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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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ONU falhou contra Saddam, acusa iraquiano

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

A atuação da ONU no Iraque foi duramente criticada pelo chanceler do Conselho de Governo Iraquiano, Hoshyar Zebari, durante debate, ontem, no Conselho de Segurança (CS) da organização.
Zebari afirmou que a ONU falhou na missão de salvar milhares de iraquianos de uma "tirania assassina" que durou mais de 24 anos. "Hoje, nós estamos desenterrando milhares de vítimas que são a prova desse fracasso. As Nações Unidas não podem falhar novamente", disse Zebari em discurso diante do CS. O debate foi organizado para discutir o futuro da reconstrução iraquiana.
O ministro iraquiano disse ainda que Saddam Hussein tem de dar satisfação ao povo iraquiano, para que o Iraque possa começar o que Zebari qualificou como um "longo e já tardio processo de reconciliação" do país.

Superação de diferenças
Zebari criticou também a desunião do CS. Para ele, a instituição tem de ser "um fórum coletivo para ajudar [os iraquianos] a atingir os objetivos de reestruturar e democratizar o país".
O ministro compareceu ao debate para apresentar o cronograma de transferência de soberania desenhado pelo Conselho de Governo Iraquiano. Segundo o plano, as eleições e a elaboração da Constituição teriam até o final de 2005 para se concretizar.
Para os EUA, dentro da ONU, a prisão do ex-ditador iraquiano é vista como uma forma de superação das diferenças em relação à França e à Alemanha, países opositores da Guerra no Iraque.
Esse objetivo parece estar próximo. Os dois países se mostram receptivos à proposta americana de reestruturação da dívida externa iraquiana.
O representante americano na ONU, John Negroponte, declarou que os EUA apóiam a transferência de poder para os iraquianos, mas que não antevêem uma nova resolução das Nações Unidas para o país num futuro próximo.
No seu pronunciamento, o secretário anunciou também os projetos de participação da ONU na reconstrução do país.

Transferência rápida
No mesmo debate, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também pediu urgência na transferência de poder aos iraquianos.
Segundo o secretário, a medida pode ser um passo fundamental para assegurar a estabilidade no país. "A tarefa de restaurar o exercício efetivo da soberania dos iraquianos é urgente", disse ontem diante do CS.
Annan enfatizou que o fato de não ser possível organizar eleições "livres, justas e confiáveis" no curto prazo não deve representar um empecilho para tornar mais rápido o processo para a soberania do Iraque.
O novo enviado especial interino da ONU para o país, Ross Mountain, vai coordenar os esforços para o retorno de funcionários das Nações Unidas para o Iraque "assim que as circunstâncias permitirem", disse. Ross foi nomeado para substituir Sérgio Vieira de Mello, morto num atentado contra a sede da ONU em Bagdá, em agosto.
Quanto à prisão de Saddam, Annan disse: "A sua captura não é apenas um símbolo da derrocada do antigo regime do Iraque. Ela é também uma oportunidade para um novo começo na tarefa vital de ajudar os iraquianos a terem o controle do seu destino".


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