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ONU falhou contra Saddam, acusa iraquiano
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A atuação da ONU no Iraque foi
duramente criticada pelo chanceler do Conselho de Governo Iraquiano, Hoshyar Zebari, durante
debate, ontem, no Conselho de
Segurança (CS) da organização.
Zebari afirmou que a ONU falhou na missão de salvar milhares
de iraquianos de uma "tirania assassina" que durou mais de 24
anos. "Hoje, nós estamos desenterrando milhares de vítimas que
são a prova desse fracasso. As Nações Unidas não podem falhar
novamente", disse Zebari em discurso diante do CS. O debate foi
organizado para discutir o futuro
da reconstrução iraquiana.
O ministro iraquiano disse ainda que Saddam Hussein tem de
dar satisfação ao povo iraquiano,
para que o Iraque possa começar
o que Zebari qualificou como um
"longo e já tardio processo de reconciliação" do país.
Superação de diferenças
Zebari criticou também a desunião do CS. Para ele, a instituição
tem de ser "um fórum coletivo
para ajudar [os iraquianos] a atingir os objetivos de reestruturar e
democratizar o país".
O ministro compareceu ao debate para apresentar o cronograma de transferência de soberania
desenhado pelo Conselho de Governo Iraquiano. Segundo o plano, as eleições e a elaboração da
Constituição teriam até o final de
2005 para se concretizar.
Para os EUA, dentro da ONU, a
prisão do ex-ditador iraquiano é
vista como uma forma de superação das diferenças em relação à
França e à Alemanha, países opositores da Guerra no Iraque.
Esse objetivo parece estar próximo. Os dois países se mostram receptivos à proposta americana de
reestruturação da dívida externa
iraquiana.
O representante americano na
ONU, John Negroponte, declarou
que os EUA apóiam a transferência de poder para os iraquianos,
mas que não antevêem uma nova
resolução das Nações Unidas para
o país num futuro próximo.
No seu pronunciamento, o secretário anunciou também os
projetos de participação da ONU
na reconstrução do país.
Transferência rápida
No mesmo debate, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também pediu urgência na transferência de poder aos iraquianos.
Segundo o secretário, a medida
pode ser um passo fundamental
para assegurar a estabilidade no
país. "A tarefa de restaurar o exercício efetivo da soberania dos iraquianos é urgente", disse ontem
diante do CS.
Annan enfatizou que o fato de
não ser possível organizar eleições "livres, justas e confiáveis"
no curto prazo não deve representar um empecilho para tornar
mais rápido o processo para a soberania do Iraque.
O novo enviado especial interino da ONU para o país, Ross
Mountain, vai coordenar os esforços para o retorno de funcionários das Nações Unidas para o Iraque "assim que as circunstâncias
permitirem", disse. Ross foi nomeado para substituir Sérgio
Vieira de Mello, morto num atentado contra a sede da ONU em
Bagdá, em agosto.
Quanto à prisão de Saddam,
Annan disse: "A sua captura não é
apenas um símbolo da derrocada
do antigo regime do Iraque. Ela é
também uma oportunidade para
um novo começo na tarefa vital de
ajudar os iraquianos a terem o
controle do seu destino".
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