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ANÁLISE
Monarquia britânica mantém simbologia histórica apolítica
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O episódio ocorreu em
1986 ou há algum tempo ao
redor disso. Numa cerimônia
pública, o pequeno William
cometeu uma reinação, e a
mãe dele, Lady Di, deu-lhe
um tapa no bumbum. Alguns
comentaristas criticaram a
princesa porque, afinal, o
bumbum de um futuro rei
não deveria ser exposto a essa forma um tanto degradante de punição.
O fato é que a monarquia
britânica persiste com sua
forte simbologia histórica
porque os reis que se sucederam desde meados do século
17 abriram mão do poder político. São personificações do
Estado, pouco importam as
cores ideológicas do Parlamento ou do governo que deriva da maioria.
Essa característica, existente em outras monarquias
constitucionais, construiu-se
porque o monarca não tomou o partido de uma das
facções da sociedade.
Na França, por exemplo, a
República foi instalada e interrompida no século 19, e
persiste até hoje, porque os
monarquistas, aliados à hierarquia católica, eram inimigos dos sindicatos ou dos
partidos de esquerda.
No Brasil, por volta de
1870, a propaganda republicana via no imperador um
agente das desigualdades sociais que, a bem da verdade,
persistiram e se agravaram
depois do 15 de Novembro. O
que importava é que a República trazia um lastro simbólico de igualdade.
Entre os britânicos, nada
disso aconteceu. Já no século
16 o país assegurava contra a
Espanha a hegemonia nos
mares e passava a construir
um império cujo desmantelamento em nenhum momento
prejudicou a autoridade virtual de Elizabeth 2ª.
Antes dela, os escândalos
se diluíam por não afetarem
a solidez do Estado, como a
abdicação de Eduardo 8º, em
dezembro de 1936, para poder se casar com a divorciada
Wallis Simpson. Lady Diana
e o príncipe Charles exercitaram a extraconjugalidade
sem que esses "incidentes"
comprometessem o trono.
William será provavelmente rei. Além do Reino
Unido, assumirá nominalmente a chefia do Estado de
16 outros países, como as Bahamas, o Canadá, a Nova Zelândia ou a Jamaica.
Nenhum deles cogitou ultimamente de abrir mão de
um monarca nascido e morador na Inglaterra.
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