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VIOLÊNCIA
Ação de prostitutas e camelôs quebra Legislativo de Buenos Aires, em meio à escalada de manifestações na capital argentina
Protesto amplia tensão na Argentina
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Uma violenta manifestação que
durou mais de quatro horas na
capital argentina, ontem, causou
uma grande destruição na Assembléia Legislativa da cidade de
Buenos Aires e aumentou a tensão no país, causada pela escalada
de protestos de piqueteiros nas últimas semanas.
A multidão, formada por grupos de esquerda, vendedores ambulantes, travestis, prostitutas e
piqueteiros, avançou violentamente contra o edifício da Assembléia, onde seria discutido o chamado Código de Convivência. A
lei estabelece várias normas para
controlar a violência, como a redução da idade penal para 16
anos, a repressão a vendedores
ambulantes ilegais e a regulamentação rígida para protestos de rua.
Os manifestantes, muitos armados com paus e barras de ferro,
quebraram todas as vidraças do
edifício e atiraram pedras. A polícia tentou contê-los com jatos de
água. Depois de três horas de fracassadas tentativas de parar os
manifestantes, a polícia usou balas de borracha e gás lacrimogêneo. Não houve feridos.
O protesto por causa das novas
regras para a Província de Buenos
Aires foi o último de uma semana
marcada por várias e fortes manifestações de grupos piqueteiros
que, há quase dois meses, vêm intensificando as pressões sobre o
governo do presidente Néstor
Kirchner, para que sejam ampliados os planos sociais no país, onde a pobreza atinge mais de 50%
da população.
A escalada já custou mais de dez
pontos percentuais na popularidade do presidente no último
mês, segundo pesquisa feita pela
Ipsos-Mora e Araújo para o jornal
"La Nación", divulgada ontem.
A aprovação do governo de
Kirchner caiu de 73% para 63%. A
rejeição à política do governo
com relação aos movimentos piqueteiros foi a maior responsável
pela queda. Segundo o levantamento, 68% dos entrevistados criticaram a reação do governo.
Kirchner atribuiu o aumento da
tensão social a uma conspiração
contra seu governo. O presidente
vive uma disputa por espaço político com o ex-presidente e também peronista Eduardo Duhalde.
"Não há conspiração política, o
que há é aumento de demandas
sociais", disse o analista político
Enrique Zuleta Puceiros, presidente do Ibope na Argentina.
Desconfiado da polícia e da Justiça, alvos de suas criticas, Kirchner tem evitado reagir às manifestações. O presidente já trocou vários ministros da Suprema Corte
de Justiça e demitiu chefes de polícia. "Não vou usar contra os piqueteiros essa polícia de gatilho
fácil", costuma repetir.
"Ele quer evitar mortes que criariam heróis e aumentariam a oposição a seu governo", afirma Puceiros. Em 2001, a morte de dois
manifestantes em protestos culminou na renúncia do então presidente, Fernando De la Rúa.
Para Puceiros, os protestos não
representam, porém, risco para o
presidente. "A governabilidade
vai ficar ameaçada se a situação
econômica piorar, não por causa
das manifestações", disse. Segundo Puceiros, apesar dos protestos,
a percepção é que as opções além
de Kirchner são piores.
"Mesmo quem critica Kirchner,
está do seu lado. Por isso ele tem
altos índices de aprovação. Há um
sentimento de resignação porque,
além de Kirchner, que foi eleito
com apenas 22% dos votos, há os
menemistas, os militares ou a ala
mais autoritária do peronismo representada por Duhalde", disse.
Kirchner tornou-se presidente
em 2003 só com os votos que obteve no primeiro turno, pois seu
adversário no segundo turno, o
ex-presidente Carlos Menem
(1989-99), desistiu da disputa.
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