São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / O VOTO E O BOLSO

McCain muda seu discurso sobre a crise

Republicano, que sempre defendeu desregulamentação, passa a pedir mais regras em Wall Street; Obama acusa rival de promessas vãs

Preocupação principal do eleitor, economia dos EUA vive colapso em sistema de crédito; para analistas, oposição deve se beneficiar

Stephan Savoia/Associated Press
McCain em evento na Flórida; republicano evitava falar em crise

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Um dia depois da pior queda da bolsa americana em sete anos, o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, ofereceu um novo e endurecido discurso no qual culpou a "cobiça de Wall Street" pela crise econômica que aflige os EUA e propôs maior supervisão do sistema financeiro -um contraste com seu histórico de opositor da regulamentação.
"Sob minhas reformas, os americanos serão protegidos por regulamentações abrangentes, que farão com que as regras sejam aplicadas até o fim", afirmou o candidato em Tampa (Flórida) ontem. Na TV, comerciais da campanha republicana reiteravam: "Regras mais duras em Wall Street vão proteger as poupanças".
McCain sempre afirmou ser "fundamentalmente um desregulador", como prega a cartilha republicana. Sua atuação no Senado reflete isso: em 1995, ele chegou a idealizar uma moratória em todos os tipos de regulamentação governamental -o plano não foi aprovado.
A mudança de tom chega depois de um fim de semana turbulento, no qual o banco Lehman Brothers, o quarto maior de investimentos dos EUA, anunciou concordata, e o Merrill Lynch, o terceiro maior, foi vendido para o Bank of America. A derrocada da economia dos EUA começou em meados de 2007, quando estourou a bolha hipotecária.
McCain afirmou também que é preciso maior transparência nas operações financeiras e propôs a formação de um painel para investigar as razões para a crise e corrigi-la.
Mas o republicano, que já admitiu não ter conhecimentos profundos sobre assuntos econômicos e que vinha evitando usar a palavra "crise", foi obrigado ontem a se explicar por ter repetido no dia anterior que "a base da economia americana é forte". "Eu quis dizer que os trabalhadores americanos, a base da economia, são esforçados, inovadores, criativos."
Para analistas, porém, esse é um caminho errado. "Ele deveria parar de dizer que a base da economia é forte, o que o faz parecer distante da realidade", afirmou Pippa Norris, analista política da Universidade Harvard. Ela diz também que, se o candidato não poderia fugir da promoção da regulamentação por causa da crise, o discurso de McCain é vago. "Há um monte de generalidades aí, não dá para saber ao certo o escopo das reformas propostas."

Sob ataque
Norris e outros analistas ouvidos pela Folha concordam que a crise deverá ter ecos negativos para McCain, por ter se iniciado quando seu partido está no poder. A economia é hoje a preocupação número um dos eleitores americanos.
Aproveitando-se disso, o candidato democrata, Barack Obama, atacou as propostas do rival no Colorado, culpando a Casa Branca pela crise.
Sobre um painel de análise da situação, Obama disse que "já sabemos como a confusão começou" e que McCain pretende passar a responsabilidade para frente. "A indignação dele [McCain] com Wall Street seria mais convincente se ele não estivesse propondo mais cortes de impostos para grandes empresas."
McCain prega cortes de impostos de empresas, o que diz ajudar a criação de empregos. Já Obama quer subir impostos de empresas e grandes fortunas e cortar os da classe média.
Segundo Alexander Keyssar, de Harvard, é nos impostos que os dois candidatos mais divergem. Em regulamentação, apesar de Obama ser mais favorável a um governo atuante, Keyssar crê que, "operacionalmente, ambos teriam atuação próxima ao centro".
Os democratas ainda criticaram Carly Fiorina, ex-CEO da Hewlett-Packard e uma das principais assessoras econômicas de McCain, por dizer que Obama "não é qualificado para gerir uma grande corporação".


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