Albanesa se orgulha do ELK
do enviado especial a Kosovo
Shkurte Bajrami é uma das onze mulheres de um grupo de 110
guerrilheiros do ELK (Exército
de Libertação de Kosovo, guerrilha separatista) que lutam
contra as forças sérvias na região de Crnolevo, 40 km ao sul
de Pristina, capital de Kosovo.
Mensageira do comandante,
cumpre sua missão montando
em pêlo num cavalo branco.
"Sei atirar cavalgando", diz.
Chamada de Shota, nome de
um heroína albanesa das guerras com os sérvios no começo do
século, diz que sua família "tem
medo, mas orgulho" de que tenha entrado no ELK.
"Luto pela felicidade de meu
povo", afirma.
Shota tem 18 anos, 1,60 m e 49
kg. Sobre o cabelo castanho claro e curto, usa uma faixa a "la
Rambo" com o símbolo do ELK.
Com cara fechada e séria, não
parece uma mulher atraente à
primeira vista.
Porém, fica bonita quando
sorri timidamente ao revelar
que nunca teve um namorado.
Afirma que já tem uma pessoa
em mente. Os soldados em volta
dão risada, mas ela nega que seja
alguém do batalhão.
Mesmo insistindo, ela não
quer falar o nome. "Me tratam
como irmã", diz.
Ressalta sempre que os seus
companheiros a tratam com
respeito. Shota fala que só vai
pensar em sexo e família depois
de a guerra acabar: "Acho que os
homens vão gostar mais de mim
depois da experiência de virar
soldado".
Esteve em tiroteios de curto alcance quando seu grupo foi se
esconder nas montanhas após a
chegada do Exército iugoslavo.
Seu batalhão tem apenas armas automáticas (fuzis e pistolas), além de duas pequenas bazucas. Conta que os soldados
sérvios procuraram seu grupo
nas montanhas.
Diz que esperaram até que estivessem a "20 metros, 30 metros" e abriram fogo. "Não sei se
matei alguém. Vi que um sérvio
caiu quando disparei."
De acordo com o colega Qazim Tahiri, 23, que esteve com
Shota nessa batalha, "ela atira
bem e é uma grande combatente".
Quando fala dos civis sérvios
que estão deixando Kosovo com
medo do ELK, Shota volta a ficar
séria. Diz que não os atacaria se
ficassem na Província, mas gosta que estejam indo embora .
"Este lugar não pertence a
eles!", repete contrariada quando a Folha lembra que os sérvios, como parte dos albaneses,
vivem na região há séculos e tem
lá suas raízes históricas.
"Eles têm as mãos sujas de
sangue. Se não fizeram nenhum
mal ao nosso povo, alguém de
sua família fez", diz, generalizando do mesmo jeito que os
sérvios em relação aos kosovares de origem albanesa.
Antes de se despedir, diz que o
ELK não é formado por "animais", como os sérvios descrevem os guerrilheiros.
E fala, em tom de vingança: "É
hora de os sérvios deixarem Kosovo. Entraram aqui queimando nossas casas e matando nosso povo. bom que sintam agora
o que sentimos".
(KA)
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