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Isolamento atrasa ajuda a vítimas na China
Região de Jiegu, cidade mais atingida pelo tremor de quarta na Província de Qinghai, é uma das mais despovoadas do país
Reportagem levou 16 horas para chegar ao local a partir de metrópole mais próxima; vítimas do sismo chegam a 1.144, e os feridos, a 11.477
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A JIEGU (CHINA)
A região de Jiegu (Província
de Qinghai), a cidade mais atingida pelo tremor de quarta-feira na China, é uma das mais
despovoadas do país. A metrópole mais próxima, Xining, está
a cerca de 800 km de distância.
A reportagem da Folha levou
16 horas para cobrir o percurso.
A estrada, quase sempre em
perfeitas condições, contrastava com a pecuária pastoril de
iaques e ovelhas, típicas do platô tibetano, marcado pela altitude acima dos 4.000 metros e
pelas temperaturas que roçam
0C à noite nesta época do ano.
No trajeto, centenas de caminhões congestionavam partes
da rodovia, rumo à área atingida. A impressionante mobilização incluía escavadeiras, tropas
militares, geradores de eletricidade e ainda doações de empresas, identificadas com faixas. A Folha chegou a Jiegu às
5h locais de hoje.
Com a cidade às escuras e a
temperatura em 0C, as ruas
estavam vazias, salvo por alguns carros e caminhões esporádicos. Em certas partes da cidade, dezenas de barracas abrigavam refugiados, jornalistas e
militares, mas a maioria dos
desabrigados preferiu fugir para as áreas rurais.
Embora sem energia e com
problemas no fornecimento de
água, o celular funciona normalmente -este texto foi escrito e enviado de um smartphone. Ainda que fora do território autônomo do Tibete, 97%
da população de 100 mil habitantes dessa parte de Quinghai,
chamada Distrito Autônomo
de Yushu, são dessa etnia.
Balanço
O número oficial de mortos
confirmados subiu ontem para
1.144 -contra os 825 registrados até a véspera-, segundo a
agência de notícias estatal Xinhua. A cifra, porém, deve aumentar nos próximos dias: 417
pessoas continuavam desaparecidas ontem à noite, e 1.174
dos 11.477 feridos eram considerados em "estado grave".
Em Jiegu, equipes de resgate
se apressavam ontem para encontrar e resgatar sobreviventes do sismo -de magnitude
6,9, segundo os EUA, e 7,1, segundo Pequim-, à medida que
se esgotava o período das primeiras 72 horas, considerado
crítico para socorrer vítimas.
Em condições menos adversas, pessoas presas sob os escombros podem resistir até por
mais tempo, mas na região da
Província de Qinghai (noroeste
chinês) os trabalhos de resgate
são seriamente comprometidos pelas rigorosas condições
climáticas, com temperaturas
abaixo de zero, e difícil acesso,
sobretudo a Jiegu, localizada
em uma cadeia de montanhas.
Ainda ontem, socorristas
tentavam resgatar sobreviventes removendo escombros com
as mãos. Mas, segundo o porta-voz das equipes, Xia Xueping, já
haviam chegado ao local os primeiros equipamentos, embora
em número ainda insuficiente.
De acordo com a TV estatal,
40 mil tendas deveriam chegar
à região até hoje, permitindo o
abrigo para todos os atingidos
pelo terremoto. Estima-se que
entre 70% e 90% das construções, na maioria feitas de tijolo
e barro, tenham desmoronado.
Entre as vítimas do sismo estão também 65 moradores da
vizinha Província de Sichuan,
que em 2008 fora palco de terremoto que matou 90 mil pessoas. Estão também entre os
mortos ao menos 66 crianças e
dez professores soterrados por
escolas desabadas -ocorrência
que, em Sichuan, provocara
forte revolta de pais contra a
má qualidade de construções.
O premiê da China, Wen Jiabao, em Jiegu desde anteontem, disse que "o desastre de
vocês é o nosso desastre, seu
sofrimento é o nosso sofrimento". Já o dirigente chinês Hu
Jintao retornou ontem ao país,
interrompendo uma viagem ao
Brasil e cancelando visitas a outros países da América do Sul.
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