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Epidemia de cólera causa violência no norte do Haiti
Seis capacetes azuis foram feridos e dois manifestantes morreram anteontem em protestos coordenados
LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO
A ONU afirmou que os protestos violentos ocorridos no
norte do Haiti anteontem foram organizados por um grupo com motivações políticas.
O objetivo seria criar um
clima de insegurança no país
para influenciar o resultado
das eleições gerais marcadas
para o dia 28 deste mês.
Segundo a ONU, milhares
de pessoas ergueram barricadas nas ruas e atacaram forças de segurança nas cidades
de Cap-Haitien, Quartier Morin (ambas a cerca de 300 km
de Porto Príncipe), Hinche
(130 km da capital) e diversas
vilas e cidades do norte.
Os manifestantes atacaram os capacetes azuis com
pedradas, bombas caseiras
incendiárias e disparos de armas de fogo.
As tropas responderam
usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e
até munição letal.
Os manifestantes exigiram
a saída das tropas da ONU do
Haiti. Eles se baseavam na
suspeita de que militares do
Nepal, que integram as forças de paz, teriam trazido acidentalmente a bactéria da
cólera do sul da Ásia -iniciando uma epidemia.
A ONU negou que suas tropas tenha iniciado a epidemia e disse basear sua defesa
em testes de laboratório.
"A única maneira de enfrentar a coléra é manter a solidariedade com as autoridades nacionais e a comunidade internacional", disse ontem à noite o presidente haitiano, René Préval.
A base do Nepal em Hinche foi apedrejada por cerca
de mil pessoas durante as
manifestações. Lá é a instalação suspeita de ter despejado
esgoto contaminado em um
afluente do rio Artibonite,
onde a doença surgiu.
Oficiais ligados ao comando da missão disseram suspeitar que os protestos foram
organizados por políticos de
oposição ao governo de René
Préval.
Eles não disseram, porém,
se esses grupos estariam ligados a algum candidato à Presidência específico.
Desde o início da epidemia
de cólera, o candidato governista Jude Célestin tem caído
nas pesquisas de intenção de
voto no país.
Em comunicado, a ONU
pediu que a população "permaneça vigilante e não seja
manipulada por inimigos da
estabilidade e da democracia
no país".
Os seis militares feridos faziam parte de batalhões do
Nepal e do Chile (o Brasil não
possui tropas fixas na região). Pelo menos 19 manifestantes foram feridos, e
dois morreram.
VÍTIMAS
Uma das vítimas fatais, segundo a ONU, era um haitiano que estava em um grupo
armado que tentou se aproximar de um heliponto em uma
base das Nações Unidas em
Quartier Morin.
Ele foi morto a tiros pelos
capacetes azuis. A ONU abriu
uma investigação sobre o caso depois que a mídia local
afirmou que a vítima foi atingida nas costas.
A segunda vítima fatal era
um rapaz, encontrado baleado em uma rua onde houve
protestos em Cap-Haitien.
A população acusou a
ONU, mas a organização afirmou que seus militares não
estavam naquela região.
Um depósito de medicamentos da ONU para tratamento da cólera também foi
saqueado durante os protestos em Cap-Haitien.
Ontem, embora novos
confrontos não tenham sido
registrados, a situação era
tensa no norte do país -com
algumas barricadas e disparos esporádicos. Já Porto
Príncipe permaneceu calma.
A tropa do Nepal afirmou
ter reforçado suas posições
em Hinche.
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