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Para Alencastro, atitude brasileira é estranha
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
É "estranha" a atitude amistosa
da diplomacia brasileira em relação à Síria num momento em que
se intensificam as pressões internacionais para que as tropas sírias
deixem o Líbano e Damasco ajude na estabilização da região.
A análise é de Luiz Felipe de
Alencastro, professor titular de
história do Brasil da Universidade
de Paris-Sorbonne e autor de "O
Trato dos Viventes" (2000).
Folha - Em 2003, o chanceler Celso Amorim foi ao Oriente Médio,
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, e não visitou Israel. Agora,
embora a visita sirva para acertar
uma reunião entre países árabes e
sul-americanos, ele faz outra viagem à região e, de novo, deixa Israel fora do roteiro. Como o sr. vê a
atitude da diplomacia brasileira?
Luiz Felipe de Alencastro - Se o
chanceler não tem nenhuma visita a Israel já marcada [a assessoria
de imprensa do Itamaraty disse à
Folha que não há planos nesse
sentido], trata-se de uma atitude
estranha da diplomacia brasileira.
Após morte de [Iasser] Arafat [líder palestino morto recentemente], a situação mudou nos territórios palestinos, e não seria impossível visitar autoridades palestinas
e israelenses na mesma viagem.
Além disso, os EUA têm buscado facilitar as negociações entre
os palestinos e Israel e pressionar
a Síria a ajudar na estabilização da
região. Com tudo isso, há um começo de desmilitarização nos territórios palestinos. Embora compreensível, pois o objetivo da viagem é estreitar relações com Estados árabes, a atitude da diplomacia do Brasil é, portanto, esquisita.
Folha - Amorim declarou que é
preciso ouvir o que Damasco tem a
dizer e manteve sua viagem à Síria.
Como o sr. analisa o modo como a
diplomacia brasileira lida com a
questão síria?
Alencastro - O modo como o Itamaraty trata a questão síria também é estranho, pois o Brasil não
apoiou, no ano passado, a resolução da ONU que pede a saída da
Síria do Líbano. Há 14 mil soldados sírios no Líbano. A situação
vem-se prolongando e incomoda
os países da região.
Como as negociações entre palestinos e israelenses parecem estar em via de serem retomadas, a
questão da presença síria no Líbano se tornou, novamente, um assunto importante. Se o atentado
contra o premiê [Rafik] Hariri foi
cometido pelos sírios com a intenção de impedir que ele conquistasse apoio à sua frente contra
a presença síria no Líbano, o tiro
saiu pela culatra, já que ela se fortaleceu após a morte de Hariri.
Nesse contexto, quando observamos as duas atitudes do governo brasileiro, chegamos à conclusão de que a posição da diplomacia brasileira é muito estranha.
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