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Maré antiesquerda sobe em toda a Europa
DA REPORTAGEM LOCAL
São muitos os motivos para as
sucessivas vitórias eleitorais do
centro-direita na Europa. Ao lado
de fatores locais, os governos de
centro-esquerda perdem eleitores
porque não conseguem mais financiar os programas sociais para
os quais foram eleitos.
Há o baixo crescimento ou a estagnação econômica, com menor
volume de impostos arrecadados.
Mas agora é impossível governar
com elevado déficit fiscal.
O euro, moeda comum implantada em definitivo este ano, impõe disciplina nas finanças. Ninguém pode gastar muito mais que
arrecada.
A Alemanha, onde os sociais-democratas estão mal posicionados para as legislativas de setembro, chegou a ser advertida pelo
BC Europeu, porque o chanceler
Gerhard Schröder tentou superar
a margem permitida para o seu
déficit fiscal.
Paralelamente, formas mais ou
menos explícitas de xenofobia,
antes politicamente incorretas,
agora passam a ser defendidas
por partidos conservadores tradicionais, que vêem na população
imigrante concorrência na mão-de-obra e ameaça para manter a
identidade cultural.
No caso da França e da previsível vitória ontem do centro-direita, há algumas ressalvas.
Em três outras eleições legislativas da 5ª República o país registrou a vitória humilhante de um
bloco político sobre o outro.
Em 1968 o centro-direita do
presidente De Gaulle, como reação às barricadas estudantis de
maio daquele ano, elegeu 358 deputados, contra apenas 91 para as
esquerdas. Novo contraste ocorreria em 1981. François Mitterrand, recém-eleito, deu à esquerda uma euforia mudancista. Ela
fez 333 deputados, e a direita, 158.
Em 1993, com a crise de credibilidade e acusações de corrupção
que se abateram sobre o establishment socialista, a direita preencheu 472 cadeiras. A esquerda ficou apenas com 91.
Mas esquerda e direita mudaram gradativamente de perfil. No
confronto politicamente mais
contrastado, o de 1978, socialistas
e comunistas estavam unidos por
um "programa comum" que previa a estatização dos bancos e de
outros setores da economia.
O centro-direita venceu ao defender a economia de mercado.
Elegeu 272 deputados, contra 200
socialistas ou comunistas.
Em 1997, quando a esquerda levou a melhor (319 deputados,
contra 253 para a direita), as discussões já eram bem outras. As
instituições européias exigiam a
privatização (bancos, montadoras de automóvel) para que determinado Estado não praticasse em
seu território concorrência desleal contra empresas privadas sediadas em outro Estado.
(JOÃO BATISTA NATALI)
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