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Sob cerco militar, governador de Pando não resiste à prisão
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A COBIJA (BOLÍVIA)
A prisão do governador de
Pando, Leopoldo Fernández,
ocorreu por volta das 10h30 em
Cobija, capital do departamento. Quatro colunas militares
cercaram a praça onde está a
sede do governo. Em seguida,
Fernández entrou num veículo
acompanhado de aliados políticos, de um advogado, do seu pai
e de um padre.
Ele é acusado pelo governo
de Evo Morales de estar por
trás da morte de ao menos 15
camponeses, na última quinta-feira, e de desrespeitar o estado
de sítio imposto ao departamento na sexta. "Neste país, os
intocáveis estão acabando",
disse Alfredo Rada, ministro de
Governo.
A reação contra a prisão de
Fernández se resumiu a alguns
gritos de "estamos contigo,
Leopoldo" de moradores e a
um grupo de cerca de 20 de motoqueiros que tentou chegar ao
aeroporto, transformado em
área de segurança militar.
Tiros no aeroporto
Os simpatizantes de Fernández, no entanto, foram recebido por tiros de advertência pelos militares que resguardam o
aeroporto. Cerca de uma hora
antes, os militares atiraram
contra um grupo de jornalistas
que estava a cerca de 500 metros da entrada do local, entre
os quais a reportagem da Folha. Um cinegrafista da agência
de notícias Reuters registrou o
momento em que um soldado
disparou na direção do grupo.
"Começou a ditadura na Bolívia", disse o senador oposicionista Paulo Bravo, que acompanhou Fernández até o avião. "A
nossa resistência sempre foi
pacífica, dentro do marco legal,
mas isso já será impossível na
Bolívia. Já é tarde."
Em La Paz, Morales disse que
a detenção "obedece a uma
ação legal e constitucional". "As
Forças Armadas estão cumprindo seu papel no marco do
estado de sítio."
O ministro Walker San Miguel (Defesa) disse que Fernández desacatou o estado de sítio
e foi preso com base nos artigos
da Constituição sobre a medida
de exceção. "Pelos meios de comunicação [ele] disse que resistiria à medida e gerou duas manifestações", afirmou.
Protestos e destino
Em El Alto, cidade majoritariamente indígena e pró-Morales na Grande La Paz, a prisão
foi comemorada com fogos de
artifício. Às 12h40, a aeronave
trazendo Fernández aterrissou
no aeroporto local.
Os partidários de Morales fechavam várias saídas do aeroporto com palavras de ordem
contra Fernández. Jornalistas
foram ameaçados e um assistente de câmera foi atingido, na
cabeça, por uma pedra.
O ministro da Defesa afirmou que o governador de Pando seria levado "para uma base
militar, em La Paz, onde teria
todas as garantias". Ele teria sido levado à base, por motivo de
segurança, em um helicóptero.
Mais tarde, García Linera
afirmou que o destino final de
Fernández "seria decidido nas
próximas horas". Pela Constituição boliviana, o governo deve levar Fernández e os demais
11 detidos em Pando diante de
um juiz em 48 horas.
Em Cobija, o ministro da
Presidência, Juan Ramón
Quintana, disse que o governo
indicará um substituto para
Fernández nas próximas horas.
Ele prometeu a reabertura do
aeroporto amanhã para vôos
comerciais.
Apesar da prisão de Fernández -ratificado no cargo com
56% no referendo revogatório
de agosto, quando Morales
também foi confirmado-, não
houve manifestações ontem
em Cobija, que continua sob
tensa calma, com a maior parte
do comércio fechada, ruas vazias e patrulhas regulares do
Exército e da Polícia Nacional
vigiando o cumprimento do estado de sítio.
Colaborou a enviada especial a La Paz
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