São Paulo, terça-feira, 17 de setembro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Decisão pode esvaziar pressão americana para que uma ação militar contra o país seja aprovada

Iraque aceita volta de inspeções da ONU

DA REDAÇÃO

O Iraque anunciou ontem, em uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que aceita incondicionalmente o retorno das inspeções de armamentos da ONU ao país. "Posso confirmar para vocês que eu recebi uma carta das autoridades iraquianas afirmando sua decisão de permitir o retorno dos inspetores sem condições", disse Annan.
A decisão, anunciada por Annan no início da noite de ontem, pode esvaziar a pressão americana para que o Conselho de Segurança da ONU aprove uma resolução permitindo uma ação militar contra o Iraque -um dos argumentos dos EUA para obter o aval é que o ditador Saddam Hussein não cumpre resoluções da ONU, entre elas a permissão para a volta dos inspetores.
As inspeções de armas foram impostas pela ONU após a Guerra do Golfo (1991), para fiscalizar e eliminar os arsenais de armas de destruição em massa do Iraque.
Os inspetores foram expulsos do país em 1998, acusados de espionar para os EUA, e nunca mais foram autorizados a retornar. A recusa do Iraque em permitir as inspeções levou os EUA e o Reino Unido a bombardear o país em dezembro de 1998.
Os EUA acusam o Iraque de estar desenvolvendo novamente armas químicas, biológicas e nucleares. Bagdá nega.
A decisão de permitir o retorno das inspeções foi tomada após reunião de emergência do gabinete iraquiano convocada por Saddam ontem à tarde.
Até então, o país condicionava o retorno das inspeções ao fim das sanções econômicas impostas ao país em 1990, após a invasão do Kuait que levou à Guerra do Golfo, e à eliminação das zonas de exclusão aérea ao norte e ao sul do país, impostas pelos EUA e pelo Reino Unido para evitar que Bagdá atacasse curdos e xiitas.
Para Annan, o discurso do presidente dos EUA, George W. Bush, na quinta-feira, pedindo um ultimato da ONU ao Iraque, ajudou a pressionar o país a aceitar o retorno das inspeções.
Segundo ele, a carta, assinada pelo chanceler iraquiano, Naji Sabri, seria enviada ao Conselho de Segurança, que deverá decidir o que fazer daqui para a frente. Uma cópia seria enviada também a Hans Blix, diretor-executivo do órgão da ONU responsável pelas inspeções de armas, Hans Blix.
Segundo um porta-voz da Comissão de Monitoramento, Verificação e Inspeção da ONU, Blix poderia enviar em breve ao Iraque alguns dos 60 inspetores que trabalham na sede das Nações Unidas. Mas a formação de uma equipe regular de inspeções, com gente de 44 países diferentes, poderia demorar ainda mais tempo.
Antes da decisão iraquiana, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, havia afirmado que o país estava sob intensa pressão mundial para cumprir as resoluções do Conselho de Segurança da ONU e evitar um ataque.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse ontem que os caças americanos e britânicos que patrulham as zonas de exclusão aérea ao sul e ao norte do Iraque mudaram de tática, atacando metodicamente as defesas aéreas iraquianas nessas zonas para evitar serem atacados.
Em outro sinal de aumento da tensão militar, um funcionário militar americano disse que o Iraque estaria movendo seus mísseis e outros equipamentos militares para perto de civis, repetindo gestos realizados no passado quando o país se sentiu ameaçado.


Com agências internacionais

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