São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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EUA

Negroponte, que era embaixador no Iraque, terá como missão evitar erros como os que permitiram o 11 de Setembro

Bush põe diplomata na chefia da Inteligência

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

O presidente George W. Bush anunciou ontem a escolha do diplomata John Negroponte, ex-representante dos EUA na ONU e atual embaixador no Iraque, para dirigir a recém-criada Diretoria Nacional de Inteligência.
A decisão surpreendeu. Negroponte, um diplomata de carreira, não faz parte da seleta comunidade de inteligência dos EUA. Mas está em linha com a tentativa do governo de, neste segundo mandato, melhorar a qualidade da "inteligência humana" -aquela obtida por agentes de campo e não por satélites- e buscar compreender os outros países.
Ao anunciar sua escolha, Bush afirmou que Negroponte tem "conhecimento das necessidades de inteligência global". "A inteligência é nossa primeira frente de defesa", disse. "John vai assegurar que todos aqueles cuja tarefa é defender os EUA tenham as informações de que precisam para tomar as decisões corretas."
Segundo uma fonte no governo citada pela agência de notícias Associated Press, no entanto, a primeira escolha do presidente foi o ex-diretor da CIA Robert Gates, que recusou o convite. Outros foram convidados e também recusaram, disse a AP, porque a autoridade do posto não está claramente definida. O chefe de gabinete de Bush, Andy Card, negou ter havido dificuldade.
Se confirmado pelo Senado, Negroponte, 65, terá autoridade sobre todas as 15 agências de informações do governo americano, o que inclui controlar seu orçamento, afirmou Bush. Seu vice será o general Mike Hayden, diretor da Agência de Segurança Nacional desde 1999.

Unidade
O cargo de diretor nacional de inteligência foi criado depois de a comissão encarregada de avaliar as falhas americanas que viabilizaram o 11 de Setembro concluir, no ano passado, que falta comunicação entre as diferentes agências de informação do governo.
"Se vamos deter os terroristas antes que ataquem, temos de assegurar que as agências trabalhem unidas", disse Bush.
O presidente disse que Negroponte será sua principal ligação com as agências e o primeiro a lhe passar informações. Seu gabinete, porém, ficará fora da Casa Branca -o que, segundo Bush, deve assegurar-lhe independência. Durante a discussão que se seguiu ao 11 de Setembro, funcionários da CIA (Agência Central de Inteligência) disseram ter havido pressão para que entregassem relatórios dando sustento ao argumento do governo de que o Iraque ameaçava a segurança mundial.
Dono de uma extensa carreira diplomática, Negroponte deixa a Embaixada dos EUA em Bagdá para assumir o cargo. Ele assumira o posto em julho passado, quando os EUA dissolveram a autoridade provisória da coalizão e empossaram o governo interino. Antes, representara o país na ONU e ocupara postos diplomáticos na Ásia, na América Latina e na Europa. Entre 1987 e 1989, chegou a trabalhar como sub-assistente do presidente Ronald Reagan [1981-1989] para questões de segurança nacional.
As principais críticas a seu nome remontam ao período em que foi embaixador em Honduras, quando é acusado de ter ignorado denúncias de violações dos direitos humanos no país. Um grupo de familiares das vítimas do 11 de Setembro também colocou em xeque a experiência do diplomata no terreno da espionagem.
Caso confirmado, Negroponte afirmou que pretende "reformar a comunidade de inteligência para que ela atenda melhor às necessidades do país no século 21".
"Fornecer inteligência objetiva no momento certo para o presidente, o Congresso, os departamentos e agências e para nossos serviços militares é uma tarefa essencial para o país", disse.


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