São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Epidemia de cólera causa violência no norte do Haiti

Seis capacetes azuis foram feridos e dois manifestantes morreram anteontem em protestos coordenados

LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO

A ONU afirmou que os protestos violentos ocorridos no norte do Haiti anteontem foram organizados por um grupo com motivações políticas.
O objetivo seria criar um clima de insegurança no país para influenciar o resultado das eleições gerais marcadas para o dia 28 deste mês.
Segundo a ONU, milhares de pessoas ergueram barricadas nas ruas e atacaram forças de segurança nas cidades de Cap-Haitien, Quartier Morin (ambas a cerca de 300 km de Porto Príncipe), Hinche (130 km da capital) e diversas vilas e cidades do norte.
Os manifestantes atacaram os capacetes azuis com pedradas, bombas caseiras incendiárias e disparos de armas de fogo.
As tropas responderam usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e até munição letal.
Os manifestantes exigiram a saída das tropas da ONU do Haiti. Eles se baseavam na suspeita de que militares do Nepal, que integram as forças de paz, teriam trazido acidentalmente a bactéria da cólera do sul da Ásia -iniciando uma epidemia.
A ONU negou que suas tropas tenha iniciado a epidemia e disse basear sua defesa em testes de laboratório.
"A única maneira de enfrentar a coléra é manter a solidariedade com as autoridades nacionais e a comunidade internacional", disse ontem à noite o presidente haitiano, René Préval.
A base do Nepal em Hinche foi apedrejada por cerca de mil pessoas durante as manifestações. Lá é a instalação suspeita de ter despejado esgoto contaminado em um afluente do rio Artibonite, onde a doença surgiu.
Oficiais ligados ao comando da missão disseram suspeitar que os protestos foram organizados por políticos de oposição ao governo de René Préval.
Eles não disseram, porém, se esses grupos estariam ligados a algum candidato à Presidência específico.
Desde o início da epidemia de cólera, o candidato governista Jude Célestin tem caído nas pesquisas de intenção de voto no país.
Em comunicado, a ONU pediu que a população "permaneça vigilante e não seja manipulada por inimigos da estabilidade e da democracia no país".
Os seis militares feridos faziam parte de batalhões do Nepal e do Chile (o Brasil não possui tropas fixas na região). Pelo menos 19 manifestantes foram feridos, e dois morreram.

VÍTIMAS
Uma das vítimas fatais, segundo a ONU, era um haitiano que estava em um grupo armado que tentou se aproximar de um heliponto em uma base das Nações Unidas em Quartier Morin.
Ele foi morto a tiros pelos capacetes azuis. A ONU abriu uma investigação sobre o caso depois que a mídia local afirmou que a vítima foi atingida nas costas.
A segunda vítima fatal era um rapaz, encontrado baleado em uma rua onde houve protestos em Cap-Haitien.
A população acusou a ONU, mas a organização afirmou que seus militares não estavam naquela região.
Um depósito de medicamentos da ONU para tratamento da cólera também foi saqueado durante os protestos em Cap-Haitien.
Ontem, embora novos confrontos não tenham sido registrados, a situação era tensa no norte do país -com algumas barricadas e disparos esporádicos. Já Porto Príncipe permaneceu calma.
A tropa do Nepal afirmou ter reforçado suas posições em Hinche.


Texto Anterior: Saiba mais: Prisões tiveram início após ações do 11 de Setembro
Próximo Texto: Doença matou mais de 1.000 em um mês
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.