São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Colonos judeus e extrema direita israelense criticam ação; palestinos dizem que construção é sinal de apartheid

Israel começa a erguer cerca na Cisjordânia

PHIL REEVES
DO "INDEPENDENT"

O governo de Israel deu início ontem formalmente aos trabalhos de construção dos primeiros quilômetros de uma cerca que irá dividir Israel do norte da Cisjordânia. Prevista para ter 121 km, a cerca está causando críticas de colonos judeus, da extrema direita israelense e dos moradores palestinos dos territórios ocupados pelos israelenses.
Tratores israelenses já retiravam terra de uma junção perto de Afula, a partir de onde a cerca irá se estender em direção ao sul, buscando, segundo o governo, frustrar as tentativas de suicidas palestinos de se infiltrarem em Israel e atacar seus civis.
Israel espera que a cerca isole quatro grandes cidades palestinas da Cisjordânia -Jenin, Tulkarem, Qalqilya e Nablus. Elas demonstraram ser um foco de resistência violenta contra a ocupação israelense.
Autoridades de Israel afirmaram que a cerca, que deve custar cerca de US$ 1 milhão por quilômetro, terá sensores elétricos que poderão detectar qualquer pessoa que tente ultrapassá-la.
É parte de uma zona de contenção, que também incluirá tropas do Exército, patrulhas policias de fronteira e postos de observação, ao longo da fronteira da Cisjordânia até um ponto próximo a Tel Aviv -embora seu traçado exato ainda não esteja claro.
Para o ministro da Defesa de Israel, Binyamin Ben Eliezer, é possível que a cerca se estenda por até 346 km -que era a mesma extensão da chamada "linha verde", de 1967, que dividia o território de Israel e a Cisjordânia.
Ben Eliezer descreveu a cerca como não-política e temporária, embora seus críticos afirmem que, uma vez construída, será politicamente difícil removê-la.
O projeto, apoiado pelo primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, sofreu forte oposição dos partidos de extrema direita, que temem que a cerca possa se tornar uma fronteira "de fato", o que iria minar seus apelos para que Israel retome a posse da Cisjordânia.
Saeb Erekat, principal negociador palestino, acusou Israel de buscar dividir os territórios palestinos em pequenos cantões e "dar início a um novo sistema de apartheid, que é pior do que aquele que vigorou na África do Sul".
Autoridades palestinas afirmaram que isso irá acentuar ainda mais a restrição à circulação dos moradores da Cisjordânia, que já precisam solicitar permissão às autoridades de Israel para se deslocarem entre as maiores cidades.
Representantes dos cidadãos árabe-israelenses estão furiosos com o confisco de terra que a construção da cerca irá requerer, citando planos para expropriar milhares de acres que pertencem à cidade árabe-israelense de Umm El Fahm.
Os serviços de segurança israelenses apontam o exemplo da faixa de Gaza, onde 1,3 milhão de palestinos está limitado por uma cerca elétrica e uma zona de contenção para sustentar a construção. Segundo eles, os terroristas não conseguem deixar a faixa de Gaza, apenas a Cisjordânia.
No sábado, dois soldados israelenses haviam sido mortos por militantes do grupo extremista Hamas perto da colônia judaica de Dugit, no norte de Gaza. Um dos militantes foi morto.
Ontem à noite, cinco tanques israelenses entraram na cidade de Jenin, na Cisjordânia.
Cercas menores feitas de blocos de concreto, barreiras de metal, trincheiras e barricadas foram construídas por Israel em muitas partes da Cisjordânia, o que não tem impedido que palestinos continuem a se infiltrar em assentamentos judaicos nos territórios ocupados. Alguns bloqueios separam a Cisjordânia do setor árabe de Jerusalém.
Mahmoud al Zahar, um dos líderes políticos do Hamas na faixa de Gaza, previu que a cerca não irá deter as ações dos membros do grupo extremista.
Segundo uma porta-voz do ministro da Defesa de Israel, a primeira parte da cerca só deverá estar pronta em oito meses.



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