São Paulo, quinta-feira, 17 de maio de 2007

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Em posse, Sarkozy evoca jovem mártir comunista

Com atitude, novo presidente francês, conservador, busca simpatia da esquerda

Sarkozy concluiu o primeiro dia como chefe de Estado com viagem a Berlim, onde pediu que União Européia "saia de sua atual paralisia"

DA REDAÇÃO

Nicolas Sarkozy, 52, surpreendeu ontem os franceses ao afirmar, durante a cerimônia de sua posse como presidente da República, que pediria ao próximo ministro da Educação que tornasse obrigatória a leitura anual, nas escolas, da carta de despedida do jovem comunista Guy Môquet, fuzilado por militares nazistas, em outubro de 1941.
A afirmação foi feita durante cerimônia em homenagem aos mártires da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial.
Em breve discurso, Sarkozy -eleito por uma coligação de direita, da qual os comunistas foram fortes adversários- qualificou Môquet de "um dos resistentes para os quais a França era mais valiosa que seu partido ou sua religião".
Ao final da posse, Sarkozy embarcou para Berlim, onde se avistou com a chanceler Angela Merkel, que exerce a presidência rotativa da União Européia.
A secretária nacional do Partido Comunista Francês, Marie-George Buffet -candidata presidencial com menos de 2% dos votos no primeiro turno de 22 de abril- publicou declaração em que elogia a decisão do presidente sobre Môquet.
Hoje nome de estação de metrô parisiense e de ruas em dezenas de cidades francesas, Môquet era filho de um deputado comunista. Filiado à clandestina Juventude Comunista, foi preso ao distribuir panfletos da Resistência e fuzilado com apenas 17 anos em companhia de 27 outros jovens, em represália ao assassinato, em Paris, de um oficial do 3º Reich.

Protocolo de posse
Sarkozy chegou às 10h58 (5h58, hora de Brasília) no palácio presidencial, escoltado por motociclistas militares. Foi recebido à entrada pelo ainda presidente Jacques Chirac, a partir de agora integrante do Conselho Constitucional (espécie de Supremo francês), como todo ex-presidente, e de quem se exige apartidarismo.
Fechou-se com Chirac no gabinete presidencial por meia hora, recebendo o código de disparo do arsenal nuclear francês e outros documentos considerados sigilosos.
Acompanhou em seguida Chirac até a saída, despediu-se dele sem abraços efusivos -os dois políticos têm um passado de afeto e conflitos- e, já no salão nobre do palácio presidencial, ouviu a leitura da ata de sua eleição no segundo turno do último dia 6, assinou-a, fez um breve discurso e cumprimentou seus convidados.
Pouco depois do meio-dia o já presidente subiu a avenida dos Champs Elysées em carro aberto. Depositou uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, um herói não identificado da Primeira Guerra, debaixo do Arco do Triunfo.
Desceu novamente em carro conversível o mais famoso bulevar de Paris e depositou outras coroas de flores nas estátuas do primeiro-ministro Georges Clemenceau (1841-1929) e do presidente Charles de Gaulle (1890-1970). Rumou ao bosque de Boulogne, onde homenageou a Resistência.

Em Berlim
Há pouco mais de 50 anos o eixo Paris-Berlim é visto como fundamental para a construção do bloco europeu. Na capital alemã, antes da audiência com a chanceler Angela Merkel, Sarkozy lançou um apelo para que o bloco "saia de sua atual paralisia", provocada pela rejeição, em plebiscitos na França e Holanda, do projeto de Constituição européia.
Afirmou que, "para a França, a amizade franco-alemã é sagrada e que nada, em absoluto, poderá colocá-la em xeque".


Com agências internacionais


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