São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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análise

Para analistas, EUA de fato perdem poder

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O chanceler Celso Amorim estava certo ao dizer anteontem na abertura da multicúpula da Bahia que os EUA perderam a "hegemonia" na América Latina, segundo diplomatas e especialistas consultados pela Folha.
A constatação da independência decisória da região é pertinente, mas "chega tarde", segundo o ex-embaixador do Brasil em Washington Roberto Abdenur: "Desde o fim da Guerra Fria (1991), época em que apoiavam ditaduras na América do Sul e Central, os EUA voltaram suas atenções para a Ásia".
Segundo Marcelo Coutinho, do Observatório Político Sul-Americano, o distanciamento entre a América Latina e os EUA se refletiu no fracasso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), um projeto da Casa Branca que acabou engavetado no início dos anos 2000 com a proliferação de governos sul-americanos refratários ao pacto.
Em vez da Alca, os governos regionais, mesmo divididos sobre muitas questões, apostaram em organismos que excluem os EUA -Mercosul, Caricom, Unasul.
Nos últimos anos, a Casa Branca vem mantendo atuação mais discreta na região, após episódios polêmicos como o apoio ao fracassado golpe contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em 2002. Além do México, que integra o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, sua aliança mais forte é com a Colômbia, cujo plano antidrogas e antiguerrilha financia.
Para o americano Peter Hakim, presidente do Inter American Dialogue, está "morta e enterrada" a Doutrina Monroe, do início do século 19, pela qual os EUA passaram a ver o Hemisfério Ocidental como zona de influência.
"Quase ninguém em Washington lamenta o fim da hegemonia ou quer que a América Latina seja o nosso quintal", afirma. Segundo ele, os EUA não temem relações regionais com China e Rússia. "Só o Irã, considerado um Estado terrorista, preocupa."
Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil em Paris, prevê um fosso cada vez maior entre América Latina e EUA. "Barack Obama tem duas grandes preocupações: a crise econômica e as tropas no Iraque e no Afeganistão."
Já Coutinho acha que Obama deve escolher entre "aceitar a divisão de poder regional e cooperar mais com países como o Brasil ou tentar usar seu capital de simpatia para reconquistar terreno".


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