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Chávez anuncia veto a texto que cita OEA
Em reunião com líderes aliados pré-Cúpula das Américas, ele ataca organização liderada por EUA e que exclui Cuba
Raúl Castro afirma na Venezuela que Havana não voltará à Organização dos Estados Americanos,
fadada a "desaparecer"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
Apesar de a Venezuela já ter
ratificado o documento final, o
presidente Hugo Chávez afirmou ontem que, "junto com
outros países", vetará a declaração final da Cúpula das Américas, que começa hoje em Trinidad e Tobago. Insatisfeito
com a ausência de Cuba do
evento, ele também não teria
concordado com o trecho que
reconhece o "importante papel" da OEA (Organização dos
Estados Americanos) para solução de divergências.
"Não temos grandes expectativas da Cúpula das Américas.
Há uma declaração difícil de assimilar. Está totalmente deslocada no tempo e no espaço, como se o tempo não tivesse passado", disse Chávez, em Cumaná (400 km a leste de Caracas),
onde recebeu os colegas dos
países da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas),
além do paraguaio Fernando
Lugo, que participou como
convidado.
Chávez defendeu que a cúpula de Trinidad "deveria ser a última nesse formato". Em tom
agressivo contra os EUA, disse
que "aqui na América há dois
continentes, o norte e o sul".
O mandatário venezuelano
voltou a defender o regime cubano -a falta de democracia na
ilha foi a justificativa para suspender o país da OEA, em 1962.
"Onde haverá mais democracia, nos EUA ou em Cuba? (...)
Eu não tenho dúvidas, em Cuba
há mais democracia."
Já o presidente cubano, Raúl
Castro, voltou a afirmar que
seu país não quer voltar à OEA
e disse que o organismo multilateral, criado durante a Guerra
Fria sob a liderança dos EUA,
"tem de desaparecer".
Participaram ainda do encontro os presidentes Evo Morales (Bolívia), Daniel Ortega
(Nicarágua), Manuel Zelaya
(Honduras) e o premiê de Dominica, Roosvelt Skerrit.
Dos que compareceram à cúpula da Alba, apenas Raúl não
irá a Trinidad, por causa do status de Cuba na OEA.
O presidente venezuelano
não especificou os pontos do
texto dos quais discorda. Segundo fontes diplomáticas em
Trinidad, Chávez não aceita o
artigo 88 da declaração final,
que diz: "Reconhecemos o importante papel da OEA na solução pacífica de nossas divergências e sua participação na
promoção de uma cultura de
democracia, paz, diálogo e não-violência na região".
Caso a Venezuela ratifique
sua posição em Trinidad, a cúpula deve ficar sem documento
final, já que a declaração é tradicionalmente aprovada por
consenso entre os 34 países.
Nas duas cúpulas anteriores
(Canadá-2001 e Argentina-2005), Chávez já havia ameaçado vetar as declarações finais,
finalmente aprovadas com "reservas" de Caracas.
Líder do antiamericanismo
na região, Chávez deve ter seu
primeiro encontro pessoal hoje
com Barack Obama, que estreia
em cúpulas regionais. Já o venezuelano será o presidente há
mais tempo no poder presente
na cúpula: neste ano, completou dez anos ocupando o Palácio Miraflores.
Atritos
Além do apoio a Cuba com
relação à OEA, a Venezuela tem
tido seus próprios atritos com o
sistema interamericano nos últimos meses, com ao menos
dois incidentes. Em agosto, a
Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), criada
no marco da OEA, mas independente dela, condenou o Estado venezuelano a indenizar e
recontratar três juízes civis. Segundo a decisão, os três foram
destituídos por motivos políticos, em 2003.
Em dezembro, o Tribunal
Supremo de Justiça (TSJ), controlado pelo chavismo, decidiu
que a sentença da CIDH é "inexecutável" ao violar o "princípio de autonomia do Poder Judicial". Recentemente, o governo venezuelano vetou a presença de uma missão da Comissão
Interamericana de Direitos
Humanos da OEA no país, acusando-a de "parcialidade".
Mesmo assim, um relatório
sobre a situação dos direitos
humanos na Venezuela deverá
ser divulgado no segundo semestre deste ano.
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