São Paulo, terça-feira, 17 de junho de 2008

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UE evita contágio do "não" irlandês

França e Alemanha se esforçam para que demais países do bloco continuem a ratificar Tratado de Lisboa

Merkel viajou à Polônia; Sarkozy foi a Praga e verá Brown em Paris; o plano é não tomar resultado de referendo como fatalidade


DA REDAÇÃO

Os governos da União Européia desencadearam ontem um mutirão diplomático para evitar o "efeito de contágio" da rejeição pela Irlanda, em referendo na quinta-feira, do Tratado de Lisboa, conjunto de normas que deveria reger a partir de janeiro o bloco de 27 países.
O plano, encabeçado por França e Alemanha, consiste em fazer com que os oito países cujos Parlamentos ainda não votaram o tratado o façam rapidamente, para em seguida resolver o problema irlandês. A Irlanda é o único país da UE que exige a ratificação pelo voto popular. Nos demais basta a aprovação do Parlamento, como já ocorreu em 18 países -em alguns deles, os presidentes ainda não sancionaram o texto-, e ainda não foi o caso de Bélgica, Holanda, República Tcheca, Itália, Espanha, Chipre, Suécia e Reino Unido.
A chanceler alemã, Angela Merkel, fez ontem uma rápida viagem à Polônia e afirmou, ao lado do primeiro-ministro Donald Tusk, estar "absolutamente de acordo" com o roteiro de ratificação pelos demais Estados-membros. Os dois chefes de governo também concordaram ser importante não isolar a Irlanda e encontrar em companhia dela uma saída à crise.
Horas depois, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, viajou para Praga. O presidente tcheco, Vaclav Klaus, qualificara na sexta-feira o referendo irlandês como "uma vitória da razão" e afirmara que o Tratado de Lisboa estava "morto". Bem mais moderado, o primeiro-ministro Mirek Topolanek disse a Sarkozy que o processo de ratificação estava emperrado, à espera da decisão da Corte Constitucional sobre a compatibilidade do tratado com a Constituição tcheca.
Estavam também em Praga os primeiros-ministros de Polônia, Hungria e Eslováquia. Ao lado dos tchecos, eles se interessam pelo processo de adesão à UE da Croácia e da Ucrânia. O presidente francês ponderou que o bloco não será ampliado se o Tratado de Lisboa não estiver em vigor.
Sarkozy também deverá almoçar nesta semana, em Paris, com o premiê britânico, Gordon Brown, submetido à pressão interna dos "eurocéticos".

Cúpula na quinta-feira
Os chefes de governo e de Estado do bloco têm um encontro de cúpula marcado para quinta e sexta, em Bruxelas. Numa espécie de prévia, os ministros das Relações Exteriores se reuniram ontem em Luxemburgo. A idéia é não colocar a Irlanda contra a parede, o que apenas ampliaria dentro daquele país o partido do "não", que obteve 53,6% no referendo de quinta.
O chefe da diplomacia irlandesa, Micheal Martin, disse ser ainda cedo para afirmar se o seu governo poderia promover um novo referendo. Mas disse que "não queremos ser deixados para trás", alusão à possibilidade de isolamento nas instituições européias.
Segundo o "Financial Times", um esboço de acordo vem sendo costurado para que o eleitorado irlandês obtenha, a partir de emendas ao tratado, garantias para suas preocupações nas áreas tributária, militar e de política familiar.
Seria aplicar a mesma receita usada em 1992 com a Dinamarca, que rejeitou em referendo o Tratado de Maastricht, mas passou a apoiá-lo depois de devidamente modificado.
O "Le Monde" acredita, no entanto, que um novo referendo irlandês é por ora inimaginável. Os trabalhistas irlandeses, que trabalharam pelo "sim", avisaram que mudariam de campo caso haja nova votação. Um dos líderes do "não", Declan Ganley, diz rejeitar pequenas mudanças. "Queremos uma renegociação total desse tratado antidemocrático."


Com agências internacionais


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