São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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Geopolítica decide convite a novos membros

DA REDAÇÃO

Os sete países do Leste Europeu que deverão ser convidados pela Otan a integrar seus quadros a partir de 2004 se consideram preparados para dar esse passo, com o qual deixariam a situação em que se encontram desde 1991, quando desmoronou o Pacto de Varsóvia, maior rival da aliança militar ocidental nos tempos da Guerra Fria -criado em 1955.
Contudo, segundo analistas ouvidos pela Folha, as condições práticas impostas pela Otan aos candidatos, como a modernização e o enxugamento de suas Forças Armadas e a elevação de seus gastos militares, não deverão constituir um entrave se não forem respeitadas (hipótese muito provável).
"O fator geopolítico é essencial no caso dos países que pleiteiam um lugar na aliança militar. No que se refere à Romênia e à Bulgária, sua localização estratégica é crucial para a Otan, já que elas se situam perto do Cáucaso e do mar Negro", explicou Davis Bobrow, pesquisador no Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (EUA).
Essa análise, que é compartilhada por boa parte dos diplomatas ocidentais que tratam da questão, exaspera as autoridades romenas e búlgaras.
Para elas, embora o aspecto geopolítico seja importante, os dois países merecem uma vaga na Otan porque têm vasta experiência na luta contra o crime organizado na região do mar Negro -um cruzamento vital entre a Europa e a Ásia-, o que ajudará no combate ao terrorismo internacional.
"Não há diferença entre crime organizado e terrorismo internacional", afirmou recentemente Miho Mihov, assessor da Presidência da Bulgária. Em tempos de guerra ao terrorismo, é irrefutável que seu argumento é apropriado.
Para a Otan, os países bálticos também são relevantes estrategicamente. "Sozinhas, a Estônia, a Letônia e a Lituânia ficam expostas demais à influência e ao poder dos russos. Assim, também é bom tê-las no seio da aliança", avaliou Bobrow.
Já a Eslovênia, a única ex-república iugoslava a ter saído relativamente ilesa do desmembramento ocorrido na década passada, é geopoliticamente crucial justamente por isso.
"Os Bálcãs ainda não são totalmente estáveis, porém a Eslovênia foi bem-sucedida em seu processo de transição. Sua entrada na Otan é quase um prêmio, além de permitir que o Ocidente vigie a evolução política da região", analisou Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica (Paris).
Já a situação da Eslováquia é curiosa, de acordo com ele. Afinal, o país é vizinho de quatro países da aliança -Polônia, República Tcheca, Áustria e Hungria- e da Ucrânia, que era uma república da URSS, a maior inimiga dos EUA no mundo bipolar da Guerra Fria.
"A Rússia deixou de ser a grande vilã, tornou-se até parceira estratégica, mas Moscou ainda dispõe de um vasto arsenal de armas de destruição em massa, o que justifica que o país seja monitorado de perto", indicou Tertrais. (MSM)



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