São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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EUA hesitam em reconhecer o resultado

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Departamento de Estado dos EUA adotou uma posição dúbia em relação ao anúncio da vitória do presidente Hugo Chávez no plebiscito da Venezuela. Evitou reconhecer formalmente o resultado -respaldado pelo Centro Carter e pela OEA (Organização dos Estados Americanos).
Pela manhã, Tom Casey, diretor de Relações com a Imprensa do órgão, afirmou que os EUA não tinham nenhuma indicação de que o processo de votação pudesse ter sido fraudado.
À tarde, o assessor-adjunto de imprensa para o Hemisfério Ocidental, Robert Zimmerman, disse que os EUA "apoiariam uma recontagem dos votos" que envolvesse novamente a participação da OEA e do Centro Carter.
Ele não quis responder se os EUA respaldavam o resultado.
O próprio Casey mudou o tom do discurso no fim do dia. "Tomamos nota do anúncio da OEA e do Centro Carter e de sua oferta de trabalhar com a oposição para realizar uma investigação completa dos resultados", afirmou.
"Recomendamos ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral) que permita uma auditoria transparente para assegurar que o referendo foi livre e justo", disse.
Chávez é freqüentemente criticado por autoridades americanas, que o acusam de ser responsável pela desestabilização da Venezuela, que fornece cerca de 15% do petróleo consumido nos EUA.
Analistas ouvidos pela Folha afirmam que o resultado da votação, com ou sem a recontagem dos votos, manterá a divisão política na Venezuela.
"Chávez vai ficar no poder, mas o plebiscito não resolve as diferenças fundamentais com a oposição", diz Sidney Weintraub, ex-secretário-assistente de Estado no governo Nixon (1969-74).
"O resultado também não surpreende, tendo em vista que o governo Chávez gastou nos últimos meses para conquistar o apoio da população. Se o plebiscito foi fraudado ou não, eu não sei, mas houve uma série de irregularidades até a finalização do processo", diz Weintraub.
Para Miguel Diaz, diretor do CSIS (Centro Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla em inglês), o resultado poderá "exacerbar ainda mais" as diferenças entre os chavistas e a oposição.
"Uma recontagem final entre os votos eletrônicos e a sua confirmação em papel deveria ser feita para conferir total credibilidade ao processo", afirma Diaz.
Na opinião do analista do CSIS, as relações entre Caracas e Washington continuarão ""envoltas em suspeitas". "No melhor dos casos, os dois países vão apenas voltar aos negócios", disse Diaz, referindo-se às vendas do petróleo da Venezuela para os EUA.
Seth Kleiman, economista da PFC Energy, uma das maiores consultorias da área de petróleo nos EUA, afirma que, do ponto de vista dos preços, a vitória de Hugo Chávez "é o melhor cenário para o mercado".
"A vitória da oposição poderia levar a uma escalada na tensão social e a uma nova greve na PDVSA (a estatal de petróleo), provocada pelos partidários de Chávez", diz Kleiman.
Para John Felmy, economista-chefe do Instituto Americano do Petróleo, que representa 400 empresas nos EUA, "ainda é muito cedo" para qualquer conclusão". "É preciso esperar para ver o que a oposição a Chávez tem em mente agora", afirma Felmy.


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