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CHINA
Zhao Ziyang viveu 15 anos em prisão domiciliar
Morre dirigente expurgado por apoiar protestos de Tiananmen
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O dirigente comunista chinês
Zhao Ziyang, expurgado em 1989
por apoiar os protestos estudantis
na praça Tiananmen, morreu anteontem em Pequim, aos 85 anos.
Zhao perdeu o cargo de secretário-geral do PC em maio daquele
ano e passou os últimos 15 anos
em prisão domiciliar.
Apontado no fim dos anos 80
como provável sucessor de Deng
Xiaoping, Zhao entrou em choque com os demais líderes chineses ao se opor ao uso da força contra milhares de estudantes que
por dois meses ocuparam a praça
Tiananmen. para exigir reformas
democratizantes.
No dia 19 de maio, ele visitou os
manifestantes e, em discurso
marcado por lágrimas, pediu, em
vão, que encerrassem os protestos. No dia seguinte, o governo liderado por Deng Xiaoping e o
primeiro-ministro Li Peng decretou lei marcial no país. Na madrugada de 3 para 4 de junho, o Exército invadiu a praça, em uma ação
que teve como saldo a morte de
centenas de estudantes.
Zhao foi substituído na secretaria-geral do partido por Jiang Zemin, que seria o dirigente máximo da China por dez anos.
Os jornais registraram a morte
em uma lacônica note de cinco linhas, sob o título "Morre o camarada Zhao Ziyang".
O temor de que a notícia pudesse estimular protestos semelhantes aos de 1989 ficou claro na ação
da censura. A CNN saiu do ar todas as vezes em que reportagens
sobre o ex-dirigente eram transmitidas, e as redes de TV oficial
mal mencionaram o caso. Os protestos de Tiananmen foram desencadeados pela morte de Hu
Yaobang, outro ex-secretário-geral do Partido Comunista afastado por simpatizar com manifestações estudantis em 1987.
Mas a morte de Zhao Ziyang foi
recebida com apatia nas ruas de
Pequim. A internet foi o local escolhido para manifestações de pesar. O tema liderou o ranking das
dez notícias mais comentadas no
site da Universidade de Pequim,
origem dos protestos de 1989. Alguns estudantes demonstravam
dor pela perda, enquanto outros
pediam que a história fizesse justiça à memória do dirigente.
A história de Zhao no partido
começou em 1932, antes da Revolução. Entre 1937 e 1945 ele participou da resistência contra os invasores japoneses e, nos anos seguintes, da guerra civil que levaria
à Revolução Comunista de 1949.
Em 1965 ele assumiu o cargo de
secretário-geral do partido na
província de Cantão, cargo semelhante ao de governador. Dois
anos depois, Zhao foi destituído
pela fúria iconoclasta da Revolução Cultural e enviado para trabalhar como operário em uma fábrica. Sua reabilitação veio em 1973,
pelas mãos de Zhou Enlai.
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