São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Para analista, direita tem chance histórica

DE PARIS

Sem precisar se preocupar com a reeleição e com maioria parlamentar, o presidente Jacques Chirac estará mais livre e terá uma chance histórica neste segundo mandato de aplicar o programa sobre o qual foi eleito, segundo o cientista político Dominique Colas, professor do Instituto de Estudos Políticos (IEP), de Paris. Leia trechos da entrevista. (ALN)

Folha - Por que os franceses votaram majoritariamente na direita nas legislativas?
Dominique Colas -
A esquerda foi vítima de seu próprio discurso. Durante meses, na campanha presidencial, criticou de maneira constante a coabitação política, a partir da idéia de que, se o candidato socialista fosse eleito, ele teria que ter uma maioria de esquerda na Assembléia. Há certa lógica nessa idéia, e os franceses deram agora o seu voto à direita. Os resultados, porém, indicam mais uma retração da esquerda do que uma verdadeira expansão da direita. Houve uma abstenção da esquerda, que prejudicou sobretudo o Partido Comunista e os Verdes.

Folha - Como explicar uma abstenção tão elevada?
Colas -
A abstenção é maior do que indicam os números. Há cerca de 5% a 6% de eleitores que não se inscreveram. Existe na abstenção um elemento irracional: não votaram os eleitores que consideraram que não modificariam a vitória maciça da direita. Isso ocorreu com os da extrema direita e com a extrema esquerda.

Folha - Qual é agora o poder efetivo de Jacques Chirac?
Colas -
É uma situação comparável à de Charles de Gaulle. As grandes instâncias de regulação política na França serão geridas pela direita -o Senado, a Assembléia Nacional e o Conselho Constitucional. Chirac fez uma carreira muito rápida e brilhante, mas também se caracterizou por uma grande capacidade de modificar suas orientações ideológicas. Este será o seu último mandato e ele não estará preocupado com a reeleição, o que lhe dará uma certa liberdade. Agora, ele vai tentar utilizar todo o seu poder e aplicar o programa sobre o qual foi eleito. A direita tem uma chance histórica na França, porque ela está suficientemente forte e não precisará flertar com a extrema direita, que se encontra de qualquer forma marginalizada.

Folha - Por que a esquerda se retraiu? Há uma crise dessa corrente na Europa, já que a direita tem ganho?
Colas -
Há desde os anos 80 um movimento geral da opinião pública no sentido de abandonar valores de esquerda que fizeram a sua identidade depois da Segunda Guerra. Mas há na França uma especificidade -um núcleo duro, limitado em seu número, capaz de mobilizar de maneira relativamente eficaz a esquerda radical, não quero dizer extremista, contra certos efeitos da globalização da economia e dos hábitos culturais. De forma que não se deve dizer que a direita tem a hegemonia, nem que é real o luto em que a esquerda entrou.




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