São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Maré antiesquerda sobe em toda a Europa

DA REPORTAGEM LOCAL

São muitos os motivos para as sucessivas vitórias eleitorais do centro-direita na Europa. Ao lado de fatores locais, os governos de centro-esquerda perdem eleitores porque não conseguem mais financiar os programas sociais para os quais foram eleitos.
Há o baixo crescimento ou a estagnação econômica, com menor volume de impostos arrecadados. Mas agora é impossível governar com elevado déficit fiscal.
O euro, moeda comum implantada em definitivo este ano, impõe disciplina nas finanças. Ninguém pode gastar muito mais que arrecada.
A Alemanha, onde os sociais-democratas estão mal posicionados para as legislativas de setembro, chegou a ser advertida pelo BC Europeu, porque o chanceler Gerhard Schröder tentou superar a margem permitida para o seu déficit fiscal.
Paralelamente, formas mais ou menos explícitas de xenofobia, antes politicamente incorretas, agora passam a ser defendidas por partidos conservadores tradicionais, que vêem na população imigrante concorrência na mão-de-obra e ameaça para manter a identidade cultural.
No caso da França e da previsível vitória ontem do centro-direita, há algumas ressalvas.
Em três outras eleições legislativas da 5ª República o país registrou a vitória humilhante de um bloco político sobre o outro.
Em 1968 o centro-direita do presidente De Gaulle, como reação às barricadas estudantis de maio daquele ano, elegeu 358 deputados, contra apenas 91 para as esquerdas. Novo contraste ocorreria em 1981. François Mitterrand, recém-eleito, deu à esquerda uma euforia mudancista. Ela fez 333 deputados, e a direita, 158.
Em 1993, com a crise de credibilidade e acusações de corrupção que se abateram sobre o establishment socialista, a direita preencheu 472 cadeiras. A esquerda ficou apenas com 91.
Mas esquerda e direita mudaram gradativamente de perfil. No confronto politicamente mais contrastado, o de 1978, socialistas e comunistas estavam unidos por um "programa comum" que previa a estatização dos bancos e de outros setores da economia.
O centro-direita venceu ao defender a economia de mercado. Elegeu 272 deputados, contra 200 socialistas ou comunistas.
Em 1997, quando a esquerda levou a melhor (319 deputados, contra 253 para a direita), as discussões já eram bem outras. As instituições européias exigiam a privatização (bancos, montadoras de automóvel) para que determinado Estado não praticasse em seu território concorrência desleal contra empresas privadas sediadas em outro Estado.
(JOÃO BATISTA NATALI)


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