São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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VIOLÊNCIA

Ação de prostitutas e camelôs quebra Legislativo de Buenos Aires, em meio à escalada de manifestações na capital argentina

Protesto amplia tensão na Argentina

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

Uma violenta manifestação que durou mais de quatro horas na capital argentina, ontem, causou uma grande destruição na Assembléia Legislativa da cidade de Buenos Aires e aumentou a tensão no país, causada pela escalada de protestos de piqueteiros nas últimas semanas.
A multidão, formada por grupos de esquerda, vendedores ambulantes, travestis, prostitutas e piqueteiros, avançou violentamente contra o edifício da Assembléia, onde seria discutido o chamado Código de Convivência. A lei estabelece várias normas para controlar a violência, como a redução da idade penal para 16 anos, a repressão a vendedores ambulantes ilegais e a regulamentação rígida para protestos de rua.
Os manifestantes, muitos armados com paus e barras de ferro, quebraram todas as vidraças do edifício e atiraram pedras. A polícia tentou contê-los com jatos de água. Depois de três horas de fracassadas tentativas de parar os manifestantes, a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogêneo. Não houve feridos.
O protesto por causa das novas regras para a Província de Buenos Aires foi o último de uma semana marcada por várias e fortes manifestações de grupos piqueteiros que, há quase dois meses, vêm intensificando as pressões sobre o governo do presidente Néstor Kirchner, para que sejam ampliados os planos sociais no país, onde a pobreza atinge mais de 50% da população.
A escalada já custou mais de dez pontos percentuais na popularidade do presidente no último mês, segundo pesquisa feita pela Ipsos-Mora e Araújo para o jornal "La Nación", divulgada ontem.
A aprovação do governo de Kirchner caiu de 73% para 63%. A rejeição à política do governo com relação aos movimentos piqueteiros foi a maior responsável pela queda. Segundo o levantamento, 68% dos entrevistados criticaram a reação do governo.
Kirchner atribuiu o aumento da tensão social a uma conspiração contra seu governo. O presidente vive uma disputa por espaço político com o ex-presidente e também peronista Eduardo Duhalde.
"Não há conspiração política, o que há é aumento de demandas sociais", disse o analista político Enrique Zuleta Puceiros, presidente do Ibope na Argentina.
Desconfiado da polícia e da Justiça, alvos de suas criticas, Kirchner tem evitado reagir às manifestações. O presidente já trocou vários ministros da Suprema Corte de Justiça e demitiu chefes de polícia. "Não vou usar contra os piqueteiros essa polícia de gatilho fácil", costuma repetir.
"Ele quer evitar mortes que criariam heróis e aumentariam a oposição a seu governo", afirma Puceiros. Em 2001, a morte de dois manifestantes em protestos culminou na renúncia do então presidente, Fernando De la Rúa.
Para Puceiros, os protestos não representam, porém, risco para o presidente. "A governabilidade vai ficar ameaçada se a situação econômica piorar, não por causa das manifestações", disse. Segundo Puceiros, apesar dos protestos, a percepção é que as opções além de Kirchner são piores.
"Mesmo quem critica Kirchner, está do seu lado. Por isso ele tem altos índices de aprovação. Há um sentimento de resignação porque, além de Kirchner, que foi eleito com apenas 22% dos votos, há os menemistas, os militares ou a ala mais autoritária do peronismo representada por Duhalde", disse.
Kirchner tornou-se presidente em 2003 só com os votos que obteve no primeiro turno, pois seu adversário no segundo turno, o ex-presidente Carlos Menem (1989-99), desistiu da disputa.


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