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EUROPA
Presidente faz campanha para conter rejeição à Carta, impulsionado por questões internas
Chirac procura salvar a Constituição da UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O presidente Jacques Chirac entrou, na última quinta-feira, na
campanha pela aprovação na
França da Constituição européia,
que será decidida num plebiscito
em 29 de maio. Afirmou que a rejeição da Carta seria um duro golpe na construção européia e
transformaria seu país na "ovelha
negra" do bloco.
O sinal de alerta já fora dado pelo premiê Jean-Pierre Raffarin na
segunda-feira, quando ele disse
que a vitória do "não" na França
"destruiria a casa Europa". O tom
alarmante encontra respaldo nas
pesquisas de opinião. Há um mês,
elas mostram a vitória do "não".
Para especialistas consultados
pela Folha parte dos partidários
do "não" expressa descontentamento com questões domésticas
ou contra a "influência dos burocratas de Bruxelas", a sede da
União Européia.
"Dois pontos são preponderantes nas pesquisas: a "crise social"
que a França atravessa, para uma
parcela significativa da população, e a imagem intervencionista
da UE. O início das negociações
com a Turquia vêm sendo usado
pelos detratores da Carta para inflamar os ânimos", analisou Anne-Marie Le Gloannec, autora de,
entre outros, "Entre Union et Nation: les Etats en Europe".
"Com isso, questões domésticas, como as greves contra a reforma do sistema educacional ou a
deterioração do desemprego
[10%], domina os debates, ofuscando os temas importantes, como a influência do texto constitucional no cotidiano das pessoas.
Os franceses não decidirão se
aceitam ou não a Constituição,
mas decidirão se querem ou não
punir o governo", diz ela.
A apatia das diferentes populações européias em relação ao bloco também inquieta os analistas.
"Segundo uma pesquisa recente
do Eurobarômetro, 43% dos europeus afirmaram que a saída de
seu país da UE lhes seria indiferente, e outros 13% disseram que
isso os deixaria satisfeitos", apontou Michael Kreile, da Universidade Humboldt (Berlim).
"Vemos, portanto, que o caso
francês não é excepcional e que é
preciso fazer um esforço de esclarecimento das conquistas do bloco para que os europeus entendam seu valor. O problema é que
a UE é vista como responsável por
uma série de cortes sociais que
seus membros vêm realizando.
Contudo isso não é verdade, pois
a redução do Estado do Bem-Estar Social europeu é uma decisão
de cada país, não de Bruxelas."
A rejeição da Constituição européia pelos franceses teria, de fato,
um impacto avassalador sobre a
construção européia. "Um "não"
do Reino Unido no ano que vem,
por exemplo, poderia forçar uma
renegociação mínima de algumas
disposições da Carta. Mas o "não"
francês seria terrível, visto que a
França e a Alemanha constituem
o motor da UE e a consulta popular francesa é somente a segunda a
ser realizada", afirmou Kreile.
Com efeito, a Espanha é o único
país em que já houve plebiscito
-o "sim" obteve 76,73% dos votos. Outros oito, além da França,
também deverão fazê-lo. Os outros 15 Estados do bloco só levarão o texto à apreciação do Legislativo, via menos complexa. Em
tese, a Constituição tem de ser
aprovada por todos os 25 membros da UE para entrar em vigor.
Do outro lado do oceano Atlântico, o desfecho da consulta popular francesa interessa aos americanos, já que, se aprovada, a Carta
será mais um passo em direção a
uma Europa mais forte e unida.
"O governo Bush está dividido.
Desde sua reeleição, ele expressa
apoio à UE. Após a rixa diplomática que precedeu a Guerra do Iraque, contudo, parte do governo
americano não ficaria triste se a
Constituição não fosse adotada,
pois isso atrasaria a construção
européia", disse Charles Kupchan, diretor do Council on Foreign Relations, dos EUA.
A construção dessa "Europa
forte" precisa passar pela aprovação da Constituição pelos franceses. Por ora, os neoconservadores
americanos não têm, aparentemente, muito com que se preocupar. Todavia ainda resta um mês e
meio de campanha na França.
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