São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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Sob cerco militar, governador de Pando não resiste à prisão

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A COBIJA (BOLÍVIA)

A prisão do governador de Pando, Leopoldo Fernández, ocorreu por volta das 10h30 em Cobija, capital do departamento. Quatro colunas militares cercaram a praça onde está a sede do governo. Em seguida, Fernández entrou num veículo acompanhado de aliados políticos, de um advogado, do seu pai e de um padre.
Ele é acusado pelo governo de Evo Morales de estar por trás da morte de ao menos 15 camponeses, na última quinta-feira, e de desrespeitar o estado de sítio imposto ao departamento na sexta. "Neste país, os intocáveis estão acabando", disse Alfredo Rada, ministro de Governo.
A reação contra a prisão de Fernández se resumiu a alguns gritos de "estamos contigo, Leopoldo" de moradores e a um grupo de cerca de 20 de motoqueiros que tentou chegar ao aeroporto, transformado em área de segurança militar.

Tiros no aeroporto
Os simpatizantes de Fernández, no entanto, foram recebido por tiros de advertência pelos militares que resguardam o aeroporto. Cerca de uma hora antes, os militares atiraram contra um grupo de jornalistas que estava a cerca de 500 metros da entrada do local, entre os quais a reportagem da Folha. Um cinegrafista da agência de notícias Reuters registrou o momento em que um soldado disparou na direção do grupo.
"Começou a ditadura na Bolívia", disse o senador oposicionista Paulo Bravo, que acompanhou Fernández até o avião. "A nossa resistência sempre foi pacífica, dentro do marco legal, mas isso já será impossível na Bolívia. Já é tarde."
Em La Paz, Morales disse que a detenção "obedece a uma ação legal e constitucional". "As Forças Armadas estão cumprindo seu papel no marco do estado de sítio."
O ministro Walker San Miguel (Defesa) disse que Fernández desacatou o estado de sítio e foi preso com base nos artigos da Constituição sobre a medida de exceção. "Pelos meios de comunicação [ele] disse que resistiria à medida e gerou duas manifestações", afirmou.

Protestos e destino
Em El Alto, cidade majoritariamente indígena e pró-Morales na Grande La Paz, a prisão foi comemorada com fogos de artifício. Às 12h40, a aeronave trazendo Fernández aterrissou no aeroporto local.
Os partidários de Morales fechavam várias saídas do aeroporto com palavras de ordem contra Fernández. Jornalistas foram ameaçados e um assistente de câmera foi atingido, na cabeça, por uma pedra.
O ministro da Defesa afirmou que o governador de Pando seria levado "para uma base militar, em La Paz, onde teria todas as garantias". Ele teria sido levado à base, por motivo de segurança, em um helicóptero.
Mais tarde, García Linera afirmou que o destino final de Fernández "seria decidido nas próximas horas". Pela Constituição boliviana, o governo deve levar Fernández e os demais 11 detidos em Pando diante de um juiz em 48 horas.
Em Cobija, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, disse que o governo indicará um substituto para Fernández nas próximas horas. Ele prometeu a reabertura do aeroporto amanhã para vôos comerciais.
Apesar da prisão de Fernández -ratificado no cargo com 56% no referendo revogatório de agosto, quando Morales também foi confirmado-, não houve manifestações ontem em Cobija, que continua sob tensa calma, com a maior parte do comércio fechada, ruas vazias e patrulhas regulares do Exército e da Polícia Nacional vigiando o cumprimento do estado de sítio.

Colaborou a enviada especial a La Paz



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