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"Principalista", Mousavi vira líder acidental
DO "FINANCIAL TIMES"
Ele fora relegado aos anais da
história iraniana como um premiê dos anos 80 que desapareceu do cenário público e passou
a se dedicar à sua atividade predileta, a pintura abstrata. Mas
graças ao vislumbre de liberdade autorizado durante a campanha à Presidência e ao resultado contestado do pleito, Mir
Hossein Mousavi, 68, se tornou
símbolo de um modelo de oposição irado e surpreendentemente determinado.
"Mousavi, recupere os nossos votos", vêm gritando as
multidões que protestam contra o resultado da eleição que
manteve no poder o conservador Mahmoud Ahmadinejad.
Mas embora os jovens reformistas continuem a esperar
que Mousavi lhes propicie a
mudança prometida, restam
poucas opções ao derrotado.
Ainda que Mousavi não tenha cedido à pressão para que
aceite os resultados insistindo
em que eles são uma "perigosa
farsa", ele parece dividido entre
apelar por uma continuação
dos protestos e suspendê-los a
fim de prevenir a violência.
A onda de raiva pode em breve se acalmar, especialmente se
as medidas repressivas se tornarem mais brutais. Mas os
analistas estão observando para ver se os protestos resultam
em campanhas de desobediência civil por parte dos setores
que apoiavam Mousavi ou em
apoio dos religiosos que endossaram sua candidatura.
A despeito de seus ataques às
políticas de Ahmadinejad,
Mousavi jamais se opôs à República Islâmica. Na verdade, ele
se define da mesma maneira
que o presidente, como um
"principalista" que luta pelo retorno aos valores e princípios
reais da Revolução Islâmica.
Mas temperou sua mensagem
com demandas por uma maior
liberdade democrática e uma
gestão econômica pragmática.
Sua candidatura foi quase
acidental. Mousavi relutava em
disputar a Presidência, mas o
ex-presidente reformista Mohammad Khatami insistiu para
que concorresse. Após aceitar,
não demorou a receber o apoio
de Akbar Hashemi Rafsanjani,
presidente da Assembleia dos
Especialistas, encarregada de
selecionar o líder supremo.
Embora seus dois principais
aliados esperassem que ele defendesse uma plataforma eleitoral centrista, a campanha de
Mousavi adotou os lemas dos
reformistas, com vigor ainda
maior. O público reagiu positivamente, e isso pôs sob ameaça
os esforços do governo para tirar do cenário os reformistas.
Os analistas dizem que, em
um momento no qual os EUA
estão procurando mais aproximação com Teerã, o líder supremo Ali Khamenei pode ter
visto a campanha de Mousavi
como o início de uma contestação mais ampla ao regime, e,
por isso, se apressou em decretar a vitória de Ahmadinejad.
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