São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 2005

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ELEIÇÃO

Ex-presidente conservador é o favorito, mas pesquisas indicam que haverá 2º turno; eleitorado jovem será decisivo

Irã vota hoje para escolher novo presidente

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Cerca de 47 milhões de iranianos poderão votar hoje, em primeiro turno, para presidente. Este substituirá o reformista moderado Mohammad Khatami num momento delicado para o Irã, que negocia com a comunidade internacional o futuro de seu programa nuclear e tem papel geopolítico de peso no Oriente Médio.
Segundo analistas consultados pela Folha, dois aspectos definirão o resultado e a legitimidade da eleição, que foi criticada pelo presidente dos EUA, George W. Bush: o comparecimento às urnas e o desempenho do favorito nas poucas pesquisas realizadas pelos partidos, o ex-presidente Hashemi Rafsanjani (1989-97), 70.
"Se a decepção do eleitorado jovem [cerca de 65% da população tem menos de 30 anos] com a falta de reformas político-sociais durante os dois mandatos de Khatami [um reformista moderado] se traduzir num baixo comparecimento, abaixo de 50%, a legitimidade do novo presidente será minada", analisou Shireen Hunter, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).
"Além disso, se não obtiver a vitória no primeiro turno, Rafsanjani correrá o risco de protagonizar uma surpresa eleitoral desagradável no segundo. Afinal, uma parcela considerável da população poderá apoiar Mostafá Moin em vez de um candidato cuja imagem é ligada à linha dura. É preciso lembrar que a primeira vitória de Khatami não era esperada por muitos analistas", acrescentou.
A parte mais radical da oposição reformista iraniana exortou os eleitores a boicotar o pleito durante toda a campanha, e alguns de seus representantes chegaram até a ser presos por conta disso. Além do chamado ao boicote ao pleito, a descrença popular em relação à possibilidade de introdução de mudanças político-sociais dentro do sistema atual também poderá contribuir para um baixo comparecimento às urnas.
Num contexto em que o eleitorado jovem é decisivo, todos os candidatos, incluindo o ex-chefe de polícia Mohammad Baqer Qalibaf, 43, um dos três representantes da linha dura político-religiosa na disputa, se dizem favoráveis ao relaxamento das restrições que pesam sobre a população.
Além disso, a campanha foi marcada por técnicas e por táticas bastante conhecidas no Ocidente, como ruidosos comícios ao som de rock iraniano e até de rap americano e a distribuição de panfletos por jovens vestidos com as cores de seus candidatos e de patins.
Qalibaf ou o ex-ministro da Cultura e médico Mostafá Moin, 54, reformista ligado a Khatami, são os principais candidatos a enfrentar Rafsanjani no segundo turno. Ambos lutam para ser o primeiro não-clérigo a assumir a chefia do governo desde 1981. O prefeito de Teerã, Mahmoud Ahmadinejad, também tem esperança de chegar à Presidência da República Islâmica do Irã -fundada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini em 1979.
Um baixo comparecimento às urnas deverá minar bastante as chances de Moin, cujo eleitorado é reformista, e aumentar a possibilidade de Rafsanjani conquistar a vitória já no primeiro turno.
Todos os candidatos também se mostraram, retoricamente, favoráveis a uma diminuição da tensão existente nas relações entre o Irã e os EUA desde 1980, quando Washington rompeu suas relações diplomáticas com Teerã.
A comunidade internacional observa de perto o desfecho da votação iraniana, pois o país negocia com a Agência Internacional de Energia Atômica e com países europeus o futuro de seu programa nuclear. Os EUA acusam Teerã de buscar desenvolver armas atômicas, o que o governo iraniano nega. Para o restante do planeta, será importante que os candidatos mantenham sua promessa de abrir suas instalações.
"Além disso, o regime xiita iraniano tem forte influência sobre a maioria xiita iraquiana. Assim, a evolução da situação político-social no Irã é preponderante para o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio", avaliou Olivier Roy, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (França).
Para a iraniana Hunter, o melhor desfecho para a população seria, de fato, a vitória de Rafsanjani. "Ele conhece os meandros da política iraniana e é um conservador pragmático. Somente alguém com esse perfil poderá convencer o establishment político-clerical a aceitar certa abertura. A maior parte da população não quer realmente a queda do regime islâmico, mas luta pelo fim das restrições às suas liberdades."


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