São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Monarquia britânica mantém simbologia histórica apolítica

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O episódio ocorreu em 1986 ou há algum tempo ao redor disso. Numa cerimônia pública, o pequeno William cometeu uma reinação, e a mãe dele, Lady Di, deu-lhe um tapa no bumbum. Alguns comentaristas criticaram a princesa porque, afinal, o bumbum de um futuro rei não deveria ser exposto a essa forma um tanto degradante de punição.
O fato é que a monarquia britânica persiste com sua forte simbologia histórica porque os reis que se sucederam desde meados do século 17 abriram mão do poder político. São personificações do Estado, pouco importam as cores ideológicas do Parlamento ou do governo que deriva da maioria.
Essa característica, existente em outras monarquias constitucionais, construiu-se porque o monarca não tomou o partido de uma das facções da sociedade.
Na França, por exemplo, a República foi instalada e interrompida no século 19, e persiste até hoje, porque os monarquistas, aliados à hierarquia católica, eram inimigos dos sindicatos ou dos partidos de esquerda.
No Brasil, por volta de 1870, a propaganda republicana via no imperador um agente das desigualdades sociais que, a bem da verdade, persistiram e se agravaram depois do 15 de Novembro. O que importava é que a República trazia um lastro simbólico de igualdade.
Entre os britânicos, nada disso aconteceu. Já no século 16 o país assegurava contra a Espanha a hegemonia nos mares e passava a construir um império cujo desmantelamento em nenhum momento prejudicou a autoridade virtual de Elizabeth 2ª.
Antes dela, os escândalos se diluíam por não afetarem a solidez do Estado, como a abdicação de Eduardo 8º, em dezembro de 1936, para poder se casar com a divorciada Wallis Simpson. Lady Diana e o príncipe Charles exercitaram a extraconjugalidade sem que esses "incidentes" comprometessem o trono.
William será provavelmente rei. Além do Reino Unido, assumirá nominalmente a chefia do Estado de 16 outros países, como as Bahamas, o Canadá, a Nova Zelândia ou a Jamaica.
Nenhum deles cogitou ultimamente de abrir mão de um monarca nascido e morador na Inglaterra.


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