São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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CHINA

Zhao Ziyang viveu 15 anos em prisão domiciliar

Morre dirigente expurgado por apoiar protestos de Tiananmen

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O dirigente comunista chinês Zhao Ziyang, expurgado em 1989 por apoiar os protestos estudantis na praça Tiananmen, morreu anteontem em Pequim, aos 85 anos. Zhao perdeu o cargo de secretário-geral do PC em maio daquele ano e passou os últimos 15 anos em prisão domiciliar.
Apontado no fim dos anos 80 como provável sucessor de Deng Xiaoping, Zhao entrou em choque com os demais líderes chineses ao se opor ao uso da força contra milhares de estudantes que por dois meses ocuparam a praça Tiananmen. para exigir reformas democratizantes.
No dia 19 de maio, ele visitou os manifestantes e, em discurso marcado por lágrimas, pediu, em vão, que encerrassem os protestos. No dia seguinte, o governo liderado por Deng Xiaoping e o primeiro-ministro Li Peng decretou lei marcial no país. Na madrugada de 3 para 4 de junho, o Exército invadiu a praça, em uma ação que teve como saldo a morte de centenas de estudantes.
Zhao foi substituído na secretaria-geral do partido por Jiang Zemin, que seria o dirigente máximo da China por dez anos.
Os jornais registraram a morte em uma lacônica note de cinco linhas, sob o título "Morre o camarada Zhao Ziyang".
O temor de que a notícia pudesse estimular protestos semelhantes aos de 1989 ficou claro na ação da censura. A CNN saiu do ar todas as vezes em que reportagens sobre o ex-dirigente eram transmitidas, e as redes de TV oficial mal mencionaram o caso. Os protestos de Tiananmen foram desencadeados pela morte de Hu Yaobang, outro ex-secretário-geral do Partido Comunista afastado por simpatizar com manifestações estudantis em 1987.
Mas a morte de Zhao Ziyang foi recebida com apatia nas ruas de Pequim. A internet foi o local escolhido para manifestações de pesar. O tema liderou o ranking das dez notícias mais comentadas no site da Universidade de Pequim, origem dos protestos de 1989. Alguns estudantes demonstravam dor pela perda, enquanto outros pediam que a história fizesse justiça à memória do dirigente.
A história de Zhao no partido começou em 1932, antes da Revolução. Entre 1937 e 1945 ele participou da resistência contra os invasores japoneses e, nos anos seguintes, da guerra civil que levaria à Revolução Comunista de 1949.
Em 1965 ele assumiu o cargo de secretário-geral do partido na província de Cantão, cargo semelhante ao de governador. Dois anos depois, Zhao foi destituído pela fúria iconoclasta da Revolução Cultural e enviado para trabalhar como operário em uma fábrica. Sua reabilitação veio em 1973, pelas mãos de Zhou Enlai.


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