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Em posse, Sarkozy evoca jovem mártir comunista
Com atitude, novo presidente francês, conservador, busca simpatia da esquerda
Sarkozy concluiu o primeiro
dia como chefe de Estado
com viagem a Berlim, onde
pediu que União Européia
"saia de sua atual paralisia"
DA REDAÇÃO
Nicolas Sarkozy, 52, surpreendeu ontem os franceses
ao afirmar, durante a cerimônia de sua posse como presidente da República, que pediria
ao próximo ministro da Educação que tornasse obrigatória a
leitura anual, nas escolas, da
carta de despedida do jovem
comunista Guy Môquet, fuzilado por militares nazistas, em
outubro de 1941.
A afirmação foi feita durante
cerimônia em homenagem aos
mártires da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial.
Em breve discurso, Sarkozy
-eleito por uma coligação de
direita, da qual os comunistas
foram fortes adversários- qualificou Môquet de "um dos resistentes para os quais a França
era mais valiosa que seu partido ou sua religião".
Ao final da posse, Sarkozy
embarcou para Berlim, onde se
avistou com a chanceler Angela
Merkel, que exerce a presidência rotativa da União Européia.
A secretária nacional do Partido Comunista Francês, Marie-George Buffet -candidata
presidencial com menos de 2%
dos votos no primeiro turno de
22 de abril- publicou declaração em que elogia a decisão do
presidente sobre Môquet.
Hoje nome de estação de metrô parisiense e de ruas em dezenas de cidades francesas,
Môquet era filho de um deputado comunista. Filiado à clandestina Juventude Comunista,
foi preso ao distribuir panfletos
da Resistência e fuzilado com
apenas 17 anos em companhia
de 27 outros jovens, em represália ao assassinato, em Paris,
de um oficial do 3º Reich.
Protocolo de posse
Sarkozy chegou às 10h58
(5h58, hora de Brasília) no palácio presidencial, escoltado
por motociclistas militares. Foi
recebido à entrada pelo ainda
presidente Jacques Chirac, a
partir de agora integrante do
Conselho Constitucional (espécie de Supremo francês), como todo ex-presidente, e de
quem se exige apartidarismo.
Fechou-se com Chirac no gabinete presidencial por meia
hora, recebendo o código de
disparo do arsenal nuclear
francês e outros documentos
considerados sigilosos.
Acompanhou em seguida
Chirac até a saída, despediu-se
dele sem abraços efusivos -os
dois políticos têm um passado
de afeto e conflitos- e, já no salão nobre do palácio presidencial, ouviu a leitura da ata de
sua eleição no segundo turno
do último dia 6, assinou-a, fez
um breve discurso e cumprimentou seus convidados.
Pouco depois do meio-dia o
já presidente subiu a avenida
dos Champs Elysées em carro
aberto. Depositou uma coroa
de flores no túmulo do soldado
desconhecido, um herói não
identificado da Primeira Guerra, debaixo do Arco do Triunfo.
Desceu novamente em carro
conversível o mais famoso bulevar de Paris e depositou outras coroas de flores nas estátuas do primeiro-ministro
Georges Clemenceau (1841-1929) e do presidente Charles
de Gaulle (1890-1970). Rumou
ao bosque de Boulogne, onde
homenageou a Resistência.
Em Berlim
Há pouco mais de 50 anos o
eixo Paris-Berlim é visto como
fundamental para a construção
do bloco europeu. Na capital
alemã, antes da audiência com
a chanceler Angela Merkel,
Sarkozy lançou um apelo para
que o bloco "saia de sua atual
paralisia", provocada pela rejeição, em plebiscitos na França e Holanda, do projeto de
Constituição européia.
Afirmou que, "para a França,
a amizade franco-alemã é sagrada e que nada, em absoluto,
poderá colocá-la em xeque".
Com agências internacionais
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