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Rússia encerra operação na Tchetchênia
Medida deve remover 20 mil militares da região e fortalecer politicamente líder local, aliado do Kremlin
DA REDAÇÃO
A Rússia anunciou ontem o
fim de sua operação de contraterrorismo na Tchetchênia.
Iniciada em 1999, no início da
segunda guerra separatista travada na região de maioria muçulmana nos últimos 15 anos, a
ação russa impunha toques de
recolher, restrições a voos civis
e ao trabalho de jornalistas, entre outras medidas repressoras.
A ordem do presidente Dmitri Medvedev abre caminho para a retirada de cerca de 20 mil
homens do Exército posicionados na república-membro da
Federação Russa, situada no
sudoeste do país. Moscou não
divulga oficialmente o total de
seu contingente na Tchetchênia, mas analistas trabalham
com a cifra de 40 mil militares.
Na praça central da capital
tchetchena, Grozni -cidade
descrita pela ONU como "a
mais destruída do mundo" em
2004, mas que desde então passa por um processo de reconstrução-, as pessoas ontem celebravam com bandeiras da
Rússia e da Tchetchênia.
Entre os que festejavam dançando estava Ramzan Kadyrov,
o presidente tchetcheno. Ex-ativista pela separação e atualmente respaldado pelo Kremlin, é ele quem mais deverá lucrar com o fim da operação russa de contraterrorismo.
"É uma vitória sobre o mal,
que combatemos nos últimos
15 anos", declarou ele. "Uma
pacífica e próspera república
tchetchena na família unida
dos povos da Rússia é o nosso
rumo estratégico no futuro."
Kadyrov disse que o aeroporto de Grozni logo será aberto
para voos e comércio internacionais -o que, segundo ele,
ajudará a atrair investimentos
de países árabes e europeus.
O crédito por atrair investimento russo para a reconstrução de Grozni e por controlar a
militância separatista -cooptando antigos ativistas a ingressarem em suas temidas equipes
de segurança- fez crescer a popularidade do tchetcheno.
Entretanto, a Tchetchênia
permanece apontada por entidades humanitárias como palco de abusos. A milícia de Kadyrov é acusada de sequestro, tortura e assassinato.
"Divisor de águas"
Para a Anistia Internacional
(AI), a decisão de ontem deve
ser seguida de investigação independente de violações cometidas por russos e tchetchenos.
"O verdadeiro divisor de
águas do retorno à normalidade é dar às pessoas o que esperam por mais de uma década:
elas querem a verdade e justiça.
Elas querem saber o paradeiro
de amigos e parentes desaparecidos e que os responsáveis sejam identificados e punidos",
declarou Irene Khan, secretária-geral da AI.
Ela não foi a única a receber
com reservas o anúncio de ontem. Arkady Babchenko, ex-soldado russo, veterano das
duas Guerras da Tchetchênia e
autor de um livro sobre as atrocidades cometidas nos confrontos que deixaram cerca de
100 mil mortos, escreveu no
britânico "Guardian" que o fim
da operação "é puramente uma
jogada populista".
"Significa só uma coisa: que o
Kremlin coroou Kadyrov para
reinar na região e deu a ele plena liberdade como o mestre da
Tchetchênia, um lugar onde
uma coisa já está bem clara, sua
palavra é a lei", declarou Babchenko, para quem o líder
tchetcheno não deixa aos que
discordam dele outra alternativa além de pegar armas e conspirar nas montanhas.
Com agências internacionais
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