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No México, blog faz sucesso ao driblar medo do tráfico
Autor, que não revela identidade, diz que publica tudo o que recebe, seja dos cartéis ou de fontes do governo
Com menos de 6 meses no ar, página com fotos e vídeos de violência recebe 3 milhões de visitas por semana
GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
O silêncio imposto pelo
narcotráfico mexicano à mídia tradicional fez surgir na
internet uma alternativa para o debate sobre a violenta
guerra entre cartéis do país.
Em menos de seis meses
de atividade, o Blog del Narco (blogdelnarco.com) já
publicou centenas de posts
-sempre de autoria desconhecida- com bastidores do
confronto que matou 26 mil
pessoas, desde 2006.
São vídeos de interrogatórios entre traficantes, torturas, execuções. Fotos de corpos ensanguentados, rostos
desfigurados. Na maioria dos
casos, os cartéis "assinam"
com orgulho as imagens e
aproveitam para enviar recados a traidores ou rivais.
Entre as filmagens está o
interrogatório de quatro homens identificados como
membros do cartel do Golfo
que foram capturados pelos
Zetas. Os grupos, antes um
só, disputam rotas de tráfico
rumo aos EUA. Ao fim, cinco
tiros. Todos mortos.
Meses antes, outro vídeo
mostrava zetas capturados
pelo cartel do Golfo dizendo
roubar para comer, porque
estavam sem pagamento.
"Esse é o grupo dos Zetas,
uma vergonha. Não paga e
mata mulheres e crianças",
sentencia o interrogador.
Mas não é só à guerra entre
cartéis que serve o blog. Fontes aparentemente oficiais
detalham operações. "Imagens fortes, fotos da autópsia", avisa post sobre o assassinato, por policiais, de Ignacio Nacho Coronel. O blog
também é plataforma dos sequestradores do ex-senador
Diego Fernández Cevallos,
desaparecido desde maio.
ANONIMATO
Mesmo orgulhoso das cerca de 3 milhões de visitas semanais, o autor do Blog del
Narco prefere permanecer
anônimo. Em entrevista à
Folha por e-mail, disse que
decidiu criá-lo porque os
meios de comunicação e o
governo "tentam aparentar
que nada está acontecendo".
"O México virou um dos
países mais perigosos para a
liberdade de imprensa, muitos repórteres foram mortos
ou sequestrados por causa
de uma nota", disse. "Os mexicanos queriam um meio
que não digerisse as notícias
antes de publicá-las."
Ele contou que nunca recebeu ameaças, mas que
também toma cuidado para
não atribuir adjetivos a nenhum dos envolvidos.
Contou que publica tudo o
que recebe. "Fiquei impactado ao ver como decapitam
alguém [desfecho de um dos
vídeos]. As fotos não me afetam tanto, dá para se acostumar, mas esse tipo de vídeo
não tem comparação."
Ele diz esperar, porém,
que a violência sirva de alerta para "quem pensa em entrar no crime organizado".
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