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Racha no partido que derrubou apartheid cria nova legenda
Dissidência se diz "pós-racial" e adota retórica moderada; CNA é hegemônico na África do Sul desde o fim do regime racista
CNA faz evento paralelo contra recém-criada legenda; racha se arrasta desde a conferência do partido, no ano passado
DA REDAÇÃO
Dissidentes do Congresso
Nacional Africano (CNA), partido hegemônico na África do
Sul desde o final do apartheid,
em 1994, lançaram ontem uma
nova legenda. Liderado pelo ex-ministro da Defesa Mosiuoa
Lekota, o Congresso do Povo
(Cope, na sigla em inglês) consolida o racha na cúpula do
CNA, cindida desde a derrota
do então presidente Thabo
Mbeki na disputa pelo controle
do partido, em 2007.
"A história da África do Sul
jamais será a mesma", disse ontem Lekota, no discurso de
aceitação da presidência do Cope. Apresentado como alternativa para "todas as raças", o novo partido busca atrair os eleitores de classe média e empresários, receosos da influência
da esquerda no CNA, sob liderança de Jacob Zuma, favorito
à eleição presidencial de 2009.
Com apoio maciço de sindicatos, militantes e grupos de jovens, Zuma derrotou Mbeki na
disputa pela liderança do CNA,
em dezembro de 2007. Desgastado, Mbeki foi forçado a renunciar em setembro e Kgalema Motlanthe, alinhado a Zuma, assumiu interinamente a
Presidência do mais rico país
da África. Há um mês, os partidários de Mbeki anunciaram a
criação do novo partido.
São "perdedores ressentidos", disse Zuma, insistindo
ontem que o novo partido é "irrelevante" -ironicamente, o
discurso foi feito em um evento
paralelo na cidade universitária de Bloemfontein, convocado em reação ao lançamento
oficial do Cope.
Uma derrota do CNA no pleito presidencial de 2009, que será realizado entre abril e junho,
é considerada quase impossível. Mas o Cope pode levar a legenda a perder a maioria qualificada no Parlamento (2/3).
Antes mesmo de ser fundado,
o partido dissidente demonstrou força nas eleições locais da
Província do Cabo Ocidental,
no início do mês. Concorrendo
como independentes, políticos
do Cope conquistaram assentos de dez distritos, contra três
do CNA, que nunca teve grande
popularidade na Província.
A legenda dissidente busca
preservar sua associação histórica ao CNA, responsável pela
queda do regime segregacionista. O primeiro nome escolhido,
Congresso Nacional Sul-Africano, foi recusado por ser muito próximo ao do partido governista. O atual remete a um
evento histórico realizado em
1955 pelo CNA e também foi
questionado, mas a Suprema
Corte autorizou o uso.
"Pós-racial"
O Cope, porém, se autointitula uma versão amadurecida
da legenda, capaz de superar as
divisões raciais e "oferecer um
lar verdadeiro para todos os
sul-africanos". Até ontem, o
único grande partido de oposição era a Aliança Democrática,
que reúne quase exclusivamente brancos e mestiços.
"Somos o partido do futuro",
cantou ontem Lekota, puxando
o coro que repetiu a frase nas 11
línguas oficiais sul-africanas. A
alusão a Zuma, líder profundamente identificado com o povo
zulu, era óbvia.
Em um ato visto como provocação pelos partidários de Zuma, Lekota cantara anteontem
trechos de uma música folclórica dos descendentes de colonizadores, os africâneres, cuja
língua caiu em desgraça política após o fim do regime racista.
A assinatura musical do ex-guerrilheiro Zuma é "Awulethe
umshini wami" ("Tragam minha metralhadora", em zulu),
Marselhesa da luta antiapartheid. Ao som da canção, entoada por opositores quando discursava, Mbeki caiu em desgraça na 52ª Conferência Nacional
do CNA, em dezembro passado.
Com agências internacionais
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