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ELEIÇÃO
Ex-presidente conservador é o favorito, mas pesquisas indicam que haverá 2º turno; eleitorado jovem será decisivo
Irã vota hoje para escolher novo presidente
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Cerca de 47 milhões de iranianos poderão votar hoje, em primeiro turno, para presidente. Este
substituirá o reformista moderado Mohammad Khatami num
momento delicado para o Irã, que
negocia com a comunidade internacional o futuro de seu programa nuclear e tem papel geopolítico de peso no Oriente Médio.
Segundo analistas consultados
pela Folha, dois aspectos definirão o resultado e a legitimidade da
eleição, que foi criticada pelo presidente dos EUA, George W.
Bush: o comparecimento às urnas
e o desempenho do favorito nas
poucas pesquisas realizadas pelos
partidos, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani (1989-97), 70.
"Se a decepção do eleitorado jovem [cerca de 65% da população
tem menos de 30 anos] com a falta
de reformas político-sociais durante os dois mandatos de Khatami [um reformista moderado] se
traduzir num baixo comparecimento, abaixo de 50%, a legitimidade do novo presidente será minada", analisou Shireen Hunter,
do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).
"Além disso, se não obtiver a vitória no primeiro turno, Rafsanjani correrá o risco de protagonizar
uma surpresa eleitoral desagradável no segundo. Afinal, uma parcela considerável da população
poderá apoiar Mostafá Moin em
vez de um candidato cuja imagem
é ligada à linha dura. É preciso
lembrar que a primeira vitória de
Khatami não era esperada por
muitos analistas", acrescentou.
A parte mais radical da oposição reformista iraniana exortou
os eleitores a boicotar o pleito durante toda a campanha, e alguns
de seus representantes chegaram
até a ser presos por conta disso.
Além do chamado ao boicote ao
pleito, a descrença popular em relação à possibilidade de introdução de mudanças político-sociais
dentro do sistema atual também
poderá contribuir para um baixo
comparecimento às urnas.
Num contexto em que o eleitorado jovem é decisivo, todos os
candidatos, incluindo o ex-chefe
de polícia Mohammad Baqer Qalibaf, 43, um dos três representantes da linha dura político-religiosa
na disputa, se dizem favoráveis ao
relaxamento das restrições que
pesam sobre a população.
Além disso, a campanha foi
marcada por técnicas e por táticas
bastante conhecidas no Ocidente,
como ruidosos comícios ao som
de rock iraniano e até de rap americano e a distribuição de panfletos por jovens vestidos com as cores de seus candidatos e de patins.
Qalibaf ou o ex-ministro da Cultura e médico Mostafá Moin, 54,
reformista ligado a Khatami, são
os principais candidatos a enfrentar Rafsanjani no segundo turno.
Ambos lutam para ser o primeiro
não-clérigo a assumir a chefia do
governo desde 1981. O prefeito de
Teerã, Mahmoud Ahmadinejad,
também tem esperança de chegar
à Presidência da República Islâmica do Irã -fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979.
Um baixo comparecimento às
urnas deverá minar bastante as
chances de Moin, cujo eleitorado
é reformista, e aumentar a possibilidade de Rafsanjani conquistar
a vitória já no primeiro turno.
Todos os candidatos também se
mostraram, retoricamente, favoráveis a uma diminuição da tensão existente nas relações entre o
Irã e os EUA desde 1980, quando
Washington rompeu suas relações diplomáticas com Teerã.
A comunidade internacional
observa de perto o desfecho da
votação iraniana, pois o país negocia com a Agência Internacional de Energia Atômica e com
países europeus o futuro de seu
programa nuclear. Os EUA acusam Teerã de buscar desenvolver
armas atômicas, o que o governo
iraniano nega. Para o restante do
planeta, será importante que os
candidatos mantenham sua promessa de abrir suas instalações.
"Além disso, o regime xiita iraniano tem forte influência sobre a
maioria xiita iraquiana. Assim, a
evolução da situação político-social no Irã é preponderante para o
equilíbrio geopolítico do Oriente
Médio", avaliou Olivier Roy, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (França).
Para a iraniana Hunter, o melhor desfecho para a população
seria, de fato, a vitória de Rafsanjani. "Ele conhece os meandros da
política iraniana e é um conservador pragmático. Somente alguém
com esse perfil poderá convencer
o establishment político-clerical a
aceitar certa abertura. A maior
parte da população não quer realmente a queda do regime islâmico, mas luta pelo fim das restrições às suas liberdades."
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