São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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Escândalo derruba ministra de Kirchner

Titular da Economia, Felisa Miceli renunciou após ser chamada a explicar sacola de dinheiro achada em banheiro do gabinete

Sucessor é Miguel Peirano, hoje secretário da Indústria; renúncia ocorre na semana em que a primeira-dama oficializará sua candidatura

Presidência argentina - 16.abr.2007/Reuters
Kirchner e a ex-titular da Economia Miceli, a primeira ministra do gabinete a deixar o governo por suspeitas de irregularidade

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Investigada por causa de uma bolsa com dinheiro achada no seu banheiro no Ministério da Economia argentino, Felisa Miceli renunciou ontem ao cargo, tornando-se assim a primeira ministra de Néstor Kirchner a deixar o governo por suspeitas de irregularidade.
A renúncia chega em um momento delicado para o governo, às voltas com os efeitos de uma crise energética e justamente na semana em que será lançada oficialmente, com um ato em La Plata, a candidatura à Presidência da primeira-dama, Cristina Fernández de Kirchner.
O substituto de Miceli será Miguel Peirano, até então secretário da Indústria.
A decisão de Miceli foi tomada depois que o procurador Guillermo Marijuan pediu ao juiz Daniel Rafecas autorização para tomar um depoimento da ministra, como suspeita de "encobrir uma operação financeira de legitimidade duvidosa". Se Rafecas aceitar o pedido, Miceli pode deixar o depoimento como processada por descumprir suas obrigações como funcionária pública e pela subtração da ata na qual foi registrado o descobrimento do dinheiro.
No dia 5 de junho, durante uma perícia de rotina, bombeiros encontraram no banheiro de Miceli uma bolsa contendo 100 mil pesos e US$ 31 mil (no total, cerca de R$ 120 mil). A notícia veio a público no fim do mês passado, em reportagem do semanário "Perfil". Após 12 dias de silêncio, Miceli concedeu entrevista na qual disse que o dinheiro foi emprestado por seu irmão e seria usado para comprar um imóvel.
O procurador alega que o dinheiro integra um lote enviado pelo Banco Central à financeira Cuenca, da qual nem Miceli nem seu irmão são clientes. A Cuenca é investigada por retiradas não-documentadas.
Na carta de renúncia, a ministra diz que o caso "gerou um dano imerecido" à sua honra e indubitavelmente "afeta o governo". Com a renúncia, afirma, quer "ficar em um plano de igualdade com qualquer cidadão para esclarecer os fatos".
Na coletiva em que anunciou a renúncia, o chefe-de-gabinete de Kirchner, Alberto Fernández, que antes tinha dito que o governo ficara satisfeito com as explicações de Miceli, manteve o discurso: "Acreditamos nela. Mas ela entendeu que se sentiria mais tranqüila respondendo as denúncias como cidadã, e nós respeitamos essa decisão".
Miceli era ministra desde dezembro de 2005, quando o hoje candidato de oposição à Presidência Roberto Lavagna deixou o governo. Antes de confirmada a renúncia, a expectativa era que a queda da ministra repercutisse pouco no mercado, pois, como diz a imprensa argentina, "o verdadeiro ministro da Economia é Kirchner".


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