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entrevista
Desigualdade é crucial, diz pesquisadora
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO
O crescimento econômico da América Latina
nos últimos quatro anos
não se reverteu em maior
apoio à democracia na
maior parte da região.
Para a economista chilena Marta Lagos, diretora
da Fundação Latinobarómetro, as pessoas reconhecem avanços, mas
acham que eles não foram
suficientes. A seguir trechos da entrevista à Folha, feita em São Paulo.
FOLHA - A América Latina está crescendo nos últimos anos.
Isso implica maior otimismo?
LAGOS - Não. Apesar de a
região ter crescido como
nunca nos últimos 25
anos, há uma queda na
aprovação à economia de
mercado. Em dez anos, o
apoio foi de 67% para 52%.
FOLHA - Por quê?
LAGOS - Os conflitos na
sociedade não foram resolvidos. Por exemplo, há
um reconhecimento de
que privatizações trouxeram benefícios. No Brasil,
houve um crescimento do
reconhecimento de 32%
em 2003 para 45%.
Mas as pessoas não estão felizes. Elas reconhecem que há mais saúde,
educação, que a situação
econômica está melhor.
Mas a questão é sua posição relativa na sociedade:
"Os outros estão tendo
acessos de forma mais rápida e eu não estou rápido
o suficiente". Essa lógica
faz as pessoas dizerem: vamos voltar ao Estado.
FOLHA - É algo ideológico?
LAGOS - Não. Não creio
que seja uma guinada à esquerda. As pessoas estão
se colocando cada vez
mais no centro. Não querem revoluções, querem
moderação. Em uma escala de zero a dez no espectro ideológico, sendo que
um é quem se diz muito
esquerdista, a média brasileira é de 5,8.
Mas entre os brasileiros,
por exemplo, quase 80%
acham que há um conflito
entre ricos e pobres. Há
uma ordem do dia, que é a
desigualdade. Essa ordem
do dia é que está produzindo as mudanças na sociedade, não os líderes esquerdistas.
FOLHA - Como a senhora
analisa o apoio à democracia?
LAGOS - Há um aumento
da satisfação com a democracia e uma queda do
apoio. O apoio à democracia não é apenas econômico ou político. Tem a ver
com a estrutura da sociedade. Se você, por exemplo, é um índio boliviano
que nasceu no lugar errado, você precisa acreditar
que vai ter a mesma chance de crescer por causa de
suas capacidades pessoais
do que outras pessoas. É
preciso alterar a estrutura
da rede de confiança entre
as pessoas e também haver mobilidade social.
NA INTERNET - Leia a íntegra
da entrevista em www.folha.com.br/073201
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