São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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ELEIÇÕES NA FRANÇA

Em segundo turno com abstenção de 39,3%, legislativa dava ao centro-direita 382 dos 577 deputados

Aliados de Chirac têm vitória estrondosa

Reuters
O presidente da França, Jacques Chirac, e sua mulher, Bernadette, deixam local de votação em Sarran, na região central da França


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS


O centro-direita obteve ontem uma vitória maciça no segundo turno das eleições legislativas francesas, que bateram o recorde histórico de abstenção. Segundo resultados divulgados pouco depois das 24h (19h, em Brasília), o bloco já tinha assegurados à meia-noite 382 dos 577 deputados da Assembléia Nacional. Deixaram de votar 39,3% dos eleitores.
A vitória confirma a maioria parlamentar para o presidente Jacques Chirac, 69, que exercerá seu mandato de cinco anos com enorme legitimidade política. Sozinho, o seu partido, a UMP (União pela Maioria Parlamentar), conseguiu eleger 346 cadeiras, mais que a maioria absoluta da Assembléia (289 deputados).
A esquerda sai bem derrotada. Das 319 cadeiras que tinha, estava à meia-noite com a certeza de preservar apenas 161. Robert Hué, secretário-geral do Partido Comunista, foi derrotado em seu distrito nas imediações de Paris.
A Frente Nacional, de extrema direita, não fez nenhum deputado. O sistema distrital impossibilita ou dificulta a representação parlamentar das minorias.
Os resultados não chegaram a surpreender os franceses. O que espantou o país foi a imensa abstenção, a maior desde 1958.
A abstenção se deve ao desinteresse pela política dos partidos tradicionais, à pouca empatia da população com a campanha eleitoral e ao conformismo com os resultados previstos.
"O projeto de Jacques Chirac ganhou sua maioria", afirmou o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, após os primeiros resultados. Essa maioria lhe dá ampla liberdade de governo, mas "a oposição será evidentemente e naturalmente respeitada".
Chirac foi reeleito à Presidência em 5 de maio, com 82,2% dos votos, inclusive da esquerda, que o apoiou contra o candidato de extrema direita, Jean-Marie le Pen. No dia seguinte ele fez de Raffarin seu primeiro-ministro, optando por um líder político regional, distanciado do establishment parisiense. Segundo o instituto CSA, 71% dos franceses querem que Raffarin seja mantido no cargo. Entre os dois turnos da eleição presidencial, Chirac criou o UMP, megapartido que reuniu três grupos de centro-direita para enfrentar as legislativas.
"A direita, que queria deter todos os poderes, agora tem todas as responsabilidades", declarou o primeiro-secretário do Partido Socialista, François Hollande. Ele pediu que o centro-direita resista às "tentações da regressão social, do autoritarismo e da partidarização do Estado".
Hollande caracterizou os socialistas como sendo agora "a principal força de oposição". Para o ex-ministro da Economia Laurent Fabius (socialista), "a dominância é azul, mas a resistência será rosa". Azul é a cor do centro-direita, e rosa, dos socialistas. "A esquerda deve refletir, reconstruir-se e se reunir", disse Fabius.
"A derrota foi pesada", sintetizou o ex-ministro socialista da Economia Dominique Strauss-Kahn. Para a corrente, as eleições demonstraram a necessidade de pensar na reorganização e união da esquerda no país.
"Por que a esquerda perdeu a confiança de uma parte das classes populares e da juventude?", perguntou o ex-ministro da Educação Jack Lang (socialista). "Nós precisamos de uma profunda metamorfose, de uma verdadeira revolução intelectual. Creio que a esquerda tem tendência às vezes a ser demasiadamente conformista, tecnocrática e distante."
Lang, Laurent Fabius e François Hollande conseguiram se reeleger ontem. Mas vários ex-ministros do governo de Lionel Jospin e líderes de esquerda se deram mal nas eleições, entre eles Jean-Pierre Chevènement, presidente do Pólo Republicano (PR).



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