São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Arquitetos reagem a catástrofes com conceitos simples e baratos

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Casas, ambulatórios e escolas feitas com tubos de papelão recicláveis e chapas de madeira compensada se espalharam pelo Sri Lanka e na Indonésia depois do tsunami de 2004.
O arquiteto japonês Shigeru Ban ofereceu esta ideia simples, barata e rápida de se fazer em grande escala, como resposta ao medo de milhares de pessoas que preferiam dormir na rua a voltar para suas casas.
Como na tragédia do Haiti, as paredes de concreto podem desabar após qualquer uma das centenas de réplicas que sucedem um terremoto.
Na moldura de suas construções, os tubos de papelão recicláveis são reforçados e preparados à prova d'água e resistentes ao fogo, o piso é de espuma e o teto é feito com madeira compensada, revestido de policarbonato isolante.
De Sichuan, destruída por um terremoto em 2008 na China, a Nova Orleans pós-Katrina, arquitetos têm trabalhado com a ideia de um recomeço rápido e sustentável em áreas devastadas, ideias que podem ser empregadas no Haiti.
Shigeru Ban já tinha usado seu talento para obras temporárias após um terremoto na Turquia e o genocídio em Ruanda, mas foi em seu país, após o terremoto de Kobe, em janeiro de 1995, que Ban começou a estudar como responder a catástrofes que deixam milhares sem teto.
"Sou contra o desperdício, então precisamos usar a tecnologia e os materiais já existentes", afirma Ban, que acabou criando um escritório só para pesquisar novos materiais, o chamado "banlab".

Alicerce alternativo
O japonês já recorreu a caixas de cerveja cheias de areia como sustentação para suas construções e até adaptou contêineres, dependendo das peculiaridades do lugar onde está a obra.
Em 2008, Ban liderou um grupo de jovens arquitetos da ONG Retumu após o terremoto de Sichuan, na China, junto com o Laboratório da Universidade Keio, do Japão.
Os arquitetos Zhu Tao e Shuqing Li desenharam uma escola com corredores especialmente largos para favorecer atividades extraclasse, luz natural na maior parte da construção, além de um buraco em uma das pontas, de onde se abre um auditório ao ar livre.
"Além de seguras e confortáveis, queremos que as classes tenham o melhor formato para o ensino, que consigam economizar energia e integradas ao meio ambiente", explicou Zhu à Folha.

Casas do Brad Pitt
O arquiteto chinês radicado nos Estados Unidos Ming Tang, 34, desenhou grandes abrigos feitos de bambu, e dobráveis, com inspiração no origami.
Em um projeto bastante mais caro e ambicioso, o ator Brad Pitt lidera duas ONGs em Nova Orleans que estão testando novos tipos de moradia a Nova Orleans, que, como o Haiti, é frequentemente afetada por enchentes e furacões.
A Global Green e a Maket it right New Orleans ("verde global" e "faça certo Nova Orleans") convidaram arquitetos como Thom Mayne e David Aldjaye e escritórios como MVRDV para criar casas com madeira reciclada, energia solar e um desenho que as protejam das intempéries habituais - como o térreo suspenso e um acesso fácil ao teto para facilitar resgates após enchentes.
Tanto as chamadas "Brad Pitt houses" como as construções de madeira e tijolos de Shigeru Ban na vila de Kirinda, em Sri Lanka, estão se tornando símbolos e modelos - suas inovações já inspiram dezenas de projetos semelhantes.


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