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Chávez defende presença de Cuba na Cúpula das Américas
DO ENVIADO À COSTA DO SAUÍPE
O presidente venezuelano
Hugo Chávez insinuou ontem
que o conglomerado de países
latino-americanos e caribenhos gostaria que Cuba fosse
convidada para participar da
Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, em abril.
A uma pergunta da Folha sobre essa hipótese, respondeu:
"É um poderoso sinal que
[enviam] o Mercosul, a Alba, a
Comunidade Andina, o Caricom [países caribenhos] e a Sica [centro-americanos], ao dar
na Bahia mágica as boas-vindas
à Cuba histórica, à Cuba de Fidel Castro, de Raúl Castro, do
Che [Guevara]". "Cuba é a essência do coração e da dignidade dos povos da América Latina e do Caribe", acrescentou.
Cuba não participa do processo de Cúpula das Américas,
lançado em 1994, em Miami,
pelo então presidente dos
EUA, Bill Clinton, cuja mulher,
Hillary, será agora secretária
de Estado, indicada pelo presidente eleito Barack Obama.
Para Chávez, o "sinal" das
cúpulas da Bahia é o de que "os
EUA já não mandam aqui".
As boas-vindas a Cuba foram
de fato calorosas. O presidente
Lula, na sua fala inaugural, fez
questão de dar "destaque especial" à presença de Raúl Castro,
que faz sua primeira viagem ao
exterior desde que assumiu a
Presidência -antes de chegar
ao Brasil, fez escala na Venezuela de Chávez.
Lula chegou a comparar a
Bahia a Santiago de Cuba, histórica cidade colonial cubana.
"É muito importante para
nós a sua presença, Raúl", afirmou Lula, para emendar: "Espero que seja a primeira de
uma série de reuniões de que
participa conosco" -a única
frase do discurso de Lula que
foi aplaudida pelos governantes presentes e suas comitivas.
Raúl recebeu mais que boas-vindas. Uma "declaração especial" de todos os 33 países da
América Latina e do Caribe pede ao governo norte-americano que "cumpra com o disposto
em 17 resoluções sucessivas
aprovadas na Assembléia Geral
das Nações Unidas de forma a
pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro que
mantém contra Cuba".
Raúl, em sua fala, foi menos
enfático do que Rafael Correa
na defesa de um esforço de integração voltado para dentro e
excludente. Disse apenas ser
"meritório" o empenho "a favor da integração e a defesa de
seu espaço regional".
Criticou, como todo dirigente cubano faz há 50 anos, "uma
ordem internacional injusta e
egoísta", à qual responsabilizou pela crise, que disse ser "a
manifestação mais grave e contundente" dessa ordem injusta.
Mas não deixou de apontar
os obstáculos para a integração
regional: os níveis diferentes de
desenvolvimento entre os 33
países das cúpulas; as deficiências de infra-estrutura; a injustiça social. Festejou, porém, o
fato de, pela primeira vez, haver um encontro que reúne
"todas as nações ao sul do rio
Bravo".
Mas não deixou de introduzir uma pitada de ceticismo sobre o futuro dessas cúpulas,
que só o terão "se contarmos
com a vontade de seguir avançando e não nos limitarmos ao
prazer de nos haver reunido".
À tarde, Cuba foi formalmente integrada ao Grupo do
Rio, fórum multilateral agora
com 23 países de América do
Sul, América Central e o México -país do qual, aliás, a ilha
começou a se reaproximar com
o anúncio de visitas recíprocas,
de Raúl e de Felipe Calderón.
À noite, Lula voltou a pedir a
Obama o fim do embargo a Cuba. Pediu ainda paz no Oriente
Médio. "Se isso ocorrer, penso
que, mais do que o simbolismo
da eleição de um negro, poderei dizer que creio, cada vez
mais, que Deus existe".
O chanceler Celso Amorim
negou que a reintegração de
Cuba e o caloroso tratamento
representem algum tipo de
pressão sobre o futuro presidente. "Não foi feito com a intenção de pressionar ninguém." Emendou: "Se servir
para que o futuro presidente
[dos EUA] veja para onde estão
soprando os ventos, ótimo".
(CR)
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