São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Paquistanês quer exportar estratégia contra insurgência

DO ENVIADO AO PAQUISTÃO

Saifullah Orekzani recosta-se em sua cadeira e pede para o ajudante ligar o gerador, já que a luz acabou, como ocorre sempre no Paquistão. "Se o mundo olhar para cá, verá que temos a solução para aplicar no Afeganistão de vez."
O "cá" a que se refere é a agência tribal de Mohmand, elo vital nas conexões entre insurgentes paquistaneses e afegãos há duas décadas. Orekzani, coronel que comanda a unidade Mohmand Rifles há um ano, leva a reportagem a campo para tentar provar sua tese.
O Taleban infestou a pequena e populosa (500 mil habitantes) região a partir de 2007. O Frontier Corps não pôde conter a ameaça. Em agosto passado, chegaram um reforço do Exército e dois helicópteros.
"Empregamos combate tribal adequado a esse terreno montanhoso e com vales grandes. Dominamos os pontos altos para vigiar as rotas e tomamos os vales em movimentos de pinça", diz Orekzani.
Na etapa dois da estratégia defendida por Orekzani: milicianos locais conhecidos como khazardars se posicionam em pontos estratégicos nas regiões já pacificadas. "A ideia é ganhar a confiança dos locais após mostrar a força e dar-lhes poder tribal. Assim, podem nos indicar onde estão os criminosos que escaparam."
Mas essa cultura de delação não vai contra a Justiça? "Aqui, como no Afeganistão, a Justiça serve para casos mais graves."
Para Orekzani, o Estado presente na forma militar e o poder local podem estimular a atividade econômica, evitando deserções das fidelidades recém-adquiridas. Em Mohmand, diz, o futuro está nas reservas de mármore. Os planos para uma Cidade do Mármore chegaram a ser anunciados em 2008.
"Eu contei tudo isso para Richard Holbrooke", diz Orekzani, mostrando as fotos do encontro deste ano com o enviado especial de Barack Obama à região. E ele? "Prometeu que ia ver como ajudar."
O problema é que o Afeganistão não tem um Exército local que possa ganhar a confiança, ainda que temporária, dos moradores. O país, com diversas divisões étnicas, levaria anos para criar batalhões com raízes locais capazes de ganhar a confiança dos chefes das tribos.
E, de todo modo, o Ocidente quer um Exército nacional por lá, algo que nunca existiu. "Isso é um erro. As forças têm de ser locais, falar com os representantes ligados ao governo localmente", diz Orekzani.
Nem tudo é tão simples, contudo. Quando falava com a Folha, na quinta passada, o coronel recebeu uma ligação do comissário político local. Ahmad Ali Khan queria saber algo sobre distribuição de alimentos a refugiados. No sábado, ele foi morto pelo Taleban. (IG)


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