São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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No México, blog faz sucesso ao driblar medo do tráfico

Autor, que não revela identidade, diz que publica tudo o que recebe, seja dos cartéis ou de fontes do governo

Com menos de 6 meses no ar, página com fotos e vídeos de violência recebe 3 milhões de visitas por semana


GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO

O silêncio imposto pelo narcotráfico mexicano à mídia tradicional fez surgir na internet uma alternativa para o debate sobre a violenta guerra entre cartéis do país.
Em menos de seis meses de atividade, o Blog del Narco (blogdelnarco.com) já publicou centenas de posts -sempre de autoria desconhecida- com bastidores do confronto que matou 26 mil pessoas, desde 2006.
São vídeos de interrogatórios entre traficantes, torturas, execuções. Fotos de corpos ensanguentados, rostos desfigurados. Na maioria dos casos, os cartéis "assinam" com orgulho as imagens e aproveitam para enviar recados a traidores ou rivais.
Entre as filmagens está o interrogatório de quatro homens identificados como membros do cartel do Golfo que foram capturados pelos Zetas. Os grupos, antes um só, disputam rotas de tráfico rumo aos EUA. Ao fim, cinco tiros. Todos mortos.
Meses antes, outro vídeo mostrava zetas capturados pelo cartel do Golfo dizendo roubar para comer, porque estavam sem pagamento. "Esse é o grupo dos Zetas, uma vergonha. Não paga e mata mulheres e crianças", sentencia o interrogador.
Mas não é só à guerra entre cartéis que serve o blog. Fontes aparentemente oficiais detalham operações. "Imagens fortes, fotos da autópsia", avisa post sobre o assassinato, por policiais, de Ignacio Nacho Coronel. O blog também é plataforma dos sequestradores do ex-senador Diego Fernández Cevallos, desaparecido desde maio.

ANONIMATO
Mesmo orgulhoso das cerca de 3 milhões de visitas semanais, o autor do Blog del Narco prefere permanecer anônimo. Em entrevista à Folha por e-mail, disse que decidiu criá-lo porque os meios de comunicação e o governo "tentam aparentar que nada está acontecendo".
"O México virou um dos países mais perigosos para a liberdade de imprensa, muitos repórteres foram mortos ou sequestrados por causa de uma nota", disse. "Os mexicanos queriam um meio que não digerisse as notícias antes de publicá-las."
Ele contou que nunca recebeu ameaças, mas que também toma cuidado para não atribuir adjetivos a nenhum dos envolvidos.
Contou que publica tudo o que recebe. "Fiquei impactado ao ver como decapitam alguém [desfecho de um dos vídeos]. As fotos não me afetam tanto, dá para se acostumar, mas esse tipo de vídeo não tem comparação."
Ele diz esperar, porém, que a violência sirva de alerta para "quem pensa em entrar no crime organizado".


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