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Citando Bento 16 ao próprio, Bush pede fim de "ditadura do relativismo"
A bispos, papa diz que questão da pedofilia foi mal administrada pelo clero
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Com os temas mais espinhosos reservados para a reunião
no Salão Oval, o papa Bento 16 e
o presidente dos EUA, George
W. Bush, tentaram mostrar
sintonia às câmeras em discurso proferido no jardim da Casa
Branca na manhã de ontem.
Bush usou expressões e conceitos já mencionados por Bento 16 quando este ainda era cardeal. Em uma das falas, repetiu
a reprovação à "ditadura do relativismo", presente em discurso há alguns anos em que o religioso atacou a flexibilidade de
conceitos de fé para contemplar vontades individuais.
"Aqui na América você encontrará uma nação em que é
bem-vindo o papel da fé na esfera pública", disse o presidente, que, para ilustrar a harmonia entre "fé e razão" nos EUA,
disse que o país é "o mais inovador, criativo e dinâmico" do
planeta e, ao mesmo tempo,
"um dos mais religiosos".
Bush, que é evangélico, defendeu o alinhamento ideológico no conceito de que "toda vida humana é sagrada", em alusão à condenação do aborto.
Após ouvir o presidente com
os ombros caídos e os dedos entrelaçados sobre o colo, o papa,
que celebrava ali seu aniversário de 81 anos, fez coro e, em um
país majoritariamente protestante, estendeu suas congratulações a não-católicos: "Estou
ansioso para encontrar não
apenas a comunidade católica
da América, mas todas as comunidades cristãs e representantes de muitas tradições religiosas presentes neste país".
Ao elogiar a "generosidade"
dos EUA em questões de direitos humanos, como auxílio a vítimas de catástrofes naturais,
Bento 16 também pediu "esforços de paciência na diplomacia
internacional para solucionar
conflitos e promover progresso", o que foi entendido como a
única alusão a uma controvérsia entre as partes -no caso, a
invasão do Iraque em 2003.
Na reunião fechada de Bento
16 e Bush no Salão Oval, o conflito no Iraque apareceu com
todas as letras, entre outras
questões de discordância entre
o Vaticano e Washington.
"O santo padre e o presidente
expressaram esperança por um
fim à violência e por uma solução imediata e abrangente para
as crises que afetam a região",
diz o relato da reunião divulgado pela Casa Branca, que não
detalha o diálogo.
Sobre imigração, o relato diz
que os dois mostraram preocupação "especialmente no tratamento humano" dos imigrantes e no "bem-estar de suas famílias". A Igreja Católica tem
nos Estados Unidos um comitê
de bispos que pede que o governo não puna os estrangeiros ilegais que chegaram ao país para
tentar uma vida melhor.
Bronca
Em reunião com bispos americanos, o papa tocou na questão mais delicada para o episcopado dos EUA: o escândalo de
pedofilia envolvendo padres
católicos, que custou aos cofres
do Vaticano mais de US$ 2 bilhões em indenizações. Para
Bento 16, o clero no país "lidou
muito mal" com a questão em
alguns momentos -são seus
comentários mais críticos em
três anos de pontificado.
Mas o papa questionou também o comportamento da sociedade: "O que significa falar
de proteção à criança quando a
pornografia e a violência podem ser vistas em tantas casas
por meio de uma mídia disponível de forma tão ampla hoje?"
NA INTERNET
www.folha.com.br/081072
Leia a íntegra dos discursos
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