São Paulo, sábado, 17 de novembro de 2007

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entrevista

Desigualdade é crucial, diz pesquisadora

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

O crescimento econômico da América Latina nos últimos quatro anos não se reverteu em maior apoio à democracia na maior parte da região. Para a economista chilena Marta Lagos, diretora da Fundação Latinobarómetro, as pessoas reconhecem avanços, mas acham que eles não foram suficientes. A seguir trechos da entrevista à Folha, feita em São Paulo.

 

FOLHA - A América Latina está crescendo nos últimos anos. Isso implica maior otimismo?
LAGOS -
Não. Apesar de a região ter crescido como nunca nos últimos 25 anos, há uma queda na aprovação à economia de mercado. Em dez anos, o apoio foi de 67% para 52%.

FOLHA - Por quê?
LAGOS -
Os conflitos na sociedade não foram resolvidos. Por exemplo, há um reconhecimento de que privatizações trouxeram benefícios. No Brasil, houve um crescimento do reconhecimento de 32% em 2003 para 45%. Mas as pessoas não estão felizes. Elas reconhecem que há mais saúde, educação, que a situação econômica está melhor.
Mas a questão é sua posição relativa na sociedade: "Os outros estão tendo acessos de forma mais rápida e eu não estou rápido o suficiente". Essa lógica faz as pessoas dizerem: vamos voltar ao Estado.

FOLHA - É algo ideológico?
LAGOS -
Não. Não creio que seja uma guinada à esquerda. As pessoas estão se colocando cada vez mais no centro. Não querem revoluções, querem moderação. Em uma escala de zero a dez no espectro ideológico, sendo que um é quem se diz muito esquerdista, a média brasileira é de 5,8.
Mas entre os brasileiros, por exemplo, quase 80% acham que há um conflito entre ricos e pobres. Há uma ordem do dia, que é a desigualdade. Essa ordem do dia é que está produzindo as mudanças na sociedade, não os líderes esquerdistas.

FOLHA - Como a senhora analisa o apoio à democracia?
LAGOS -
Há um aumento da satisfação com a democracia e uma queda do apoio. O apoio à democracia não é apenas econômico ou político. Tem a ver com a estrutura da sociedade. Se você, por exemplo, é um índio boliviano que nasceu no lugar errado, você precisa acreditar que vai ter a mesma chance de crescer por causa de suas capacidades pessoais do que outras pessoas. É preciso alterar a estrutura da rede de confiança entre as pessoas e também haver mobilidade social.


NA INTERNET - Leia a íntegra da entrevista em www.folha.com.br/073201


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