São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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GUERRILHEIRA
Albanesa se orgulha do ELK

do enviado especial a Kosovo

Shkurte Bajrami é uma das onze mulheres de um grupo de 110 guerrilheiros do ELK (Exército de Libertação de Kosovo, guerrilha separatista) que lutam contra as forças sérvias na região de Crnolevo, 40 km ao sul de Pristina, capital de Kosovo.
Mensageira do comandante, cumpre sua missão montando em pêlo num cavalo branco. "Sei atirar cavalgando", diz.
Chamada de Shota, nome de um heroína albanesa das guerras com os sérvios no começo do século, diz que sua família "tem medo, mas orgulho" de que tenha entrado no ELK.
"Luto pela felicidade de meu povo", afirma.
Shota tem 18 anos, 1,60 m e 49 kg. Sobre o cabelo castanho claro e curto, usa uma faixa a "la Rambo" com o símbolo do ELK. Com cara fechada e séria, não parece uma mulher atraente à primeira vista.
Porém, fica bonita quando sorri timidamente ao revelar que nunca teve um namorado.
Afirma que já tem uma pessoa em mente. Os soldados em volta dão risada, mas ela nega que seja alguém do batalhão.
Mesmo insistindo, ela não quer falar o nome. "Me tratam como irmã", diz.
Ressalta sempre que os seus companheiros a tratam com respeito. Shota fala que só vai pensar em sexo e família depois de a guerra acabar: "Acho que os homens vão gostar mais de mim depois da experiência de virar soldado".
Esteve em tiroteios de curto alcance quando seu grupo foi se esconder nas montanhas após a chegada do Exército iugoslavo.
Seu batalhão tem apenas armas automáticas (fuzis e pistolas), além de duas pequenas bazucas. Conta que os soldados sérvios procuraram seu grupo nas montanhas.
Diz que esperaram até que estivessem a "20 metros, 30 metros" e abriram fogo. "Não sei se matei alguém. Vi que um sérvio caiu quando disparei."
De acordo com o colega Qazim Tahiri, 23, que esteve com Shota nessa batalha, "ela atira bem e é uma grande combatente".
Quando fala dos civis sérvios que estão deixando Kosovo com medo do ELK, Shota volta a ficar séria. Diz que não os atacaria se ficassem na Província, mas gosta que estejam indo embora .
"Este lugar não pertence a eles!", repete contrariada quando a Folha lembra que os sérvios, como parte dos albaneses, vivem na região há séculos e tem lá suas raízes históricas.
"Eles têm as mãos sujas de sangue. Se não fizeram nenhum mal ao nosso povo, alguém de sua família fez", diz, generalizando do mesmo jeito que os sérvios em relação aos kosovares de origem albanesa.
Antes de se despedir, diz que o ELK não é formado por "animais", como os sérvios descrevem os guerrilheiros.
E fala, em tom de vingança: "É hora de os sérvios deixarem Kosovo. Entraram aqui queimando nossas casas e matando nosso povo. bom que sintam agora o que sentimos". (KA)


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