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EUA hesitam em reconhecer o resultado
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Departamento de Estado dos
EUA adotou uma posição dúbia
em relação ao anúncio da vitória
do presidente Hugo Chávez no
plebiscito da Venezuela. Evitou
reconhecer formalmente o resultado -respaldado pelo Centro
Carter e pela OEA (Organização
dos Estados Americanos).
Pela manhã, Tom Casey, diretor
de Relações com a Imprensa do
órgão, afirmou que os EUA não
tinham nenhuma indicação de
que o processo de votação pudesse ter sido fraudado.
À tarde, o assessor-adjunto de
imprensa para o Hemisfério Ocidental, Robert Zimmerman, disse
que os EUA "apoiariam uma recontagem dos votos" que envolvesse novamente a participação
da OEA e do Centro Carter.
Ele não quis responder se os
EUA respaldavam o resultado.
O próprio Casey mudou o tom
do discurso no fim do dia. "Tomamos nota do anúncio da OEA e
do Centro Carter e de sua oferta
de trabalhar com a oposição para
realizar uma investigação completa dos resultados", afirmou.
"Recomendamos ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral) que permita uma auditoria transparente
para assegurar que o referendo foi
livre e justo", disse.
Chávez é freqüentemente criticado por autoridades americanas,
que o acusam de ser responsável
pela desestabilização da Venezuela, que fornece cerca de 15% do
petróleo consumido nos EUA.
Analistas ouvidos pela Folha
afirmam que o resultado da votação, com ou sem a recontagem
dos votos, manterá a divisão política na Venezuela.
"Chávez vai ficar no poder, mas
o plebiscito não resolve as diferenças fundamentais com a oposição", diz Sidney Weintraub, ex-secretário-assistente de Estado no
governo Nixon (1969-74).
"O resultado também não surpreende, tendo em vista que o governo Chávez gastou nos últimos
meses para conquistar o apoio da
população. Se o plebiscito foi
fraudado ou não, eu não sei, mas
houve uma série de irregularidades até a finalização do processo",
diz Weintraub.
Para Miguel Diaz, diretor do
CSIS (Centro Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla em inglês), o resultado poderá "exacerbar ainda mais" as diferenças entre os chavistas e a oposição.
"Uma recontagem final entre os
votos eletrônicos e a sua confirmação em papel deveria ser feita
para conferir total credibilidade
ao processo", afirma Diaz.
Na opinião do analista do CSIS,
as relações entre Caracas e Washington continuarão ""envoltas
em suspeitas". "No melhor dos
casos, os dois países vão apenas
voltar aos negócios", disse Diaz,
referindo-se às vendas do petróleo da Venezuela para os EUA.
Seth Kleiman, economista da
PFC Energy, uma das maiores
consultorias da área de petróleo
nos EUA, afirma que, do ponto de
vista dos preços, a vitória de Hugo
Chávez "é o melhor cenário para
o mercado".
"A vitória da oposição poderia
levar a uma escalada na tensão social e a uma nova greve na PDVSA
(a estatal de petróleo), provocada
pelos partidários de Chávez", diz
Kleiman.
Para John Felmy, economista-chefe do Instituto Americano do
Petróleo, que representa 400 empresas nos EUA, "ainda é muito
cedo" para qualquer conclusão".
"É preciso esperar para ver o que
a oposição a Chávez tem em mente agora", afirma Felmy.
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