|
Próximo Texto | Índice
Religião dos candidatos domina corrida nos EUA
Republicanos à frente da disputa têm crenças diferentes, o que já causa preocupação
46% dos republicanos de Iowa, primeiros a votar nas primárias, dizem que fé é importante; democratas preferidos são protestantes
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DES MOINES (IOWA)
Há alguns dias, além da cópia
do diário nacional "USA Today", os jornalistas do mundo
inteiro estacionados no hotel
Fort Des Moines, na capital de
Iowa, encontraram um papel
nas portas de seus quartos.
Apócrifo, trazia comentários
negativos sobre o mormonismo travestidos de informações,
como "você sabia que a maioria
dos americanos declarou em
pesquisa que não aceitaria que
a Casa Branca fosse ocupada
pelo seguidor de uma seita?".
Era um ataque direto à religião de um dos principais pré-candidatos republicanos às
eleições presidenciais de 2008,
o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, até um mês
o favorito em Iowa e agora em
segundo lugar, atrás do também ex-governador Mike Huckabee, do Arkasas.
Antes, telefonemas contrários à fé deste, ex-pastor batista, haviam sido disparados para
os eleitores locais e foram interrompidos após um dos que
receberam a ligação denunciou
o ato para as autoridades.
Nenhum dos dois lados assumiu a autoria das provocações,
mas elas servem como ilustração de um tema que pode definir a corrida de 2008: a religião
dos pré-candidatos. Num país
em que mais da metade da população se declara protestante
(52%), segundo o "The World
Factbook" da CIA, a variedade
de fés dos pré-candidatos com
chances reais de ocupar a Casa
Branca assusta muitos.
E deveria. Segundo pesquisa
recente do Pew Research Center, 25% dos eleitores republicanos ouvidos disseram que
não votariam num mórmon.
O número é reforçado quando o alvo são os eleitores de Iowa, que ganham importância
no início do ano porque o Estado é o primeiro a escolher candidatos, em 3 de janeiro. Dos
ouvidos pela Princeton Survey
Research Associates International, 46% disseram que a religião do candidato é importante
ou muito importante.
O partido da situação é o grupo mais diverso. Além de um
mórmom (Romney), há um católico (o ex-prefeito Rudolph
Giuliani, o primeiro colocado
nacionalmente), um anglicano
(o senador John McCain) e outro batista (o ex-ator e ex-senador Fred Thompson).
A importância da questão levou Romney a fazer, há duas semanas, um discurso na linha do
que fez o então candidato JFK
em setembro de 1960, no Texas, em que o democrata (e até
hoje o único presidente católico dos EUA) dizia acreditar que
"a separação entre igreja e Estado deva ser absoluta".
Oposição
Entre os democratas, a situação é um pouco mais tranqüila.
Tanto os senadores Hillary
Clinton e Barack Obama quanto o ex-senador John Edwards,
os três primeiros colocados nas
pesquisas, são da maioria protestante, embora de diferentes
denominações. Ainda assim, a
campanha do senador de Illinois tem um funcionário que
apenas desmente e-mails apócrifos que continuam sendo enviados dizendo que Obama, na
verdade, é "cria muçulmana".
Seus adversários se aproveitam da desinformação do público aliada ao temor pós-11 de
Setembro. Barack Hussein
Obama, já chamado de "Barack
Osama" em discurso por Romney -"sem querer", desculparia-se o republicano-, é filho e
afilhado de muçulmanos, mas
já disse publicamente que é
convertido por Cristo e freqüenta uma igreja protestante.
"Pesquisa após pesquisa
mostra que a maioria dos americanos quer alguém religioso
no comando da Casa Branca",
diz John Green, diretor do Pew
Research Center. A questão
agora é saber de qual religião.
Próximo Texto: Conservadores ganham "Guerra do Natal", diz comentarista Índice
|