra. "Os outros
membros do CS maximizarão seu
poder de negociação, em vez de
dar aos EUA apenas a parte que
eles querem", disse Rice.
A pesquisadora acha pouco
provável que a França e a Rússia
(e talvez a China) se aferrem às
exigências legais para dificultar o
fim das sanções. Inclusive porque
esses três países tentaram, nos últimos anos, levantar, ou pelo menos flexibilizar, as sanções contra
o Iraque, mesmo sem a comprovação do desarmamento do país.
"Não seria muito efetivo. E acho
que eles têm interesses em questões mais ambiciosas [em relação
ao futuro do Iraque]", diz Rice.
As sanções contra o Iraque foram estabelecidas pela resolução
661 (1990) com o objetivo de pressionar o país a desocupar o Kuait.
Elas impediam totalmente a importação e a exportação de produtos pelo país. A única exceção era a importação de remédios.
Após a Guerra do Golfo (1991),
elas foram mantidas pela resolução 687 até que o Iraque destruísse todas as suas armas de destruição em massa. As sanções, no entanto, tiveram um impacto muito
negativo nos índices sociais iraquianos -mortalidade infantil,
saúde da população, pobreza.
Por esse motivo, a partir de
1996, o Iraque foi autorizado a exportar petróleo para comprar alimentos e outros produtos essenciais, sob supervisão da ONU.
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