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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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ANÁLISE

Contratos, não prisão de Saddam, atraem europeus

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Contratos ligados à reconstrução do Iraque, não a aclamada prisão de Saddam Hussein, poderão abrandar a oposição da França, da Alemanha e da Rússia à ocupação do Iraque, de acordo com especialistas em relações entre os EUA e a Europa ouvidos pela Folha.
Richard Armitage, subsecretário de Estado dos EUA, disse esperar que a detenção de Saddam atraísse um maior apoio aos esforços de estabilização e de reconstrução do Iraque liderados pelos americanos.
Em visita a Paris e a Berlim, contudo, o enviado especial dos EUA James Baker obteve mais sucesso que os diplomatas americanos que tentavam conseguir, em Nova York, a anuência da ONU ao cronograma da transição iraquiana.
Na Europa, Baker, um advogado bem-sucedido que, segundo o "New York Times", representa empresas interessadas em obter contratos no Iraque, busca obter de franceses, de alemães e de russos o perdão de parte da dívida iraquiana.
Não está claro se ele ofereceu ontem a franceses e a alemães a oportunidade de participar da distribuição de contratos relacionados à reconstrução -na semana passada, os EUA decidiram que os países que se opuseram à guerra não receberiam contratos. Todavia a mudança de tom de Paris e de Berlim leva a crer que isso seja provável.
"A França, a Alemanha e a Rússia querem aparar as arestas deixadas pela disputa diplomática que precedeu a guerra. Mas isso não significa que a prisão de Saddam seja suficiente para atrair seu apoio a um processo de reconstrução do qual discordam", disse Charles Kupchan, diretor do Council on Foreign Relations (EUA).
"A captura de Saddam foi bem-vinda. Porém o problema é mais complexo. Os vultosos contratos ligados à reconstrução são mais relevantes para a melhora das relações transatlânticas. É por isso que os europeus ficaram indignados com a decisão americana de excluí-los do processo", analisou Christian Lequesne, diretor do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (França).
Se Washington não usou a questão dos contratos para tentar convencer os europeus a aceitar perdoar parte da dívida, por que Paris e Berlim anunciaram que poderiam fazê-lo, embora, até a semana passada, afirmassem o contrário?
Para Lequesne, os franceses e os alemães podem ter feito uma "aposta perigosa". "Se isso ainda não foi negociado e a França e a Alemanha pretendem agradar aos EUA para tentar persuadi-los a mudar de idéia em relação à distribuição dos contratos, os franceses e os alemães poderão ficar bastante decepcionados. Afinal, o atual governo dos EUA é bem mais ideológico que os anteriores e não me parece estar inclinado a mudar de posição só por conta de um gesto diplomático."


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