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Carrefour e CNN são alvos na China de onda nacionalista
Governo exige desculpas por fala de comentarista da rede de TV americana, que chamou dirigentes de "capangas"
Corrente eletrônica pede boicote à empresa francesa; para analistas, regime usa animosidade que existe no exterior para ganhar apoio
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Um complô do Ocidente contra a Olimpíada de Pequim e o
crescimento da nova potência é
o assunto que domina a mídia,
chats e blogs na China.
A manchete dos principais
jornais estatais relatava ontem
o pedido de desculpas que o governo exigiu da rede americana
CNN. Ao falar dos protestos no
percurso da tocha olímpica, um
comentarista disse que os chineses "continuavam a ser os
mesmos capangas dos últimos
cinqüenta anos".
O comentarista Jack Cafferty
disse que se referia ao governo,
não ao povo, e a CNN pediu
desculpas "ao povo chinês",
mas o estrago já estava feito.
O celular do repórter da Folha recebeu duas mensagens
pedindo o boicote à rede de supermercados francesa Carrefour. Segundo o torpedo, um
dos seus acionistas, o grupo
LVMH, fez doações ao dalai-lama, que pede a autonomia do
Tibete e é o atual inimigo número um do regime comunista.
Usuários do msn, o serviço de
conversa instantânea da Microsoft, receberam ontem correntes pedindo para digitar (L)
em frente ao nome do usuário.
Ao fazê-lo, um coração vermelho aparece ao lado do nome.
"Coloque o coração vermelho
para demonstrar que você está
do lado da pátria. Ou você é
traidor?", dizem as mensagens.
Segundo analistas ouvidos
pela Folha, há paranóia nacionalista estimulada pelo governo, que encontrou um inimigo
externo para unir a nação. Mas
a animosidade contra a China
no exterior é real -e junta o
desrespeito aos direitos humanos no país ao temor do crescente poder político e econômico chinês.
"Complô"
O detonador para ambos os
lados é a Olimpíada de Pequim,
em agosto, planejada pela direção comunista como um palco
para o país demonstrar seu desenvolvimento. As ameaças de
boicote frustram os planos.
A agência de notícias estatal
Xinhua chamou a presidente
do Congresso americano, a democrata Nancy Pelosi, de "detestável e repugnante", "por se
intrometer em assuntos internos da China e defender a camarilha do dalai-lama".
Em março, protestos no Tibete provocaram uma forte repressão do regime chinês e a
presença de estrangeiros na
Província foi proibida. A mídia
estatal começou a acusar a imprensa ocidental de manipular
informações sobre o que de fato
aconteceu na região isolada,
num "complô contra os Jogos".
Um fórum na internet reuniu
11 mil comentários contra a cobertura do jornal britânico
"The Times". Dezenas deles faziam ameaças de morte à correspondente do diário. O correspondente da CNN também
sofreu ameaças.
Protestos em Londres, Paris
e San Francisco durante o percurso da tocha olímpica foram
mostrados pela mídia estatal
como parte do complô. O governo francês foi acusado de
permissivo com os manifestantes pró-Tibete em Paris.
Um deles tentou arrancar a
tocha de uma atleta paraolímpica - a esgrimista Jin Jing virou heroína instantânea. Foi
quando começaram as campanhas de boicote a produtos
franceses. "Os líderes chineses
vêem uma conspiração contra a
tocha e não entendem que
proibir protestos sempre provoca efeitos políticos piores",
disse à Folha o professor americano Russell Moses, que dá
aulas em Pequim. "Muita gente
achava que a Olimpíada abriria
o regime, mas está acontecendo o contrário."
O professor Dali Yang, diretor do Instituto do Leste Asiático, da Universidade Nacional
de Cingapura, acha que o governo terá que intervir se o nacionalismo sair de controle.
"Essas ações podem colocar
em risco a própria Olimpíada."
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