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Protesto racial atrai milhares nos EUA
Em Washington, multidão cerca Departamento de Justiça e pede mais rigor contra crimes de ódio
Caso ocorrido em cidade sulista foi o estopim; as investigações prosseguem, afirmou novo secretário da Justiça americano ontem
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Movidos por uma série de incidentes causados por racismo,
milhares de manifestantes cercaram pacificamente ontem a
sede do Departamento de Justiça norte-americano para pedir mais rigor na aplicação de
leis contra crimes de ódio. Liderada por ativistas negros, a
passeata encheu cinco quarteirões na tarde fria de Washington até desembocar na sede do
ministério.
Uma vez lá, as pessoas deram
sete voltas em torno do prédio,
numa referência ao episódio bíblico da derrubada das muralhas de Jericó. À frente da fila
iam líderes e ativistas negros
como os reverendos Al Sharpton, Jesse Jackson e Martin
Luther King Terceiro. Todos
gritavam palavras de ordem como "O que queremos? Justiça!
Quando queremos? Agora!" e
"Sem Justiça, sem paz!".
O motor do movimento é o
incidente que ficou conhecido
como "Os Seis de Jena", referência aos adolescentes da cidade do Estado sulista de Louisiana acusados de bater num
colega branco, no final de 2006.
Eles teriam sido tratados com
excesso de rigor pela polícia local, que fez vista grossa aos incidentes raciais que levaram ao
confronto -como a colocação
de cordas imitando forcas em
árvores por jovens brancos.
Ao incidente seguiu-se uma
série de provocações em outras
cidades dos EUA por grupos de
supremacistas brancos. O ato
mais comum é a colocação daquele símbolo racista na porta
da casa de ativistas, de entidades de direitos negros ou de escolas de maioria negra. Em setembro, cerca de 20 mil pessoas
protestaram na cidadezinha de
3.000 habitantes. O protesto de
ontem foi o passo seguinte.
Empossado anteontem por
George W. Bush, o novo titular
do Departamento de Justiça a
princípio se recusou a falar com
a liderança dos manifestantes.
Com o passar das horas e a recusa das pessoas a irem embora, Michael Mukasey soltou enfim uma declaração oficial. Nela, mostra simpatia ao movimento e diz que, em conjunto
com o FBI e as polícias estaduais e municipais, o órgão vem
conduzindo investigações que,
"para ser eficazes, ocorrem longe dos olhos do público".
Pelas contas do representante (deputado federal) Artur Davis, democrata pelo Estado do
Alabama presente na passeata
de ontem, caiu o número de
pessoas indiciadas por crimes
de ódio. Foram 22 casos no ano
passado, ante 76 há dez anos,
segundo o político. "Os números já não eram grande coisa
nos anos de Reno", disse, referindo-se à secretária de Justiça
Janet Reno (1993-2001), do governo Clinton. "Mas agora são
simplesmente ridículos."
Anteontem, antecipando-se
ao protesto, o Departamento
de Justiça divulgou que sua Divisão de Direitos Civis vinha
batendo recordes em condenações na área, com 189 casos no
ano fiscal de 2007, que terminou em outubro, ultrapassando
o ano anterior, de 181 condenações, o que já era recorde.
"Há "Jenas" em todos os lugares", disse Al Sharpton. "Ninguém conseguiria fazer as pessoas saírem nesse frio se elas
não vissem "Jenas" em outros
lugares, se não se sentissem familiarizadas com isso."
"Não é como em 1963, quando houve a marcha histórica,
mas há um movimento no ar",
disse Martin Luther King 3º, filho do mais conhecido ativista
negro norte-americano, assassinado em 1968, cinco anos depois de liderar a Marcha de
Washington, que reuniu 250
mil pessoas na capital dos EUA.
O movimento pode ser resumido em números. Segundo o
Pew Research Center, apenas
um em cada cinco negros diz
que sua situação é melhor do
que há cinco anos, a menor porcentagem desde 1983. Já o Projeto Mobilidade Econômica
calcula que 69% dos brancos
nascidos no início da década de
60 ganham mais do que os pais,
ante 46% entre os negros.
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