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Ainda não há indício de falha de Bush, diz analista
RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO
"Certamente não fomos capazes
de colocar juntas as peças desse
quebra-cabeças, mas ainda não
há indícios de que o presidente tenha negligenciado a segurança
nacional", afirma Peter F. McCormick, cientista político da Universidade de Nova York (EUA).
"O que deve ser a questão crucial dos próximos dias é: era possível ligar os pontos? Ora, se era,
onde foi a falha? Aí o presidente
terá de dar explicações."
A atuação presidencial é exatamente a dúvida levantada pelo líder democrata na Câmara, Richard Gephardt: "As autoridades
não trabalharam da maneira
apropriada? É isso que precisamos descobrir".
"Havia já muitas informações
antes de 11 de setembro. Saber
disso e não ter tomado providências drásticas pode, politicamente, dar um aspecto de incompetência ao governo Bush", completa McCormick.
Alguns congressistas sustentam
que havia informações que, mesmo sozinhas, já dariam razão a
ações governamentais mais efetivas do que as tomadas por Bush
-o presidente afirma que alertou
os órgãos de segurança aérea
quando informado de possíveis
planos de sequestro de aeronaves.
McCormick, por outro lado,
sustenta que houve, principalmente, uma descontinuidade na
troca de informações dos serviços
de inteligência: "O ponto fraco da
cadeia de informações parece ter
sido mesmo a falta de intercâmbio e de centralização. Faltou uma
direção central. Talvez isso possa
ser computado de imediato negativamente ao presidente Bush".
Para ele, o próprio tamanho do
esforço antiterrorista pós-setembro pode ter "jogado contra" os
serviços de inteligência.
Segundo Anthony Cordesman,
professor de estudos sobre segurança nacional na Universidade
Georgetown e pesquisador do
CSIS (Center for Strategic and International Studies), 41 departamentos e agências federais foram
direcionados para investigação e
prevenção a terrorismo depois
dos atentados de 11 de setembro.
Só o FBI (Birô Federal de Investigação), uma das 32 agências federais que tem como responsabilidade a manutenção da lei, tem 11
mil agentes especiais e 16 mil funcionários de apoio. Baseado em
Washington, o birô tem 56 escritórios regionais e aproximadamente 400 escritórios-satélite
(onde há apenas um agente).
Além disso, há 40 agentes em
postos no exterior com a categoria diplomática de adido legal.
O diretor-geral do FBI, Robert
Mueller, já foi obrigado a reconhecer que falhou na análise dos
dados e propôs a criação de um
"Escritório de Inteligência". A
CIA (Agência Central de Inteligência), por sua vez, não trabalha
em missões dentro das fronteiras
dos EUA.
Próximo problema de Bush
McCormick afirma que as investigações já iniciadas no Congresso devem levar em conta
"mais o fator político do que o
técnico e administrativo, pois há
sempre a necessidade de botar a
culpa em alguém".
Estudando os problemas advindos da formação de um orçamento para esse esforço, o professor
Cordesman acaba levantando
pontos importantes ainda não resolvidos pela "administração central antiterror".
O primeiro é de que o esforço
antiterror colocou uma grande
máquina em andamento, mas
uma máquina complexa.
O professor afirma, num artigo
recém-divulgado pelo CSIS, que
não há papel definido para o governo federal num planejamento
global da distribuição de recursos.
"E aí está o próximo problema
de Bush. Parece ter acabado a boa
vontade suprapartidária que se
seguiu aos atentados. Uma arma
que o Congresso usará é a capacidade de segurar o fluxo de dinheiro. Vão fechar as torneiras até que todas as perguntas sejam respondidas", completa McCormick.
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