São Paulo, quarta-feira, 17 de junho de 2009

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"Principalista", Mousavi vira líder acidental

DO "FINANCIAL TIMES"

Ele fora relegado aos anais da história iraniana como um premiê dos anos 80 que desapareceu do cenário público e passou a se dedicar à sua atividade predileta, a pintura abstrata. Mas graças ao vislumbre de liberdade autorizado durante a campanha à Presidência e ao resultado contestado do pleito, Mir Hossein Mousavi, 68, se tornou símbolo de um modelo de oposição irado e surpreendentemente determinado.
"Mousavi, recupere os nossos votos", vêm gritando as multidões que protestam contra o resultado da eleição que manteve no poder o conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Mas embora os jovens reformistas continuem a esperar que Mousavi lhes propicie a mudança prometida, restam poucas opções ao derrotado.
Ainda que Mousavi não tenha cedido à pressão para que aceite os resultados insistindo em que eles são uma "perigosa farsa", ele parece dividido entre apelar por uma continuação dos protestos e suspendê-los a fim de prevenir a violência.
A onda de raiva pode em breve se acalmar, especialmente se as medidas repressivas se tornarem mais brutais. Mas os analistas estão observando para ver se os protestos resultam em campanhas de desobediência civil por parte dos setores que apoiavam Mousavi ou em apoio dos religiosos que endossaram sua candidatura.
A despeito de seus ataques às políticas de Ahmadinejad, Mousavi jamais se opôs à República Islâmica. Na verdade, ele se define da mesma maneira que o presidente, como um "principalista" que luta pelo retorno aos valores e princípios reais da Revolução Islâmica. Mas temperou sua mensagem com demandas por uma maior liberdade democrática e uma gestão econômica pragmática.
Sua candidatura foi quase acidental. Mousavi relutava em disputar a Presidência, mas o ex-presidente reformista Mohammad Khatami insistiu para que concorresse. Após aceitar, não demorou a receber o apoio de Akbar Hashemi Rafsanjani, presidente da Assembleia dos Especialistas, encarregada de selecionar o líder supremo.
Embora seus dois principais aliados esperassem que ele defendesse uma plataforma eleitoral centrista, a campanha de Mousavi adotou os lemas dos reformistas, com vigor ainda maior. O público reagiu positivamente, e isso pôs sob ameaça os esforços do governo para tirar do cenário os reformistas.
Os analistas dizem que, em um momento no qual os EUA estão procurando mais aproximação com Teerã, o líder supremo Ali Khamenei pode ter visto a campanha de Mousavi como o início de uma contestação mais ampla ao regime, e, por isso, se apressou em decretar a vitória de Ahmadinejad.


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