São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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AMÉRICA LATINA

Colômbia diz ter provas de que Caracas protege terroristas; Brasil pode ajudar nas negociações sobre a crise

Cresce confronto entre Bogotá e Caracas

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Longe de oferecer a retratação que pede o governo do venezuelano Hugo Chávez pela captura de um alto chefe das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em Caracas, a Colômbia optou por subir o tom de confrontação contra o governo vizinho, esquentando a disputa entre os dois países.
Às acusações de Chávez de que havia "subornado" funcionários venezuelanos para prender Rodrigo Granda, o "chanceler" das Farc, e dispensado os mecanismos legais para a captura do terrorista, o governo Álvaro Uribe respondeu com um desafio -e uma provocação.
"A Colômbia vai dar provas ao governo venezuelano de que funcionários desse país estavam protegendo Granda", afirmou Bogotá em nota. "Acolher terroristas viola a soberania da Colômbia porque aumenta o risco de uso de terror contra seus cidadãos."
Violação de soberania é justamente a principal acusação de Chávez contra Bogotá, que admitiu na semana passada ter pago pela prisão do terrorista. Sem um pedido formal de desculpas, Caracas ameaça manter suspensas as relações diplomáticas e comerciais entre os dois países.
Já Bogotá sustenta que pagou para que Granda fosse capturado por forças venezuelanas e entregue aos colombianos apenas em Cúcuta, na fronteira.
Ontem, a Venezuela incrementou a segurança nas fronteiras com a Colômbia, mas negou que a movimentação tivesse relação com a disputa.
Do lado colombiano, o ministro da Defesa, Jorge Uribe, o primeiro a admitir o pagamento, disse estar disposto a renunciar ao cargo caso isso ajude a solucionar a crise.
"O governo colombiano busca desviar a atenção do centro da disputa, que é a prisão de Granda, recordando a escassa cooperação da Venezuela e a conivência de algumas autoridades venezuelanas com a presença das Farc lá", disse à Folha Alfredo Rangel, presidente da ONG Fundação Segurança e Democracia.
Internamente, esse discurso tem sustentação. "A maioria da opinião pública respalda o presidente, e tem havido poucas vozes críticas. O que se vê na Colômbia, algo que não é usual, é o despertar de uma atitude chauvinista, nacionalista e antivenezuelana."
Chávez propôs um encontro com Uribe, mas, ao contrário do que defendeu o colombiano, rechaçou uma reunião multilateral sobre o caso. Ontem, o chanceler do Peru, Manuel Rodríguez Cuadros, chegou a Caracas para ajudar na solução da crise.
O assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo brasileiro considera a crise entre Uribe e Chávez um "problema estritamente bilateral" e que, caso haja uma solicitação dos dois países, estudará uma forma de ajudar nas negociações.


Com Fabiano Maisonnave, de Washington, e agências internacionais

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