São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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Isolamento atrasa ajuda a vítimas na China

Região de Jiegu, cidade mais atingida pelo tremor de quarta na Província de Qinghai, é uma das mais despovoadas do país

Reportagem levou 16 horas para chegar ao local a partir de metrópole mais próxima; vítimas do sismo chegam a 1.144, e os feridos, a 11.477


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A JIEGU (CHINA)

A região de Jiegu (Província de Qinghai), a cidade mais atingida pelo tremor de quarta-feira na China, é uma das mais despovoadas do país. A metrópole mais próxima, Xining, está a cerca de 800 km de distância.
A reportagem da Folha levou 16 horas para cobrir o percurso. A estrada, quase sempre em perfeitas condições, contrastava com a pecuária pastoril de iaques e ovelhas, típicas do platô tibetano, marcado pela altitude acima dos 4.000 metros e pelas temperaturas que roçam 0C à noite nesta época do ano.
No trajeto, centenas de caminhões congestionavam partes da rodovia, rumo à área atingida. A impressionante mobilização incluía escavadeiras, tropas militares, geradores de eletricidade e ainda doações de empresas, identificadas com faixas. A Folha chegou a Jiegu às 5h locais de hoje.
Com a cidade às escuras e a temperatura em 0C, as ruas estavam vazias, salvo por alguns carros e caminhões esporádicos. Em certas partes da cidade, dezenas de barracas abrigavam refugiados, jornalistas e militares, mas a maioria dos desabrigados preferiu fugir para as áreas rurais.
Embora sem energia e com problemas no fornecimento de água, o celular funciona normalmente -este texto foi escrito e enviado de um smartphone. Ainda que fora do território autônomo do Tibete, 97% da população de 100 mil habitantes dessa parte de Quinghai, chamada Distrito Autônomo de Yushu, são dessa etnia.

Balanço
O número oficial de mortos confirmados subiu ontem para 1.144 -contra os 825 registrados até a véspera-, segundo a agência de notícias estatal Xinhua. A cifra, porém, deve aumentar nos próximos dias: 417 pessoas continuavam desaparecidas ontem à noite, e 1.174 dos 11.477 feridos eram considerados em "estado grave".
Em Jiegu, equipes de resgate se apressavam ontem para encontrar e resgatar sobreviventes do sismo -de magnitude 6,9, segundo os EUA, e 7,1, segundo Pequim-, à medida que se esgotava o período das primeiras 72 horas, considerado crítico para socorrer vítimas.
Em condições menos adversas, pessoas presas sob os escombros podem resistir até por mais tempo, mas na região da Província de Qinghai (noroeste chinês) os trabalhos de resgate são seriamente comprometidos pelas rigorosas condições climáticas, com temperaturas abaixo de zero, e difícil acesso, sobretudo a Jiegu, localizada em uma cadeia de montanhas.
Ainda ontem, socorristas tentavam resgatar sobreviventes removendo escombros com as mãos. Mas, segundo o porta-voz das equipes, Xia Xueping, já haviam chegado ao local os primeiros equipamentos, embora em número ainda insuficiente.
De acordo com a TV estatal, 40 mil tendas deveriam chegar à região até hoje, permitindo o abrigo para todos os atingidos pelo terremoto. Estima-se que entre 70% e 90% das construções, na maioria feitas de tijolo e barro, tenham desmoronado.
Entre as vítimas do sismo estão também 65 moradores da vizinha Província de Sichuan, que em 2008 fora palco de terremoto que matou 90 mil pessoas. Estão também entre os mortos ao menos 66 crianças e dez professores soterrados por escolas desabadas -ocorrência que, em Sichuan, provocara forte revolta de pais contra a má qualidade de construções.
O premiê da China, Wen Jiabao, em Jiegu desde anteontem, disse que "o desastre de vocês é o nosso desastre, seu sofrimento é o nosso sofrimento". Já o dirigente chinês Hu Jintao retornou ontem ao país, interrompendo uma viagem ao Brasil e cancelando visitas a outros países da América do Sul.


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