São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Rússia assina cessar-fogo, mas nega prazo de retirada

Moscou condiciona saída das tropas de território georgiano a "medidas de segurança extras"

Chanceler afirma que a saída pode levar "o tempo necessário"; forças russas ainda controlam 3 cidades fora das regiões separatistas


DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, assinou ontem o plano de cessar-fogo costurado pela França para pôr fim ao conflito com a Geórgia, mas afirmou que não existe um calendário que fixe prazo para a retirada das suas tropas do território georgiano. Na sexta-feira, o presidente Mikhail Saakashvili, da Geórgia, já havia assinado o documento.
Medvedev pediu "medidas de segurança extras" na região do conflito, sem, no entanto, detalhar que medidas seriam essas. Seu chanceler, Sergei Lavrov, disse que a saída da Rússia depende dessas medidas e podem levar "quanto tempo for necessário". "Não depende só de nós, já que encontramos todo tipo de problemas criados pela parte georgiana", disse Lavrov à agência Interfax.
O posicionamento russo encontra respaldo em um dos seis pontos do plano de paz -o que faculta às forças russas adotar "medidas de segurança adicionais temporariamente", enquanto esperam a chegada de forças de paz internacionais. Isso, por sua vez, exigiria a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, no qual a Rússia tem poder de veto.
O documento dá ao Kremlin o direito de manter militares nas regiões separatistas georgianas da Abkházia e da Ossétia do Sul -na prática protetorados russos desde 1992. Dá também ao Kremlin a possibilidade de patrulhar dentro da Geórgia, 10 km além da divisa dessas duas regiões, mas fora de centros urbanos. Segundo a agência France Presse, isso foi explicitado em carta do presidente francês, Nicolas Sarkozy, aos presidentes russo e georgiano.
Anteontem, a Rússia havia deixado claro que assinava o documento na qualidade de mediadora, assim como a União Européia -ou seja, não como parte do conflito. Os líderes separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia assinaram o documento na quinta-feira.
Após um encontro extraordinário de seu Conselho de Segurança no rancho no Texas onde passa férias, o presidente George W. Bush disse considerar um "passo alentador" a assinatura.
Mas alertou a Rússia de que as duas regiões separatistas fazem parte da Geórgia e que "não há espaço para debater isso". Disse ainda que a Rússia deve honrar o compromisso e sair imediatamente do país.

Movimentação
Pequenos sinais de retirada ocorreram no vilarejo de Igoeti, considerado estratégico, a 50 km da capital Tbilisi. Um repórter da Reuters disse que os soldados foram em direção a Gori, cidade georgiana perto da Ossétia do Sul ainda ocupada pelos russos, apesar de ter havido redução na presença.
Os russos seguiam controlando Sennaki e Zugdidi, próximas à Abkházia. Além disso, a Geórgia acusou forças russas e da Abkházia de ocupar outros 13 vilarejos georgianos próximos à região separatista. A informação não foi independentemente verificada e Moscou não havia comentado até o fechamento desta edição.
Forças russas foram acusadas ainda de ter explodido uma ponte em Kaspi, próxima a Gori, afetando os serviços de trem entre o leste e o oeste do país. Um general russo negou as acusações, dizendo que as hostilidades haviam acabado. Imagens da Reuters mostram que um dos extremos da ponte ruiu, mas não é possível dizer em que circunstâncias.
Em Poti, testemunhas disseram que os russos roubaram equipamentos do porto no mar Negro e do aeroporto.

Com agências internacionais



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