São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / COMANDANTE-EM-CHEFE

McCain tenta se beneficiar com conflito na Geórgia

Resposta rápida e incisiva do republicano ao conflito superou a de Obama e até a de Bush

Mas declaração belicosa contra Moscou foi mal vista por moderados do partido, que temem tendência de ação agressiva no candidato


EDWARD LUCE
DO "FINANCIAL TIMES"

Tanto John McCain quanto Barack Obama estarão muito atentos às próximas pesquisas de opinião para determinar que impacto o conflito entre Rússia e Geórgia pela região separatista georgiana da Ossétia do Sul, nesta semana, tem sobre a disputa presidencial nos EUA. A maioria dos analistas prevê que McCain, que na quarta trombeteou que "agora nós todos somos georgianos", lucre. A robusta resposta do republicano no início da crise, há nove dias, precedeu em diversas horas a de Obama e, aliás, a do presidente George W. Bush. Sua declaração, na qual ele advertiu a Rússia sobre "severas conseqüências negativas no longo prazo", superou a do rival democrata, que voltou anteontem de uma semana de férias no Havaí, e a de Bush, em Pequim quando a crise começou. Desde então, Bush e Obama vêm correndo para recuperar o atraso. O desempenho de McCain não só entusiasmou a ala neoconservadora, cuja desilusão com Bush estava selada no início do seu segundo mandato, como se estendeu a alguns dos membros da linha-dura no Partido Democrata. "Não resta dúvida de que a velocidade e a clareza da resposta de McCain foram uma grande vantagem para ele", diz Zbigniew Brzezinski, assessor de Segurança Nacional de Jimmy Carter (1977-81) e conselheiro de Obama.
Ala insatisfeita
Mas nem todo mundo admira a posição de confronto de McCain com relação à Rússia. Assessores de Obama expressam preocupação por ele ter sido forçado a assumir posição similar à de McCain, ainda que mais modulada. "O tom está decaindo com facilidade demais à velha retórica da Guerra Fria", diz um desses assessores. Há também muitos céticos entre os republicanos, entre os quais Brent Scrowcroft e Colin Powell, ex-assessores de Segurança Nacional de George Bush pai. Nesta semana, três importantes republicanos declararam apoio à candidatura de Obama, citando a posição "belicosa" de McCain em relação a Moscou como parte do motivo. Integrantes da ala dita realista entre os especialistas republicanos em política externa parecem tão preocupados com os instintos de McCain quanto estiveram com os de George W. Bush no primeiro mandato. "McCain parece predisposto em termos de temperamento a assumir posições muito fortes", disse Dimitri Simes, diretor do Nixon Centre. "Embora eu não pretenda declarar apoio a Obama, tenho fortes dúvidas quanto a retratar a contenda entre a Rússia e a Geórgia como uma batalha do bem contra o mal, o que a história recente nos ensina ser uma maneira perigosa de avaliar as coisas". Os democratas estão conscientes de que McCain tem vantagem sobre Obama no quesito "preparo para ser o comandante-chefe", ainda que Obama tenha ligeira vantagem geral na disputa. E eles não esqueceram que John Kerry, o candidato do partido em 2004, perdeu a eleição para Bush em grande medida devido às dúvidas do público quanto às suas credenciais de segurança nacional. "Temos de esperar que, até setembro, a crise tenha passado e que os eleitores pensem no Atlanta Braves [time de futebol americano do Estado da Geórgia, EUA] quando ouvirem a palavra "Geórgia'", brincou um democrata importante.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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