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Para analista,
direita tem
chance histórica
DE PARIS
Sem precisar se preocupar
com a reeleição e com maioria parlamentar, o presidente Jacques Chirac estará mais
livre e terá uma chance histórica neste segundo mandato de aplicar o programa
sobre o qual foi eleito, segundo o cientista político
Dominique Colas, professor
do Instituto de Estudos Políticos (IEP), de Paris. Leia trechos da entrevista.
(ALN)
Folha - Por que os franceses
votaram majoritariamente
na direita nas legislativas?
Dominique Colas - A esquerda foi vítima de seu próprio discurso. Durante meses, na campanha presidencial, criticou de maneira
constante a coabitação política, a partir da idéia de que,
se o candidato socialista fosse eleito, ele teria que ter
uma maioria de esquerda na
Assembléia. Há certa lógica
nessa idéia, e os franceses
deram agora o seu voto à direita. Os resultados, porém,
indicam mais uma retração
da esquerda do que uma verdadeira expansão da direita.
Houve uma abstenção da esquerda, que prejudicou sobretudo o Partido Comunista e os Verdes.
Folha - Como explicar uma
abstenção tão elevada?
Colas - A abstenção é maior
do que indicam os números.
Há cerca de 5% a 6% de eleitores que não se inscreveram. Existe na abstenção um
elemento irracional: não votaram os eleitores que consideraram que não modificariam a vitória maciça da direita. Isso ocorreu com os da
extrema direita e com a extrema esquerda.
Folha - Qual é agora o poder
efetivo de Jacques Chirac?
Colas - É uma situação
comparável à de Charles de
Gaulle. As grandes instâncias de regulação política na
França serão geridas pela direita -o Senado, a Assembléia Nacional e o Conselho
Constitucional. Chirac fez
uma carreira muito rápida e
brilhante, mas também se
caracterizou por uma grande capacidade de modificar
suas orientações ideológicas.
Este será o seu último mandato e ele não estará preocupado com a reeleição, o que
lhe dará uma certa liberdade. Agora, ele vai tentar utilizar todo o seu poder e aplicar o programa sobre o qual
foi eleito. A direita tem uma
chance histórica na França,
porque ela está suficientemente forte e não precisará
flertar com a extrema direita, que se encontra de qualquer forma marginalizada.
Folha - Por que a esquerda
se retraiu? Há uma crise dessa
corrente na Europa, já que a
direita tem ganho?
Colas - Há desde os anos 80
um movimento geral da opinião pública no sentido de
abandonar valores de esquerda que fizeram a sua
identidade depois da Segunda Guerra. Mas há na França
uma especificidade -um
núcleo duro, limitado em
seu número, capaz de mobilizar de maneira relativamente eficaz a esquerda radical, não quero dizer extremista, contra certos efeitos
da globalização da economia
e dos hábitos culturais. De
forma que não se deve dizer
que a direita tem a hegemonia, nem que é real o luto em
que a esquerda entrou.
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