São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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Chávez defende presença de Cuba na Cúpula das Américas

DO ENVIADO À COSTA DO SAUÍPE

O presidente venezuelano Hugo Chávez insinuou ontem que o conglomerado de países latino-americanos e caribenhos gostaria que Cuba fosse convidada para participar da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril.
A uma pergunta da Folha sobre essa hipótese, respondeu:
"É um poderoso sinal que [enviam] o Mercosul, a Alba, a Comunidade Andina, o Caricom [países caribenhos] e a Sica [centro-americanos], ao dar na Bahia mágica as boas-vindas à Cuba histórica, à Cuba de Fidel Castro, de Raúl Castro, do Che [Guevara]". "Cuba é a essência do coração e da dignidade dos povos da América Latina e do Caribe", acrescentou.
Cuba não participa do processo de Cúpula das Américas, lançado em 1994, em Miami, pelo então presidente dos EUA, Bill Clinton, cuja mulher, Hillary, será agora secretária de Estado, indicada pelo presidente eleito Barack Obama.
Para Chávez, o "sinal" das cúpulas da Bahia é o de que "os EUA já não mandam aqui".
As boas-vindas a Cuba foram de fato calorosas. O presidente Lula, na sua fala inaugural, fez questão de dar "destaque especial" à presença de Raúl Castro, que faz sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu a Presidência -antes de chegar ao Brasil, fez escala na Venezuela de Chávez.
Lula chegou a comparar a Bahia a Santiago de Cuba, histórica cidade colonial cubana.
"É muito importante para nós a sua presença, Raúl", afirmou Lula, para emendar: "Espero que seja a primeira de uma série de reuniões de que participa conosco" -a única frase do discurso de Lula que foi aplaudida pelos governantes presentes e suas comitivas.
Raúl recebeu mais que boas-vindas. Uma "declaração especial" de todos os 33 países da América Latina e do Caribe pede ao governo norte-americano que "cumpra com o disposto em 17 resoluções sucessivas aprovadas na Assembléia Geral das Nações Unidas de forma a pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro que mantém contra Cuba".
Raúl, em sua fala, foi menos enfático do que Rafael Correa na defesa de um esforço de integração voltado para dentro e excludente. Disse apenas ser "meritório" o empenho "a favor da integração e a defesa de seu espaço regional".
Criticou, como todo dirigente cubano faz há 50 anos, "uma ordem internacional injusta e egoísta", à qual responsabilizou pela crise, que disse ser "a manifestação mais grave e contundente" dessa ordem injusta.
Mas não deixou de apontar os obstáculos para a integração regional: os níveis diferentes de desenvolvimento entre os 33 países das cúpulas; as deficiências de infra-estrutura; a injustiça social. Festejou, porém, o fato de, pela primeira vez, haver um encontro que reúne "todas as nações ao sul do rio Bravo".
Mas não deixou de introduzir uma pitada de ceticismo sobre o futuro dessas cúpulas, que só o terão "se contarmos com a vontade de seguir avançando e não nos limitarmos ao prazer de nos haver reunido".
À tarde, Cuba foi formalmente integrada ao Grupo do Rio, fórum multilateral agora com 23 países de América do Sul, América Central e o México -país do qual, aliás, a ilha começou a se reaproximar com o anúncio de visitas recíprocas, de Raúl e de Felipe Calderón.
À noite, Lula voltou a pedir a Obama o fim do embargo a Cuba. Pediu ainda paz no Oriente Médio. "Se isso ocorrer, penso que, mais do que o simbolismo da eleição de um negro, poderei dizer que creio, cada vez mais, que Deus existe".
O chanceler Celso Amorim negou que a reintegração de Cuba e o caloroso tratamento representem algum tipo de pressão sobre o futuro presidente. "Não foi feito com a intenção de pressionar ninguém." Emendou: "Se servir para que o futuro presidente [dos EUA] veja para onde estão soprando os ventos, ótimo". (CR)





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