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Informe questiona pagamentos à Odebrecht
Documento da Controladoria-Geral do Equador condena 5 dos 10 aditivos contratuais firmados para obra de hidrelétrica
Empresa diz que negócios
de US$ 62 mi em questão
já haviam sido aprovados
pelo mesmo órgão e sugere
que a iniciativa é política
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Um informe da Controladoria-Geral do Equador considera injustificados ou irregulares
5 dos 10 aditivos feitos ao contrato original entre a empresa
pública equatoriana Hidropastaza e a construtura brasileira
Odebrecht para a construção
da usina hidrelétrica de San
Francisco.
Os valores envolvidos somam US$ 61,9 milhões, mais de
70% de todos os pagamentos
adicionais acertados entre a assinatura do contrato, em 2000,
e janeiro de 2007 -mês em que
Rafael Correa assumiu a Presidência do Equador.
O informe, concluído em 2 de
julho e disponível no site da
Controladoria, é mais um capítulo da disputa entre o governo
Correa e a Odebrecht.
Procurada pela Folha, a empresa disse que os aditivos são
legais e foram aprovados pela
mesma Controladoria, em governos anteriores. "A Controladoria não deixa de ser um organismo do Estado equatoriano, e, em função disso, estranhamos essa volta ao assunto",
disse Luiz Antônio Mameri, vice-presidente de Negócios Internacionais da Odebrecht.
Pela nova Constituição equatoriana, de 2008, a direção da
Controladoria será nomeada
pelo Conselho de Participação
Cidadã, o que só deve acontecer no próximo ano. A atual direção foi indicada pela Assembleia Nacional, de maioria governista.
No ano passado, a Odebrecht
foi expulsa do Equador, onde
participava de mais quatro projetos, depois que San Francisco
parou de produzir um ano após
sua inauguração, em decorrência do desgaste das rodas d'água das turbinas e do desabamento parcial do túnel de 11
km que leva a água do rio Pastaza ao equipamento.
O governo equatoriano
apontou má qualidade na obra;
a Odebrecht disse que os problemas foram causados pela
erupção de um vulcão, que lançou dejetos na água. A hidrelétrica voltou a funcionar, mas
teve problemas neste ano.
Orçada inicialmente em US$
286,8 milhões, a usina foi financiada em US$ 243 milhões
pelo BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social), sob a forma de exportação de bens e serviços.
Pelo contrato, 60% do valor
dos insumos para a obra teria
que ser gasto no Brasil.
O Equador está pagando o
empréstimo, garantido pelo
CCR, convênio pelo qual os
bancos centrais dos países da
Associação Latino-Americana
de Integração responsabilizam-se pelo pagamento de
operações do tipo.
Uma ameaça de não pagamento levou o Brasil a retirar
seu embaixador em Quito por
dois meses, em novembro passado. Na época, integrantes do
governo atribuíram a atitude
de Correa à campanha para o
referendo que aprovou a nova
Carta, que ele promovia.
Correa pediu uma arbitragem da dívida na Câmara Internacional de Comércio e
anunciou, em abril último, que
pedirá na Justiça indenização
de US$ 210 milhões à Odebrecht. A empresa afirma não
ter sido notificada de nenhuma
ação judicial.
Os pagamentos extras questionados tiveram as seguintes
justificativas: 1) aumento do
preço dos insumos devido ao
atraso das obras, autorizadas
em 2004; 2) trabalhos extras
para liberar broca presa em
acidente alheio à construtora;
3) custos provocados por condições geológicas diferentes
das previstas no projeto original, que era equatoriano; e 4)
ajuste financeiro em decorrência da valorização do real
-moeda na qual a Odebrecht
recebeu os repasses do
BNDES- diante do dólar.
No primeiro caso, a Controladoria diz que foram usados
indicadores inadequados para
medir a variação do preço dos
insumos. No segundo, que a
Hidropastaza deveria ter recebido indenização integral, pelo
acidente com a broca, da seguradora da Odebrecht. No terceiro, relativo a dois aditivos,
que as obras acabaram não se
adequando ao terreno.
O maior dos cinco aditivos,
de US$ 29 milhões, se refere à
diferença cambial. "A desvalorização inusual do dólar frente
ao real brasileiro não acompanhou o aumento de custos dos
insumos no Brasil", disse a
construtora na época.
A Controladoria alega que a
conversão cambial citada no
contrato não se aplica à Hidropastaza, para a qual a moeda do
contrato e a moeda de pagamento (por meio da compensação entre Bancos Centrais) era
a mesma, o dólar.
O informe da Controladoria
inclui as contestações de um
advogado da Odebrecht, que
nega irregularidades e aponta
inconsistências legais no relatório. Questionado se é comum
que contratos do tipo cubram
risco cambial, Luiz Antônio
Mameri disse que isso pode
acontecer por meio de cláusula
específica ou embutido no preço. "Neste caso, achamos mais
transparente dizer que, se isso
acontecer, vamos a uma negociação, que foi o que ocorreu."
Segundo ele, a empresa não
chegou a receber os US$ 29 milhões, que seriam pagos por
meio de títulos de energia futura da Hidropastaza.
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