São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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VENEZUELA

Signatários de manifesto atacam EUA e "ricos" do país

Artistas brasileiros que defendem Chávez dizem que plebiscito é "golpe"

BERTA MARCHIORI
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Para artistas brasileiros que assinaram um manifesto a favor do presidente venezuelano, Hugo Chávez combate as oligarquias e se preocupa com o "povo", e o plebiscito não passa de "um golpe". A crença que eles têm em Chávez não é abalada nem quando questionados sobre as acusações de que ele promove uma "ditadura constitucional". Isso, dizem, é manipulação.
O abaixo-assinado, intitulado "Se eu fosse venezuelano, votaria em Hugo Chávez", deverá ser entregue hoje. No próximo dia 15 de agosto, Chávez enfrenta um plebiscito convocado pela oposição que pode tirá-lo do poder.
A cantora Beth Carvalho é admiradora declarada de Chávez. Segundo ela, que esteve na Venezuela em abril deste ano e até participou do programa dominical de Chávez, o "Alô, Presidente", "ele é sério, é um grande líder, preocupado com o povo, é um apaixonado pela Venezuela".
Para Carvalho, o plebiscito "é um golpe de Estado que a oligarquia venezuelana está querendo dar". "São os ricos que estão injuriados", disse a cantora. "Mas o povo e o Exército estão com ele."
A cantora acusa os EUA de interferência no país. "Os EUA estão infernizando a Venezuela para evitar o socialismo. Não querem que aconteça uma coisa boa, senão o socialismo impera."
"Toda vez que surge um grande líder, os EUA querem fazer dele um lobo mau. Eu não morro sem ver esse império cair. E viva a revolução bolivariana!"
O ator Marcos Winter, outro signatário, também é da opinião que o que se fala de Chávez não condiz com a realidade, "é manipulação". "Estão deixando de dar o verdadeiro valor aos atos de Chávez, que é uma pessoa interessada no povo e faz muito pela educação, pela saúde e pela justiça social em seu país."
"O Chávez pode não ser nenhum santo, ninguém tem a intenção de canonizá-lo, mas não podemos nos deixar enganar por uma minoria que vai continuar usurpando uma riqueza que não é só dela", declarou. "É um manifesto para a humanidade, para a dignidade." Sobre as acusações de "ditadura constitucional", Winter disse que "a Venezuela chegou ao ponto de ter de romper com a estrutura viciada e apodrecida".
Já para o também ator Marco Ricca, "a questão não é ser a favor ou não de Chávez". O manifesto, para ele, "é um alerta para que [o plebiscito] não seja mais uma forma de intervencionismo, de uma forma única de pensamento". "É para deixar claro que esse tipo de intervenção não serve, senão daqui a pouco está no nosso quintal. É um movimento pacifista e humanista, em prol da democracia."
Entre os intelectuais, o sociólogo Emir Sader diz que assinou o documento pelo fato de "a Venezuela ser o único país da América Latina que está melhorando, por ser um regime democrático, eleito pelo povo e vítima de uma tentativa de golpe militar, vítima de um monopólio da mídia e porque a cobertura da nossa mídia é muito parcial, inclusive a da Folha".
Para o deputado venezuelano Timoteo Zambrano, líder da oposição a Chávez, os signatários do manifesto estão "mal informados" pela propaganda oficial: "Se esses intelectuais vivessem na Venezuela, fariam o que os intelectuais venezuelanos farão: votar contra Chávez".


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