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HAITI EM RUÍNAS
Países lutam para definir papel em socorro
Comu
nicado divulgado ontem e reunião do Conselho de Segurança da ONU, hoje, tentam esclarecer quem faz o quê
Brasília e Washington reivindicam protagonismo que corre o risco de ser prejudicial ao objetivo final, que é ajudar os haitianos
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Visando pôr fim a uma disputa por liderança que pode atrapalhar os esforços de ajuda humanitária, EUA, Brasil e outros
países tentam definir o papel
dos envolvidos na condução
dos esforços de resgate, segurança e reconstrução do Haiti.
Brasília e Washington reivindicam um protagonismo que, segundo assessores de ambos os
lados, pode prejudicar o objetivo final da ação, que é ajudar os
haitianos atingidos pelo terremoto. Por pressão do Brasil e a
pedido do México, o Conselho
de Segurança da Organização
das Nações Unidas se reúne hoje para tratar do assunto.
A reunião da instância principal da ONU, na qual o Brasil
tem assento temporário desde
1º de janeiro, segue outra tentativa de esclarecer as funções de
cada um, um memorando conjunto que seria divulgado na
noite de ontem mas não foi tornado público até a conclusão
desta edição. O Brasil chefia a
Minustah, a força de paz da
ONU, hoje com 7.000 homens
no Haiti, mas na semana que
começa os EUA terão enviado
10 mil soldados ao país.
"Está sendo negociado memorando para que fiquem claras quais são as responsabilidades", disse Antônio Patriota,
secretário-geral do Itamaraty,
em entrevista ontem, na base
militar brasileira na capital haitiana. "O meu entendimento é
que essas tropas americanas
estão exclusivamente para dar
apoio à ajuda humanitária, não
terão função de segurança pública, que é a função da Minustah. E, aqui em Porto Príncipe,
muito especificamente das tropas brasileiras."
Em visita a Porto Príncipe no
sábado, Hillary Clinton sugeriu
que o governo de Barack Obama buscava mais poder de ação
no país para poder atuar sem
amarras inclusive em questões
de segurança. A secretária de
Estado americana disse que esperava que o Legislativo local
aprovasse decreto de emergência aumentando os poderes do
presidente haitiano, René Préval, a exemplo do que ocorreu
após os furacões de 2008.
Segundo Hillary, o decreto dá
ao governo haitiano "uma
quantidade enorme de autoridade, que eles podem exercer
eles mesmos ou, mais provável
nessa situação, delegar". De
acordo com a chanceler, as forças americanas não correm o
risco de entrar em em choque
com as brasileiras. "Estamos
trabalhando para auxiliá-los,
mas não para suplantá-los",
disse, sobre as forças da ONU,
ressaltando que "eles estão
aqui há anos, têm um comando
e um controle estabelecidos".
Como parte das manobras
diplomáticas para esfriar a tensão em campo, o comandante
da força-tarefa dos EUA para o
Haiti, general Ken Keen, elogiou seu colega brasileiro, o general Floriano Peixoto, à frente
da Minustah, em dois programas de TV ontem. Indagado sobre quem estava no comando
no país, ele primeiro disse que
era um esforço conjunto entre
Haiti, ONU, EUA e comunidade internacional.
"Eu quero parabenizar a nação do Brasil, em particular o
comandante das forças multinacionais aqui, o general brasileiro Floriano Peixoto", disse
Keen. "Eu o conheço há 30
anos, nós trabalhamos juntos
antes e estamos coordenando
os esforços para fazer tudo o
que pudermos para levar os suprimentos ao povo haitiano."
Em outro programa, respondendo a pergunta semelhante,
o americano foi mais direto.
Depois de dizer que definir o
comando numa situação dessas
era o maior desafio, ele confirmou que os EUA já estavam
trabalhando em questões táticas e operacionais com Peixoto.
"Mas nós vamos elevar isso, e
vai ser aí que teremos de coordenar e sincronizar esses esforços para assegurar que estamos
colocando o que precisamos
em solo, tão rápido quanto possível e usando todas as habilidades à disposição."
Colaborou FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a Porto Príncipe
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