São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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Índices de inflação argentina vêm sendo adulterados desde janeiro, anuncia fiscal

DE BUENOS AIRES

Se a renúncia de Felisa Miceli teve algum efeito positivo para o governo Kirchner, foi o de ofuscar as conclusões anunciadas ontem pelo fiscal nacional de Investigações Administrativas, Manuel Garrido, que apura irregularidades no Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), órgão responsável por medir a inflação.
Garrido concluiu que os índices da inflação vêm sendo "adulterados" desde janeiro, quando o secretário Guillermo Moreno (Comércio Interior) comandou uma intervenção no órgão, substituindo a diretora.
A nova escolhida por Moreno, Beatriz Paglieri, promoveu uma mudança na metodologia. Desde então, os próprios funcionários do Indec denunciam supostas manipulações nos índices -o que foi ratificado pela conclusão de Garrido.
"Há uma alteração por meio de diversas irregularidades, como o não-cômputo de preços pesquisados e uma mudança nos programas de computador que fazem os cálculos", disse.
Garrido rebateu a versão oficial, de que houve mudança de metodologia na medição da inflação após intervenção comandada por Moreno.
"Não há mudança de metodologia, é impossível. O que há é uma manobra delitiva irregular de adulteração do índice."
Analistas privados calculam que a inflação acumulada no último ano, que pelos cálculos oficiais ronda 8%, seria na realidade de até o dobro desse valor. Garrido já havia recomendado antes que Moreno e Paglieri fossem afastados de seus cargos. Ontem, anunciou que tomou "medidas cautelares" para evitar que a suposta manipulação de dados continue.
Baseado nas investigações de Garrido, o procurador federal Carlos Stornelli pediu na semana passada que Moreno fosse convocado a depor. O secretário é suspeito de ter violado o segredo estatístico, garantido por lei, ao obrigar pesquisadores do Indec a revelarem onde faziam a pesquisa de preços para calcular o índice da inflação.
Além de Miceli e Moreno, a secretária Romina Picolotti (Ambiente) é investigada por suspeitas de irregularidades na contratação de funcionários em sua secretaria. Picolotti ainda não foi chamada para depor.
A série de denúncias abala o discurso de um governo que dizia se diferenciar dos seus antecessores por não haver corrupção. (RR)


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