São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA

Primeira disputa do calendário eleitoral de 2004, amanhã, expõe quadro indefinido na oposição a Bush

Democratas iniciam corrida embolados

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Quatro pré-candidatos democratas chegam embolados à primeira disputa oficial do partido para decidir quem deverá ser o opositor do presidente George W. Bush na eleição presidencial norte-americana de novembro.
O calendário "para valer" da eleição dos EUA começa amanhã, em Iowa. O Estado será o primeiro a decidir a preferência entre seis dos oito pré-candidatos que aspiram à indicação do Partido Democrata para concorrer contra o republicano Bush em 2 de novembro próximo.
Embora Iowa tenha somente 3 milhões de residentes e apenas 7 das 538 cadeiras do Colégio Eleitoral que vai eleger formalmente o presidente neste ano, a decisão no Estado é tradicionalmente importante por marcar, logo de saída, as chances de cada candidato.
Importância semelhante é dada também à decisão da primária de New Hampshire, o segundo evento do calendário do processo eleitoral que começa amanhã. O Estado, com quatro cadeiras no Colégio Eleitoral, fará sua escolha no próximo dia 27.
Os nomes que saírem com força tanto em Iowa quanto em New Hampshire terão mais chances de continuar arrecadando fundos de campanha e de mobilizar o eleitorado democrata na maratona de primárias que acontece nos próximos meses.
Não por acaso, aparecem na frente para a disputa em Iowa os quatro pré-candidatos democratas que mais gastaram dinheiro até agora com publicidade, cabos eleitorais e material promocional.
As últimas pesquisas eleitorais mostram o senador John Kerry (Massachusetts) com ligeira vantagem sobre Howard Dean, ex-governador de Vermont, John Edwards, senador pela Carolina do Norte, e Richard Gephardt, deputado pelo Missouri.
A proximidade entre os quatro desencadeou uma nova onda de ataques de lado a lado.
Há uma semana, Dean, que vem sendo apontado como favorito à indicação democrata em pesquisas nacionais, mantinha uma liderança folgada em Iowa -a vantagem desapareceu.
O pré-candidato, líder na arrecadação de fundos até o momento, perdeu terreno nos últimos dias mesmo após receber o apoio de políticos tradicionais de Iowa e de Carol Braun, que já foi a nona pré-candidata do partido e que abandonou a corrida na quinta-feira passada. Dean também recebeu sinais de apoio do ex-presidente Jimmy Carter.
Uma derrota de Dean em Iowa, apesar da pequena mas relativa importância do Estado, poderá arranhar a dinâmica de uma campanha que muitos vinham considerado favorita e abrir novas possibilidades para o vencedor no Estado.
É o que a campanha de John Kerry espera conquistar amanhã.
Kerry, veterano da Guerra do Vietnã e rico o suficiente para financiar boa parte de sua campanha com fundos próprios, vem "rodando" há semanas os Estados de Iowa e New Hampshire atrás desse impulso inicial.
Para isso, pilota muitas vezes pessoalmente um helicóptero carregado de jornalistas e assessores para comícios em cidades médias e pontos remotos dos dois Estados.
Diferentemente das primárias, a escolha em Iowa ocorrerá por meio de um mecanismo conhecido como "caucus" (assembléia partidária), onde milhares de eleitores participam de reuniões em quase 2.000 pontos do Estado.
Nesses encontros, serão indicados representantes que mais tarde vão ajudar a escolher os delegados do partido que participarão da Convenção Nacional Democrata, em junho, em Boston.
Iowa tem cerca de 532 mil eleitores democratas registrados e espera-se que ao menos 80 mil participem do processo amanhã.
Em razão da peculiaridade do "caucus", os pré-candidatos deslocaram centenas de cabos eleitorais para Iowa a fim de tentar convencer, um a um, os eleitores a darem o seu apoio.
A campanha de Dean, por exemplo, esperava que pessoas contratadas e voluntários batessem em pelos menos 200 mil portas no Estado até as 19h de amanhã. É nesse horário que começam as reuniões para a escolha dos candidatos, realizadas normalmente em escolas, igrejas e prédios do corpo de bombeiros.
Apesar de ser o ponto de partida do processo de escolha do candidato, principalmente para reforçar as chances dos favoritos, o "caucus" de Iowa não é determinante.
O pré-candidato e general reformado Wesley Clark, por exemplo, não está fazendo campanha no Estado.
Clark tem concentrado energia e dinheiro para a primeira bateria de primárias importantes, no próximo dia 3 de fevereiro, quando haverá votações no mesmo dia nos seguintes Estados: Arizona, Delaware, Missouri, Oklahoma, Carolina do Sul e "caucus" no Novo México e em Dakota do Norte.
Clark também vem apostando sua fichas na primária da semana que vem, em New Hampshire. O general aparece em segundo lugar no Estado, pouco atrás de Dean, reproduzindo ali uma tendência nacional captada por pesquisas de opinião.


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