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Ação da Novartis por patente na Índia provoca protestos
Resultado de julgamento pode afetar a produção de genéricos, afirmam ONGs
Gigante farmacêutica argumenta que restrições locais a patenteamento de remédios prejudicam pesquisa de novas drogas
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A briga da gigante farmacêutica suíça Novartis pelo patenteamento de uma droga contra
o câncer na Índia gerou uma
onda de protestos na Europa e
na Ásia nos últimos dias.
Organizações não-governamentais do setor de saúde
apontam que a multinacional
poderá prejudicar o acesso a
tratamento em países em desenvolvimento caso consiga
derrubar na Justiça indiana um
dispositivo da legislação local
que facilita a produção de medicamentos genéricos, que são
mais baratos.
Farmácia
A Índia é considerada a "farmácia" dos países pobres e
abastece organizações humanitárias, como a francesa Médicos Sem Fronteiras, que compra do país 80% das drogas contra a Aids que distribui gratuitamente no mundo.
Cerca de 9.000 pedidos de
patente estão para ser avaliados pelo governo indiano e o resultado do processo da multinacional poderá influenciar as
decisões.
O julgamento de ação da Novartis, que ocorre em Chennai,
no sul da Índia, começou na última quinta-feira e deve prosseguir nesta semana.
Segundo Ellen "T Hoen, coordenadora da campanha pelo
acesso a medicamentos essenciais da Médicos Sem Fronteiras, há temores quanto ao empenho do governo indiano na
defesa da lei.
"Os grupos que protegem pacientes com câncer solicitaram
que sejam enviados o principal
advogado do país (um especialista em questões da Constituição indiana)", afirmou Hoen à
Folha. Por enquanto, apenas
um defensor do Estado atua no
tribunal, informou, ao lado de
um advogado de grupos de pacientes com câncer.
A MSF afirma que já foram
reunidas mais de 300 mil assinaturas em um abaixo-assinado mundial para que a empresa
desista do processo. Entre as
assinaturas estão as de diretores do programa de Aids brasileiro, Mariângela Simão e Carlos Passarelli, ao lado de autoridades como o presidente do
Fundo Global contra a Aids,
Michel Kazatchkine.
"Acreditamos que esse é processo é nocivo porque reduz a
possibilidade de produção de
remédios protegidos por patentes. O Brasil pode ser afetado a longo prazo, porque com a
entrada de novos medicamentos (patenteados e cada vez
mais caros), talvez precise dos
genéricos indianos", disse Passarelli, vice-diretor.
A Novartis contesta a legislação indiana que permite apenas o patenteamento de medicamentos que sejam considerados uma inovação. Ou seja,
uma nova molécula pode obter
patente no país, mas não variações de um mesmo remédio.
Em 2005 o governo indiano
adotou uma Lei de Patentes.
Mas negou a patente da droga
Glivec da Novartis, contra a
leucemia e outros tipos de câncer, por entender que não se
tratava de uma inovação.
Atualmente, segundo os Médicos sem Fronteiras, o tratamento com o genérico indiano
sai por US$ 200 mensais por
paciente. No Brasil, onde é patenteado, segundo o laboratório, o governo brasileiro, que
fornece a droga, tem custo de
R$ 4.500 mensais (US$ 2.250)
por paciente.
Outro lado
Em nota divulgada no fim de
janeiro, a Novartis informou
que a lei indiana "não visa garantir o acesso ao medicamento, uma vez que 99% dos pacientes tratados com o Glivec
no país recebem o medicamento de forma gratuita, fornecido
pela Novartis".
"Na realidade, o acesso sustentável a medicamentos em
países em desenvolvimento é
complexo e exige muito mais
do que a disponibilização de
produtos genéricos, pois estes,
individualmente, não resolvem
o problema", afirma ainda a
empresa.
Em novo comunicado, que
foi emitido na semana passada,
a empresa destacou também
que o acesso aos medicamentos
inovadores somente é possível
"com a efetiva proteção às patentes, que garantem os investimentos sustentáveis em pesquisa". Apontou também a Novartis que "a lei de patentes indiana contraria acordos internacionais" de comércio e que
36 países deram patente ao Glivec.
Por fim, o laboratório destacou que não irá prejudicar outros países. "Os acordos internacionais autorizam a licença
compulsória (à revelia do laboratório) em situações de emergência pública."
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