São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2010

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ANÁLISE

Discurso de Obama no Salão Oval sobre desastre fica muito aquém do esperado

EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES"

Dizem que um discurso presidencial pode mudar o clima político. Sob esse ângulo, o discurso proferido por Barack Obama na Casa Branca, anteontem, ficou bem aquém do esperado.
Ao optar por falar ao país do histórico Salão Oval, Obama despertara expectativas de um desempenho digno de Ronald Reagan, com o qual ele traria algo de novo ao debate, para mudar a narrativa. Mas não foi o que aconteceu.
O discurso não teve nada de novo ou transformador. E continha trechos capazes de frustrar ou irritar virtualmente todos os interessados.
Para as pessoas que vivem nos Estados afetados pelo vazamento, Obama repetiu o que todos já sabem, mas muitos ainda duvidam: que o governo federal está fazendo tudo que pode para auxiliar nos esforços de limpeza e forçar a BP a assumir a responsabilidade pelo ocorrido.
Em um trecho que poderia ter sido tomado emprestado de um de seus discursos de campanha, Obama instou os americanos a se unir em torno de um futuro de energia limpa e a abandonar seu vício em combustíveis fósseis.
Mas não chegou a propor novos prazos para que o Senado aprove o projeto de lei de energia limpa que está parado nas comissões da Casa.
A despeito de ter, na prática, cedido a um projeto de lei de energia limpa muito restrito e sem limitações à emissão de carbono, Obama ainda assim antagonizou a oposição republicana ao dedicar quase metade do discurso a um futuro de energia limpa.
Enquanto ele falava, não paravam de chegar e-mails nos quais o presidente era acusado de explorar a emergência a fim de impor um tributo sobre a energia que eliminaria empregos nos EUA.
Havia muitas outras partes interessadas no discurso. Os jornais sensacionalistas britânicos sem dúvida detectarão traços ocultos de anglofobia nas palavras de Obama.
Já alguns dos legisladores democratas mais agressivos provavelmente se decepcionaram por Obama não ter ameaçado os executivos da BP de processo criminal.
Ao final do exercício, é difícil imaginar o que Obama imaginava ganhar com ele. Na melhor das hipóteses, seus partidários mais vacilantes serão reassegurados de que o presidente encara a emergência com seriedade.
Na pior, Obama simplesmente aumentou sua aposta sem com isso aumentar seu cacife. O discurso não fracassou em sua função de reconfortar um público preocupado; mas com certeza fracassou se pretendia algo maior.


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